A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) compreende que a gravidez na adolescência é um problema grave, que demanda um olhar transdisciplinar, políticas públicas efetivas e programas educativos e preventivos que devem perpassar uma rede de atenção e cuidado que começa já na infância – com a presença de pediatras – se entrelaça com a família e com a escola e tem na informação um elemento chave. Afinal, pesquisas nacionais e mundiais já evidenciam que quanto mais bem informados são os adolescentes, mais eles postergam a iniciação sexual, valorizam o respeito ao próximo e buscam projetos de vida.
A partir desse entendimento e de um olhar profundo para o tema, lançamos, por meio do Departamento Científico de Adolescência, o documento científico Abstinência sexual na Adolescência: o que a ciência evidencia como método de escolha para prevenção de gravidez na adolescência com elementos que se opõem à proposta do Ministério da Família e Direitos Humanos que defende a abstinência sexual como método eletivo para prevenção da gravidez na adolescência e outras situações de risco à saúde sexual e reprodutiva.
No documento, a SBP reitera o posicionamento da Sociedade Americana de Medicina do Adolescente que aponta para as falhas científicas e éticas da indicação da abstinência sexual. E, além disso, evoca a abordagem preconizada pelo Sistema Único de Saúde e respaldado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pelo Ministério da Saúde e pela FEBRASGO (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) – também defendida por nós.
A abordagem em questão fala do direito que adolescentes e jovens possuem quanto à importância de conhecer seu próprio corpo e receber informações e cuidados adequados à saúde reprodutiva para prevenir uma gravidez não planejada e obter orientações sobre planejamento familiar e prevenção de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).
Compreendemos que a educação sexual integrada e compreensiva faz parte da promoção do bem-estar dos adolescentes e jovens, promovendo o comportamento sexual responsável, o respeito ao próximo, a igualdade e equidade de gênero e a defesa contra violência sexual incestuosa e outras violências e abusos.
O pediatra e a SBP
Esse entendimento, inclusive, já norteia as ações que a SBP promove, conforme citamos no documento. Acreditamos que a educação é um dos fatores de prevenção mais eficazes e que deve ser abordada tanto no meio familiar, quanto na escola e, claro, na consulta com o pediatra.
Vale lembrar que a SBP incluiu a Medicina do Adolescente como uma de suas áreas de atuação e assumiu a responsabilidade de fornecer apoio e orientação aos pediatras que se dedicam à esta faixa etária, a partir de princípios éticos e orientações cientificamente reconhecidas internacionalmente e amplamente discutidas entre especialistas de todo o mundo.
Reforçamos aqui a inclusão de pediatras para atender crianças, adolescentes e suas famílias na atenção primária, secundária e terciária.
Números
A taxa de gestação na adolescência no Brasil é alta para a América Latina, com 400 mil casos/ ano e revela camadas profundas de lacunas e demandas que devem ser compreendidas sob um olhar multidisciplinar. A gravidez na adolescência é entendida pela Organização Mundial de Saúde como um grave problema de saúde pública e um fator predisponente para a perpetuação do ciclo de pobreza.É sob essa perspectiva que nos debruçamos sobre o tema.
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