| 09 de mARÇO de 2020
Segunda-feira
- Sem cortar direitos, Paraná se torna o segundo maior polo automotivo do Brasil
- Investimento não volta sem a reforma tributária, diz Coalizão Indústria
- Paulo Guedes diz que não quer anabolizar crescimento, relatam empresários
- Artigos: Brasileiros ricos também começam a tirar dinheiro do país
- Investimento estrangeiro pode cair até 15% por coronavírus, diz braço da ONU
- "Quais são os impostos do Brasil, quanto custam no seu bolso e para onde vai esse dinheiro
- Veja métodos contra crise de produtividade, de timer de cozinha a pasta de email
- Após fala de Bolsonaro, oposição quer reforçar ação contra acordo no Congresso
- Trump se recusa a descartar tarifas contra o Brasil, noticia NYT
- Após 7 anos em queda, diferença salarial de homens e mulheres aumenta no País
- Disparidade de gênero avança em profissões emergentes
- Licença estendida falha em manter mães no mercado de trabalho
- Mulheres relatam pressão no trabalho após gravidez
- Falam muito da criança, mas licença-maternidade também é essencial para a mãe, diz cofundadora do Nubank
- Empresas paranaenses aderem a princípios de empoderamento da ONU Mulheres por maior equidade de gênero
- No mundo e no Brasil, 90% têm preconceitos sexistas, diz ONU
- TRF-3 facilita isenção do Imposto de Renda para aposentado
- Novo Meu INSS muda consulta a pedido de aposentadoria
- Refis do IPVA: PR estuda forma pra inadimplentes pagarem imposto
- Crise política parece começar a interferir na cotação do real
- Bovespa desaba 10% e tem 1ª interrupção de negociações desde 2017
- Dólar dispara com tombo do petróleo
Dólar dispara sob impacto de “guerra do petróleo” e coronavírus
- Mercado prevê pela 1ª vez crescimento do PIB abaixo de 2% em 2020
- Petróleo abre em queda de mais de 30%, maior tombo desde a Guerra do Golfo
- Relatório da Cisco mostra aumento no investimento em segurança na nuvem e em tecnologias de automação para combater complexidade
- Alta do dólar traz custo extra de R$ 8 bilhões em peças importadas
- Exportações seguem ladeira abaixo apesar de dólar em alta
- Vendas em março apontam crescimento, diz Anfavea
- Venda de máquinas agrícolas e rodoviárias cresce em fevereiro
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Em 09/03/2020
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Fonte: BACEN
| | | | | Em 30 anos, o Paraná saiu da penúltima posição, responsável por apenas 0,5% da produção nacional, para ocupar o 2º lugar do país em produção de automóveis com 15% da fatia de veículos produzidos no ano
Em 2019 o Paraná fechou o ano como o segundo maior produtor de automóveis do Brasil, ultrapassando Minas Gerais pela primeira vez na história. A marca foi atingida com o total de 443 mil veículos produzidos no estado, representando assim uma fatia de 15% de toda produção nacional, superando os 10,7% de MG e ficando atrás apenas de São Paulo, o maior produtor com 40,10% dessa fatia.
Acordos fechados no Paraná foram essenciais para o crescimento
Os acordos fechados entre Sindicato, montadoras e Governo do Paraná garantiram um crescimento positivo, sem precarizar salários ou reduzir direitos dos trabalhadores
O desempenho positivo no Paraná, que o elevou ao patamar de segundo maior polo automotivo do Brasil, se deu principalmente pelos bons acordos fechados no estado, que estabeleceram uma relação tripartite positiva entre Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba, Montadoras e Governo do Paraná.
“Foram estes acordos negociados que possibilitaram o aumento da produtividade, ampliaram a capacidade das fábricas e, principalmente, garantiram a atração de novos modelos, como são os casos recentes do Kwid, na Renault, e o T-Cross, na Volkwagen, tornando nosso estado ainda mais competitivo. Isso tudo fez com que o Paraná alcançasse este bom resultado”, destacou Sérgio Butka, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba.
Estes acordos fechados também garantiram um aumento significativo na qualidade da mão de obra dos metalúrgicos no Estado, o que também ampliou e melhorou a produtividade dos trabalhadores, garantindo não só o aumento no número de veículos produzidos, mas também um novo folego na economia do estado:
“Para se ter uma ideia da dimensão da contribuição que os acordos tiveram no desempenho positivo que o Paraná vem tendo no Brasil podemos olhar os acordos de PLR nas montadoras de veículos aqui da Grande Curitiba. Eles foram os maiores do Brasil e com eles foram injetados R$329 milhões na economia do Paraná. Ou seja, contribuímos não só na atração destes novos modelos de veículos e no aumento da produtividade, mas também no reaquecimento da economia do estado, colocando dinheiro novamente para circular entre a população em um momento decisivo para a retomada do crescimento”, destacou Butka.
“O mais importante: com estes resultados fica comprovado que é possível crescer sem precarizar direitos trabalhistas. É graças aos Acordos com os trabalhadores, empresários e Estado que conseguimos avançar não só em produção, mas em conquistas para todos. Sem dúvidas, se insistirmos nessa base, será possível crescer ainda mais nos próximos anos”, finalizou o presidente.
Série histórica
Desde os anos 1990 observa-se uma desconcentração da produção de autoveículos no país, na ocasião SP e mais três estados concentravam toda a produção do Brasil, sendo 74,80% apenas em território paulista. Em poucos anos a situação mudou e a produção se dividiu por 9 estados.
São Paulo passou a representar menos da metade dos veículos fabricados no país (46,60%) em 2017 e em 2019 reduziu ainda mais sua participação para 40,10%.
Já o Paraná dá um salto exponencial, passando de apenas 0,5% de participação em 1990 para 11,60% em 2017, 12,40% em 2018 e os atuais 15% em 2019.
| Bem Paraná | | | | Grupo, que apoia política econômica, diz que PIB de 2019 foi "o possível" na conjuntura atual
Dois dias após a divulgação do PIB de 1,1% em 2019, a Coalizão da Indústria, grupo que concentra importantes setores industriais brasileiros, reforçou em entrevista apoio à política econômica do governo Jair Bolsonaro (sem partido). Eles defenderam, porém, agilidade na tramitação da reforma tributária para destravar investimentos.
O grupo avalia que o desempenho da economia em 2019, que mostrou investimentos despencando no fim do ano, foi "o possível" na conjuntura atual e que as reformas terão impacto apenas no longo prazo. Defenderam, porém, que a mudança nos impostos pode trazer alívio já em 2020.
"A reforma tributária tem que ser resolvida com a maior rapidez possível. Na nossa visão, ainda no primeiro semestre", disse o presidente do IABr, entidade que reúne a indústria siderúrgica, Marco Polo de Mello Lopes, em entrevista coletiva no Rio, antes de reunião do grupo com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
Além das siderúrgicas, a Coalizão pela Indústria inclui os setores automotivo, químico, tėxtil, de cimento, brinquedos, construção, plásticos, máquinas e equipamentos e eletroeletrônicos, entre outros. Foi criado às vésperas do segundo turno da eleição de 2018 para ser um canal de interlocução com o governo.
A avaliação do grupo é que as incertezas em relação à reforma tributária paralisam os investimentos. "Quem pensa em investir, precisa calcular quanto vai pagar em impostos daqui a cinco anos", argumentou José Velloso, que preside a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos).
Eles apoiam as propostas que estão em discussão no Congresso —as PECs 45 e 110— pelas quais já vêm se articulando junto aos parlamentares, e questionam sinais de que o governo tentaria aprovar um texto com mudanças mais simples.
"Vamos transmitir ao governo a nossa visão de que não cabe colocar uma energia monumental em uma mudança que não seja profunda, não seja completa" , disse Lopes, avaliando que já há convergência nas duas casas legislativas em relação aos temas.
O grupo elogiou a abertura para interlocução com o Ministério da Economia e minimizou o resultado do PIB de 2019, alegando que o governo vem tocando pautas estruturais, cujos resultados serão sentidos só no longo prazo.
"A agenda da competitividade, a agenda da microeconomia é fundamental", defendeu o presidente da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil), Fernando Pimentel. Ele diz esperar para 2020 alta entre 1,5% e 2% no PIB, já descontando o efeito negativo de 0,5 ponto percentual da crise provocada pelo surto de coronavírus.
A entrevista ocorreu um dia depois de visita de Bolsonaro à Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo), evento que gerou críticas pela falta de representação industrial. Os setores reunidos na Coalizão pela Indústria são responsáveis, segundo eles, 65% do PIB industrial do país e 30 milhões de empregos diretos e indiretos.
Assim como os empresários reunidos na Fiesp na quinta (5), ressaltaram apoio ao governo - para o presidente da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), José Carlos Martins, "um governo que pensa um Brasil melhor".
Eles minimizaram os atritos entre Executivo e Legislativo, que motiva a convocação de passeatas em apoio ao presidente e contra o Congresso no próximo dia 15. Na visão do grupo, trata-se de um novo "O que a gente vê é que as coisas andam", disse Martins.
Como exemplo, citaram a aprovação da reforma da Previdência, da lei da liberdade econômica, a realização de concessões, o controle da inflação, entre outros. Ainda assim, avaliam, a má qualidade do emprego e a demora na mudança previdenciária contribuíram para segurar a economia em 2019.
Os setores representados na coalização têm sentido de maneiras diferentes o impacto da desvalorização cambial —a indústria química, por exemplo, é beneficiada pelo aumento da competitividade— mas o grupo espera que o dólar se estabilize para garantir maior previsibilidade aos negócios.
A avaliação é que, com os juros mais baixos, o real se estabilizará em patamares mais baixos que os atuais, mas mais altos do que em governos anteriores. "Será um dólar mais realista do que era na época da especulação [financeira]", disse Velloso.
As lideranças do grupo defenderam que as instituições brasileiras são fortes e coibiram quaisquer arroubos autoritários de um grupo político que vem fomentando ataques a outros poderes e à imprensa.
"As instituições são tão fortes e definidas que não vemos riscos", afirmou o presidente da CBIC. "Tenho certeza de que, se houver qualquer coisa de autoritarismo, não há chance de prosperar."
| Folha de S.Paulo ( publicado em 06-03-2020) | | | | Na Fiesp, ministro falou que não quer copiar ex-presidente argentino
Metabolismo A reunião de Paulo Guedes e Bolsonaro com cerca de 40 empresários na Fiesp na quinta (5) ainda repercutiu nas conversas dos representantes das companhias neste final de semana. Segundo relatos de quem participou do encontro, ao falar do PIB de 1,1% de 2019, Guedes disse que não quer que o Brasil tenha crescimento anabolizado como tentou Mauricio Macri na Argentina. A fala foi interpretada por alguns como um pedido de paciência e por outros como figura de linguagem.
Música O discurso de Paulo Guedes foi um esforço em demonstrar apreço por crescimento sustentável, na opinião de alguns dos empresários presentes, que ainda neste domingo (8) reiteravam, empolgados, que as satisfações dadas pelo ministro os encheu de esperanças.
Companhia Além de Guedes, Bolsonaro levou mais gente ao encontro com empresários na Fiesp na quinta, como o ministro da Casa Civil, Braga Netto, e o presidente da Embratur, Gilson Machado. Mas a presença do advogado-geral da União, André Mendonça, chamou a atenção.
PIB privado Segundo um dos empresários participantes, a presença de Mendonça fez o encontro parecer um reunião de empresa privada, em que o diretor jurídico costuma acompanhar.
| Folha de S.Paulo | | | | Após 'outro ano desapontador', clientes 'forçados a olhar para o exterior' buscam refúgio financeiro em Nova York e Miami
O noticiário do PIB ganhou títulos como 'Brasil cresce no menor ritmo em três anos", no Wall Street Journal, apontando "outro ano desapontador".
Antes, a Bloomberg noticiou que "Escritórios familiares que servem brasileiros ricos estão contratando em Nova York" (acima), formando equipes para buscar "alternativas de investimento" para os clientes "forçados a olhar para o exterior".
O movimento resulta da "riqueza crescente", com o salto de 21% no total de recursos brasileiros sob gestão financeira em 2019, para US$ 1,3 trilhão, e das "baixas taxas de juros" pagas agora no país. É o que "impulsiona a expansão para Nova York", para escritórios como Tera e BW, este "do clã Moreira Salles".
O site Brazil Journal acrescentou depois a Avenue Securities, de Miami, criada por um brasileiro que argumenta que "a geografia engana: são 200 milhões de pessoas e um país enorme, mas na hora de alocar o dinheiro falta ativo, e a renda variável do planeta acontece nos EUA".
Nelson de Sá - Jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.
| Folha de S.Paulo | | | | Órgão de comércio da organização aponta atraso em novos projetos e em fusões e aquisições
O surto e a disseminação do coronavírus pelo mundo podem reduzir em até 15% o fluxo global de investimento direto estrangeiro (IED) neste ano, de acordo com um relatório extraordinário da Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento).
O documento divulgado neste domingo (8) analisou dois cenários de impacto nos fluxos globais de IED. O primeiro leva em consideração o controle da disseminação do vírus no primeiro semestre deste ano. Neste caso, a queda nos investimentos pode ser de 5%.
No cenário mais pessimista, caso a propagação do coronavírus continue ao longo de todo 2020, a expectativa é que o tombo seja de 15%.
As projeções foram feitas na comparação com as previsões anteriores para 2020, que era de crescimento de até 5%, o que é considerado pela Unctad apenas uma alta marginal. Elas consideram também que o PIB (Produto Interno Bruto) global deve ser reduzido em 0,5% ou 1,5%.
Anúncios de investimentos em novos projetos devem ser atrasados, mas não cancelados em definitivo. Também devem ser adiados processos de fusões e aquisições.
Segundo a Unctad, dados de fevereiro já mostram uma queda significativa de aquisições de empresas por estrangeiros em todo o mundo. As operações concluídas movimentaram US$ 10 bilhões (R$ 46 bilhões), abaixo da faixa de US$ 40 bilhões (R$ 184 bilhões) a US$ 50 bilhões (R$ 230 bilhões) registrada em um fevereiro normal.
O motivo na retração dos investimentos, segundo o órgão da ONU, deve ser o choque global de demanda, que até a publicação do relatório era mais expressivo na China —o país colocou regiões inteiras em quarentena. No sábado, a Itália seguiu a medida chinesa de controle do vírus e também impôs restrições de circulação em parte de seu território.
A medida reduz o consumo e também a circulação de pessoas, com impacto direto sobre o turismo e companhias aéreas, setores que são considerados de gasto cíclico.
O documento aponta também um impacto significativo em países e indústrias que são dependentes das cadeias globais de valor, que tem como exemplo mais expressivo o setor automotivo.
Segundo o órgão, a crise causada pelo coronavírus pode acelerar uma tendência em andamento de redução de conexões nas cadeias globais de valor, em um desejo de companhias de tornar sua rede de suprimentos mais estável.
A Unctad aponta o grande número de empresas que já fizeram revisão em suas projeções de receitas e lucro por causa do coronavírus —ajustes anunciados até o momento foram considerados conservadores pelo órgão da ONU.
A revisão nas previsões de lucro foi maior entre montadoras (-44%), seguida de companhias aéreas (-42%) e pelos setores de energia e commodities (ambos preveem lucrar 13% menos).
O problema, segundo o órgão, é que a lucros menores têm efeito de longo prazo sobre investimentos.
De acordo com o relatório, na maior parte dos países mais afetados pelo coronavírus, o reinvestimento de lucros responde por 40% de toda a entrada de investimento direto estrangeiro.
| Folha de S. Paulo ( publicado em 08-03-2020) | | | | O brasileiro paga – entre impostos, taxas e contribuições – 73 tipos de tributos federais, estaduais e municipais. Juntos, eles abasteceram os cofres públicos com R$ 2,39 trilhões em 2018, o que dá uma média de R$ 11,5 mil por habitante e equivale a pouco mais de 35% do Produto Interno Bruto (PIB) – o que significa que os governos abocanham mais de um terço de todas as riquezas produzidas pelo país.
A Gazeta do Povo elencou quais são os principais tributos do Brasil, quanto eles custam para o contribuinte e para onde vai o dinheiro arrecadado com eles.
Tributos, impostos, taxas e contribuições: entenda as diferenças
Tributos: são “pagamentos” obrigatórios que cidadãos e empresas têm de fazer ao Estado para custear as atividades governamentais. Os tributos podem ser impostos, contribuições e taxas.
Impostos: são os tributos cuja arrecadação não tem destino determinado. Ou seja, o Estado pode usar os recursos na área que achar melhor – muito embora uma série de leis tenha engessado o uso desses recursos ao estabelecer gastos mínimos obrigatórios para todos os entes federativos em determinadas áreas.
Por não ter destino determinado, o dinheiro arrecadado com o Imposto de Renda (IR), por exemplo, pode ser usado tanto para pagar salários de servidores como para investir em obras. Os impostos têm outra característica: ele eventualmente podem ser partilhados entre os entes governamentais, se isso estiver previsto em lei. Assim, a União, por exemplo, pode dividir a arrecadação de impostos com estados e municípios. O IR e o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) são casos de tributos partilhados pela União com outros entes.
Contribuições: são tributos cuja verba arrecadada tem destino determinado. É o caso, por exemplo, da Cide (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico). Conhecida como imposto dos combustíveis, a Cide só pode ser gasta na melhoria da infraestrutura do setor de transportes, em projetos ambientais relacionados ao setor de petróleo e gás, e para subsidiar o setor de combustíveis.
Em geral, as contribuições não são partilhadas entre os entes da federação. “Por isso o governo federal parou de criar impostos e começou a criar as contribuições”, explica João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT). Mas há exceções, e a própria Cide é uma delas: parte de sua arrecadação vai para estados e municípios.
Taxas: são os tributos que têm destino determinado para um serviço específico. É uma classificação bem mais restrita que a das contribuições. Por exemplo: a taxa de lixo só pode ser usada para a coleta e tratamento de resíduos urbanos.
Quais são as leis que definem as regras de cobrança dos tributos
A Constituição Federal disciplina a criação de tributos, quais são os entes da federação responsáveis por arrecadá-los e como deve ser feita distribuição dos recursos obtidos com eles. Além disso, há uma série de leis complementares federais para regulamentar a cobrança de impostos, contribuições e taxas. Estados e municípios também têm regras próprias para os impostos de sua responsabilidade.
IMPOSTO DE RENDA (IR)
O Imposto de Renda (IR) se divide em duas categorias: o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ).
Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF)
O Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) incide sobre a renda e os salários de contribuintes residentes no país ou no exterior que recebam rendimentos no Brasil. É um tributo cobrado de cidadãos, daí o nome “pessoa física”.
Atualmente, o IRPF tem uma faixa de isenção. Não pagam o imposto pessoas que receberam ao longo do ano até R$ 1.903,98.
- Há quatro faixas de contribuição do imposto:
- ganhos mensais de R$ 1.903,99 a R$ 2.826,65, com alíquota de 7,5% sobre os rendimentos;
- rendimentos de R$ 2.826,66 a R$ 3.751,05, com alíquota de 15%;
- ganhos de R$ 3.751,06 até R$ 4.664,68, com alíquota de 22,5%; e
- rendimentos acima de R$ 4.664,68, com alíquota de 27,5%.
- As alíquotas são progressivas. Ou seja, o contribuinte que ganha R$ 4,7 mil mensais, por exemplo, não paga 27,5% sobre esse valor inteiro, mas apenas sobre a parcela que exceder os R$ 4.664,68. A alíquota de 22,5% só é cobrada na faixa salarial que excede R$ 3.751,05 da remuneração. E assim por diante.
O reajuste das faixas de contribuição do Imposto de Renda sobre as quais incidem as alíquotas é de responsabilidade do governo. Mas isso não é feito automaticamente. Segundo o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), a defasagem da tabela do IRPF, acumulada ao longo de vários governos, desde 1996, já chega a 103,87%. Isso significa que, se as faixas tivessem sido reajustadas pela inflação, estariam isentos hoje contribuintes que ganham até R$ 3.881,65 mensais; mas hoje a isenção é para rendimentos de apenas R$ 1.903,98 por mês.
Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ)
O Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) é cobrado de empresas e microempreendedores individuais (as pessoas jurídicas). O IRPJ é cobrado com base no lucro – que pode ser real, presumido ou arbitrado, dependendo das regulamentações em vigência. A alíquota do IRPJ é de 15% sobre o lucro apurado, com adicional de 10% sobre a parcela do lucro que exceder R$ 20 mil por mês.
Para onde vai o dinheiro arrecadado com o IRPF e o IRPJ
Segundo a Constituição, a União fica com 51% da arrecadação do Imposto de Renda (tanto do IRPF quanto do IRPJ). E tem de obrigatoriamente repassar 49% para estados e municípios. Esse porcentual de 49% é dividido da seguinte maneira:
24,5% vão para o Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
- 21,5% ficam com o Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE).
- 3% são destinados para programas de financiamento ao setor produtivo das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, por intermédio de suas instituições financeiras de caráter regional. A legislação assegura ainda que metade dos recursos repassados ao Nordeste, dentro desses 3%, deve ser destinada a investimentos na região do semiárido.
IMPOSTO SOBRE PRODUTOS INDUSTRIALIZADOS (IPI)
O IPI incide sobre produtos industrializados nacionais e estrangeiros. É pago pela empresa importadora ou fabricante da mercadoria. As alíquotas, em geral, variam entre 0% e 30% do valor do produto (a diferença depende do tipo de mercadoria).
A União fica com 51% da arrecadação geral do IPI e tem de repassar os 49% restantes nas seguintes proporções:
- 24,5% ao Fundo de Participação dos Municípios (FPM).
- 21,5% ao Fundo de Participação dos Estados e do Distrito Federal (FPE).
- 3% para programas de financiamento ao setor produtivo das regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste, por intermédio de suas instituições financeiras de caráter regional. A legislação assegura ainda que metade dos recursos repassados ao Nordeste, dentro desses 3%, deve ser destinada a investimentos no semiárido.
Além disso, uma parcela de 10% da arrecadação do IPI incidente sobre produtos exportados tem de ser destinada ao estado exportador dessas mercadorias.
IMPOSTO SOBRE OPERAÇÕES FINANCEIRAS (IOF)
O IOF é um imposto que incide sobre operações financeiras com cartões de crédito, de câmbio, de seguros, de títulos e de fundos imobiliários. É cobrado de pessoas físicas e jurídicas; e quem tem a obrigação de cobrar são as instituições que realizam as operações. As alíquotas do IOF são as seguintes:
- 6,38% nas compras internacionais no cartão de crédito ou no cartão internacional pré-pago.
- 1,1% na compra e venda de moedas estrangeiras.
- 0,38% nos empréstimos e financiamentos, mais uma porcentagem de 0,0082% por dia, a depender do prazo de pagamento.
A União não é obrigada por lei a dividir o IOF com estados e municípios. Ou seja, a arrecadação com o Imposto sobre Operações Financeiras fica integralmente com a União.
IMPOSTO DE IMPORTAÇÃO (II)
O Imposto de Importação incide sobre produtos importados por empresas ou pessoas (por meio dos Correios ou quando viajam ao exterior e trazem mercadorias estrangeiras, por exemplo). As alíquotas são variáveis, dependendo do tipo do produto. São fixadas com base na Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, que tem alíquotas entre 0% e 35%.
Além de ser um instrumento de arrecadação, o Imposto de Importação também pode ser usado como instrumento de política industrial, para proteger produtos brasileiros da concorrência externa. Ou seja, o governo eleva o tributo para dificultar a entrada de mercadorias estrangeiras.
O Imposto de Importação fica integralmente com a União.
IMPOSTO DE EXPORTAÇÃO (IE)
O imposto incide sobre determinados produtos exportados. A alíquota atualmente está em 30%, podendo ser reduzida ou aumentada pela Câmara de Comércio Exterior. Não pode ser superior a 150%.
A arrecadação do Imposto de Exportação é exclusiva da União.
IMPOSTO SOBRE A PROPRIEDADE TERRITORIAL RURAL (ITR)
O ITR tem de ser pago anualmente por proprietários (ou por quem tenha o domínio ou posse) de imóveis localizados na zona rural. Para desestimular os grandes latifúndios improdutivos, as alíquotas são maiores para propriedades de maior área e com baixo grau de utilização produtiva. Elas variam de 0,03% a 20% do valor da propriedade.
Do total arrecadado com o ITR, 50% ficam com a União e a outra metade vai para os municípios onde os imóveis rurais estão situados.
CONTRIBUIÇÃO DE INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO (CIDE)
Também conhecida como Cide-Combustíveis, a contribuição foi criada pela Lei 10.336/2001. É cobrada sobre a importação e venda de petróleo e seus derivados (gasolina e diesel), gás natural e álcool combustível. Por esse motivo, embora seja uma contribuição, é conhecida como imposto dos combustíveis.
O governo federal cobra uma alíquota de até R$ 0,10 por litro de combustível. Podem ser cobrados até R$ 0,05 por litro de diesel, mas desde 2018 o valor não é cobrado por determinação governamental. No caso do etanol, a contribuição não é cobrada, segundo Giuseppe Salamone, vice-presidente do SindiCombustíveis no Paraná. Na prática, a variação da alíquota é usada para atenuar os efeitos de altas na cotação do petróleo no mercado internacional sobre os preços dos combustíveis.
Do total arrecadado com a Cide, 20% ficam com o governo federal por meio do mecanismo da Desvinculação de Receitas da União (DRU) – ou seja, esses recursos podem ser usados livremente pelo governo federal. Do restante, 29% são destinados aos estados e municípios e e 51% têm de ser aplicados da seguinte forma:
- pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, gás natural e seus derivados;
- financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; e
- financiamento de programas de infraestrutura de transportes.
A legislação também determina que, dentro dos 29% destinados aos estados, a distribuição tem de ser feita obedecendo aos seguintes critérios:
- 40% proporcionalmente à extensão da malha viária federal e estadual pavimentada existente em cada estado e no Distrito Federal, conforme estatísticas elaboradas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT);
- 30% proporcionalmente ao consumo de cada estado e do Distrito Federal dos combustíveis a que a Cide se aplica, conforme estatísticas elaboradas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP);
- 20% proporcionalmente à população de cada estado e do Distrito Federal, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); e
- 10% distribuídos em parcelas iguais entre os estados e o Distrito Federal.
Do montante dos recursos que cabem a cada estado, 25% têm de ser redistribuídos aos municípios para serem aplicados no financiamento de programas de infraestrutura e transportes. Da parcela destinada aos municípios, 50% têm de ser usados de acordo com os mesmos critérios de regulamentação da distribuição de recursos para estados e os outros 50% proporcionalmente à população de cada cidade.
PROGRAMA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL (PIS)
PIS é a contribuição paga por empresas para custear o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e benefícios como o abono salarial e o seguro-desemprego. Inicialmente, os depósitos das empresas eram feitos diretamente em contas individuais do PIS em nome dos trabalhadores, mas isso não ocorre desde 1988.
A alíquota do PIS varia conforme dois regimes de incidência. No regime de incidência cumulativa, a contribuição é de 0,65% sobre a receita operacional da empresa, sem deduções em relação a custos, despesas e encargos. O PIS no regime de incidência não cumulativa é de 1,65% sobre a receita operacional da pessoa jurídica já com o desconto de custos, despesas e encargos. Os recursos do PIS são usados e geridos pela União, por meio da Caixa Econômica Federal (caso do PIS).
CONTRIBUIÇÃO PARA FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL (COFINS)
A Cofins é uma contribuição cobrada sobre o faturamento das empresas. Destina-se ao financiamento da seguridade social (aposentadorias, serviços de saúde pública e outros programas de assistência social). É cobrada junto com o PIS, por isso também corriqueiramente é chamada de PIS/Cofins. São tributos diferentes, mas tem a mesma base de cálculo, que é o faturamento das empresas, por isso acabam sendo confundidos e colocados como “tributos gêmeos”, apesar das alíquotas diferentes, explica João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação.
A alíquota da Cofins varia conforme dois regimes de incidência, do mesmo modo que o PIS. No regime de incidência cumulativa, a contribuição é de 3% sobre a receita operacional da pessoa jurídica, sem deduções em relação a custos, despesas e encargos. No regime de incidência não cumulativa, a contribuição é de 7,6% sobre a receita operacional da pessoa jurídica já com o desconto de custos, despesas e encargos.
Os recursos da Cofins são integralmente gerenciados pela União.
CONTRIBUIÇÃO SOCIAL SOBRE O LUCRO LÍQUIDO (CSLL)
A CSLL é uma contribuição que incide sobre o lucro das empresas. Por regra geral, a alíquota é de 9% sobre o lucro da maioria das empresas e de 15% do lucro das instituições financeiras e das empresas de seguros privados e de capitalização. Mas há exceções a essas alíquotas – como, por exemplo, nas empresas incluídas no regime de tributação do Simples.
O dinheiro arrecadado com a CSLL é integralmente administrado pela União e tem de ser investido no financiamento da seguridade social (aposentadorias, serviços de saúde pública e outros programas de assistência social).
Principal imposto estadual, o ICMS é cobrado sobre a compra de qualquer produto e sobre a prestação de serviços (como transportes e comunicações). As alíquotas, que incidem sobre o preço pago pelo consumidor, variam de estado para estado e também dependendo do tipo de mercadoria e serviço. Em geral, variam de 7% a 35%.
Segundo Luciano Bernart, presidente executivo da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst) e doutorando em Direito Tributário pela Universidade de Munique (Alemanha), a variação das alíquotas segue determinações dos convênios de ICMS do Conselho de Política Fazendária (Confaz) – colegiado dos secretários estaduais de Fazenda, com reuniões presididas pelo ministro da Economia.
Nas operações comerciais entre estados diferentes, a arrecadação do imposto, por regra, fica com a unidade federativa de origem/produção da mercadoria ou serviço. A exceção é a arrecadação do ICMS com derivados de petróleo e energia elétrica, que pertence ao estado consumidor.
Do total arrecadado com o ICMS, 75% ficam com o estado e 25% vão para os municípios desse mesmo estado.
A arrecadação do ICMS não está vinculada a um gasto específico, mas a legislação determina que os estados têm de destinar ao menos 12% da receita com impostos para a saúde e 25% para a educação.
IMPOSTO SOBRE PROPRIEDADE DE VEÍCULOS AUTOMOTORES (IPVA)
O IPVA é um imposto cobrado anualmente. A alíquota varia de estado para estado, de 1% a 6% do valor do veículo, segundo a tabela Fipe, reajustada todos os anos. A arrecadação é dividida meio a meio entre o estado e o município onde o veículo foi emplacado.
A arrecadação do IPVA não está vinculada a um gasto específico, mas os estados têm de destinar 12% da receita total de impostos para a saúde e 25% para a educação.
IMPOSTO SOBRE A TRANSMISSÃO CAUSA MORTIS E DOAÇÃO (ITCMD)
O ITCMD é cobrado de pessoas físicas e jurídicas que recebam bens como doação ou como herança em virtude da morte do antigo proprietário. As alíquotas do imposto variam de estado para estado, em faixas de 1% a 8%. A base de cálculo sobre o qual as alíquotas incidem é o valor venal do imóvel ou o valor financeiro de outros bens herdados ou recebidos por doação.
Assim como os demais impostos estaduais, a receita com ITCMD não precisa ser destinada a um gasto específico – mas, da soma dos impostos, 12% têm de ir para a saúde e 25% para a educação.
IMPOSTOS MUNICIPAIS*
*O Distrito Federal cobra os mesmos impostos que os municípios.
Carnê do IPTU de Curitiba. Foto: César Brustolim/SMCS
IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS (ISS)
O ISS incide sobre o valor de serviços consumidos pelo contribuinte. As alíquotas são definidas pelos municípios e podem variar de 2% a 5% sobre o valor do serviço. O dinheiro arrecadado com o ISS é exclusivamente municipal. A prefeitura não precisa investir a arrecadação do ISS em nenhuma área específica – mas a legislação a obriga a destinar um mínimo de 15% de toda arrecadação com impostos municipais para saúde e 25% para a educação.
IMPOSTO PREDIAL E TERRITORIAL URBANO (IPTU)
O IPTU é um imposto cobrado anualmente pelas prefeituras que incide sobre a propriedade de imóveis edificados e terrenos urbanos. As alíquotas podem variar em cada cidade até um máximo de 15% sobre o valor venal do imóvel (avaliação feita pelos municípios que indica o valor de cada propriedade). O Estatuto das Cidades permite que o IPTU possa ser progressivo no tempo. Ou seja, permite-se que a cada ano a alíquota seja elevada como forma de estimular a utilização de imóveis desocupados ou a edificação em terrenos vagos.
As prefeituras não são obrigadas a investir os recursos arrecadados com o IPTU em uma área específica, mas parte da receita total com impostos têm de ser destinada a saúde e educação.
IMPOSTO DE TRANSMISSÃO DE BENS IMÓVEIS (ITBI)
O ITBI é o imposto pago quando alguém compra um imóvel. A alíquota máxima permitida é de 3% sobre o valor da transação imobiliária ou sobre o valor venal do imóvel (a mesma base de cálculo do IPTU). Há uma discussão jurídica sobre qual dos dois valores deve ser cobrado. O presidente executivo da Academia Brasileira de Direito Constitucional, Luciano Bernart, explica que é um imposto cobrado por atos “intervivos” – ou seja, por pessoas vivas. No caso de transmissão da propriedade de um imóvel em decorrência da morte do dono, é cobrado o ITCMD, de competência dos estados.
Não há um destino específico para a arrecadação do ITBI, mas a receita total de impostos têm de obedecer aos porcentuais mínimos de investimento em saúde e educação.
Este conteúdo foi produzido com a colaboração de:
Felipe Leonidio, advogado tributarista do escritório Vinhas e Redenschi Advogados;
João Eloi Olenike, presidente do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação;
Luciano Bernart, presidente executivo da Academia Brasileira de Direito Constitucional (ABDConst), doutorando em Direito Tributário pela Universidade de Munique (Alemanha);
Giuseppe Salamone, vice-presidente do SindiCombustíveis, no Paraná."
Leia mais em: https://www.gazetadopovo.com.br/republica/impostos-do-brasil/
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| Gazeta do Povo ( publicado em 07-03-2020) | | | | Executivos descrevem recursos analógicos e digitais que usam para fazer melhor o trabalho e tentar superar a tendência de procrastinação
Será que o humilde timer de cozinha pode ajudar a acabar com a crise na produtividade?
Carl Cedeström, professor numa escola de administração de empresas, acredita que sim. Depois de experimentar e abandonar diversos recursos de alta tecnologia, ele aponta para a Técnica Pomodoro, completamente analógica, como responsável por ajudá-lo a fazer melhor o seu trabalho.
Esse sistema simples, desenvolvido na década de 1980 por Francesco Cirillo, leva o nome de um timer de cozinha em forma de tomate que Cirillo usava para ajudá-lo a estudar. A ideia é usá-lo para marcar um prazo de 25 minutos para uma tarefa, fazer uma pausa de 5 minutos, trabalhar mais 25 minutos, e assim por diante.
“Eu uso o sistema há anos, e é o método mais revolucionário que já experimentei”, disse Cederström, professor associado na Universidade de Estocolmo.
O sistema é particularmente útil nos espaços de trabalho aberto usados hoje em dia, disse Cederström. Eles foram projetados para ajudar os trabalhadores em sua socialização e comunicação —mas as distrações são muitas.
“A grande ironia é que falamos sobre o trabalho tomar completamente as nossas vidas, mas uma das maiores fontes de estresse associado ao trabalho é que na verdade não conseguimos trabalhar.”
Mesmo quando conseguimos remover todas as distrações, continuamos a ter de encarar nosso maior inimigo: nós mesmos.
Avanços tecnológicos prometiam ajudar a elevar o nível mundial de produtividade, mas isso não aconteceu, até agora. Temos todos os recursos e tecnologia de que necessitamos para nos tornarmos mais produtivos, mas eles ajudam de fato?
Os chamados “hacks” e recursos de produtividade oferecem remédios para nossa problemática tendência a procrastinar. Em uma ponta ficam produtos como o Kitchen Safe. A pessoa coloca seu celular em uma caixa plástica e estipula um horário. A única forma de recuperar o telefone antes do horário estipulado é quebrar a caixa.
O problema de recursos como esse é que seu objetivo não é melhorar a produtividade de um trabalhador, e sim fazer com que a pessoa use mais o aplicativo, diz Laszlo Bock, presidente-executivo da empresa de tecnologia Humu e ex-vice-presidente de operações de recursos humanos no Google.
As empresas que criam esses produtos têm seus resultados medidos pelos investidores em termos de engajamento, e não da produtividade que propiciam aos usuários.
“As pessoas adoram botões e alavancas. Há muita coisa que cria a sensação de que estão trabalhando, mas na verdade não passa de ruído e distração”, disse Bock.
Não há retorno mensurável sobre o investimento em produtividade, quando são usados recursos como esses, diz Bock. Muitos deles dependem de notificações e oferecem reforços positivos para levar o usuário a verificá-los regularmente, gerando uma dose de dopamina no cérebro. O risco é que a pessoa passe mais tempo gerenciando o recurso em questão do que fazendo trabalho produtivo.
O que os líderes empresariais do futuro podem aprender com os especialistas atuais em como fazer o trabalho necessário? Perguntamos a cinco usuários de recursos e “hacks” de produtividade o que ajuda e o que não ajuda.
CARL CEDERSTRÖM, PROFESSOR ASSOCIADO DA UNIVERSIDADE DE ESTOCOLMO E AUTOR DE “DESPERATELY SEEKING SELF-IMPROVEMENT”
O que funciona: A Técnica Pomodoro (sistema em que um timer é usado para alternar minutos de trabalho e pausa), para me ajudar a manter o foco. E o app de processamento de texto Scrivener, para escrever, manter diários e agendas
O que não funciona: O Flowstate, um app de escrita que apaga seu trabalho caso você pare por mais de alguns segundos. É realmente estressante. Às vezes gosto de ir devagar
LASZLO BOCK, PRESIDENTE-EXECUTIVO E UM DOS FUNDADORES DA HUMU E EX-VICE-PRESIDENTE SÊNIOR DE RECURSOS HUMANOS NO GOOGLE; AUTOR DE “WORK RULES!”
O que funciona: Pastas para e-mails. Se eu não responder a uma mensagem em 12 horas, ela vai para uma das pastas. Parece polido informar as pessoas de que a mensagem foi recebida
O que não funciona: Um colega tentou registrar o uso de seu tempo com o Toggl, mas exigia esforço demais. Outro tentou o Getting Things Done, mas tinha de perder tempo demais fazendo listas
MARCELA SAPONE, PRESIDENTE-EXECUTIVA E FUNDADORA DA HELLO ALFRED
O que funciona: Um recurso que uso diariamente é o Google Keep, um serviço de anotações —gosto da interface simples, em forma de lista. Ele também pode ser sincronizado em todos os meus aparelhos e é copiado direto para meu email e o Google Docs, que eu e minha equipe usamos
O que não funciona: Experimentei os apps Asana e Trello, mas não funcionaram. São boas plataformas para projetos multifuncionais, mas eram complicados demais para o que eu precisava
JOSH BAYLISS, PRESIDENTE-EXECUTIVO DA VIRGIN GROUP
O que funciona: Reuniões mais curtas, deixar emails sem resposta imediata e guardar tempo para me exercitar
O que não funciona: Alguns anos atrás, adotamos uma política de “desintoxicação digital” —o servidor de emails era desligado, duas horas por semana. Alguns aceitaram a ideia com mais entusiasmo que outros. Agora adaptamos essa política para que seja menos rigorosa, mas ainda assim incentive as equipes a abandonar as telas e passar mais tempo se comunicando pessoalmente
POCKET SUN, FUNDADORA E SÓCIA DIRETORA DA SOGAL VENTURES
O que funciona: O superapp chinês WeChat, no qual as pessoas fazem tudo, de conversar em texto e vídeo com suas famílias, amigos e colegas a manter comunidades online, transferir dinheiro ou documentos, ou reservar voos e hotéis
O que não funciona: Software de administração de projetos não funcionou para mim, até agora. Continuo a anotar coisas em papel e no app de anotações de meu celular
| Folha de S. Paulo ( publicado em 07-03-2020) | | | | Senador afirma que presidente tenta comprar silêncio do Legislativo com pagamento de emendas
Diante do pedido feito pelo presidente Jair Bolsonaro para que a população participe das manifestações agendadas para 15 de março, parlamentares da oposição decidiram reforçar a ação contra o acordo feito entre governo e Congresso na semana passada em torno da execução do Orçamento.
Na última semana, após um entendimento entre Palácio do Planalto e parlamentares, o Congresso manteve vetos de Bolsonaro ao chamado Orçamento impositivo, que ampliaria em R$ 30 bilhões a fatia de recursos sob poder de decisão de deputados e senadores.
Como segunda parte da tratativa, o governo enviou projetos ao Congresso para que ao menos metade desse valor fique sob o poder do Legislativo, permitindo que o Executivo retome o restante.
No sábado (7), Bolsonaro voltou a provocar desconforto em outros Poderes após pedir que a população participe das manifestações do dia 15.
Ele afirmou, durante escala em Boa Vista para a viagem aos Estados Unidos, que os atos querem mostrar que quem dá o norte para o Brasil é a população e que quem tem medo das ruas não serve para ser político.
Ele disse que as manifestações não são contra o Legislativo nem contra o Supremo.
"É um movimento espontâneo, e o político que tem medo de movimento de rua não serve para ser político" disse. "Então participem, não é um movimento contra o Congresso, contra o Judiciário. É um movimento pró-Brasil."
As manifestações são organizadas por ativistas conservadores e têm bandeiras como a defesa do governo e das Forças Armadas, além de fortes críticas ao Congresso. Nas redes, há algumas convocações de caráter autoritário, pedindo o fim do Legislativo e do Supremo Tribunal Federal.
No mês passado, Bolsonaro compartilhou com amigos um vídeo com convocações para a manifestação, o que gerou críticas de membros do Legislativo e do Executivo.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) disse estar assustado com o fato de o presidente do Congresso, o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), não ter se manifestado publicamente após as afirmações de Bolsonaro no sábado.
Na avaliação do parlamentar de oposição, o presidente tenta comprar o silêncio do Legislativo ao fazer acordo para liberar recursos aos deputados e senadores. Para ele, a derrubada dos projetos seria uma resposta às afirmações de Bolsonaro.
"Fica parecendo que Bolsonaro manda projetos com R$ 20 bilhões para o Congresso e, assim, pode fazer o que quiser", disse.
Pela proposta do governo federal, dos R$ 30 bilhões em disputa, R$ 15 bilhões ficariam com os parlamentares -- R$ 5 bilhões com o Senado e R$ 10 com a Câmara.
Na prática, se os projetos não forem aprovados, os congressistas deixarão de ganhar poder sobre esses recursos.
O senador Paulo Paim (PT-RS) afirmou que a oposição vai trabalhar para obstruir a votação dos projetos orçamentários prevista para esta terça-feira (10). Ele afirma que o acordo fere a independência entre os Poderes.
"Um legisla, o outro executa e o terceiro julga. Se cada um ficar no seu lugar, com certeza diminui a crise. Sem negociatas", disse.
A declaração de Bolsonaro sobre os protestos desagradou os presidentes da Câmara, do Senado e do STF (Supremo Tribunal Federal).
Nos bastidores, Rodrigo Maia (DEM-RJ), Alcolumbre e Dias Toffoli, manifestaram a aliados descontentamento e indignação com o gesto de Bolsonaro.
Na avaliação dos chefes do Congresso e do Judiciário, o recado passado pelo Palácio do Planalto nos últimos dias foi de que Bolsonaro não se manifestaria após a polêmica do vídeo que compartilhou via WhatsApp convocando para os atos.
Mensagem parecida foi passada pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) a Toffoli e a Maia.
Por isso, as frases de Bolsonaro no sábado irritaram os comandantes do Legislativo e do Judiciário.
Eles discutem a possibilidade de uma resposta pública conjunta ao Planalto. Avaliam, porém, que não se pode cair na "pilha" do presidente e responder à atitude do mandatário incisivamente.
Iniciar um bate-boca com Bolsonaro agora em virtude da convocação, avalia a cúpula do Congresso, poderia apenas aumentar a mobilização.
| Folha de S.Paulo | | | | Fox News registra, sobre Venezuela, que 'Brasil tem sido o aliado mais forte da América contra a ditadura comunista'
O jantar de Trump com Bolsonaro não apresentou resultado prático, com cobertura sem destaque nos EUA. No título no site do New York Times (acima), "Trump dá boas-vindas a Bolsonaro, mas deixa tarifas sobre a mesa". Ele o "recebeu na sua propriedade na Flórida em meio a tensão não resolvida sobre possível tributação de aço e ferro".
Do texto: "Questionado sobre tarifas, Trump inicialmente se esquivou da pergunta, dizendo apenas: 'A amizade provavelmente está mais forte agora do que nunca'. Pressionado se renunciaria às tarifas, disse: 'Não faço promessas'".
No despacho da agência Reuters, reproduzido mundo afora, "Trump: Nenhuma promessa sobre tarifas de aço e alumínio do Brasil".
O NYT anotou a presença de um dos filhos do brasileiro no jantar, acrescentando que "Eduardo Bolsonaro tem feito questão de visitar Mar-a-Lago, mais de uma vez, para se aproximar dos principais funcionários e aliados do governo Trump".
No título ainda mais vago do Wall Street Journal, "Trump, Bolsonaro discutem Venezuela e comércio". Eles, pela nota divulgada, "reafirmaram sua aliança estratégica". No relato do WSJ, "Bolsonaro expressa frequentemente admiração por Trump" e "adotou estilo semelhante, através de mensagens combativas no Twitter".
O canal governista Fox News fez entradas no sábado, uma delas anotando que os dois teriam "conversado sobre tudo, de comércio, infraestrutura e, mais importante, Venezuela", encerrando: "O Brasil tem sido o aliado mais forte da América contra a ditadura comunista".
Associated Press, CNN e outros não deram atenção ao brasileiro, destacando apenas a resposta de Trump de que não está preopado "de jeito nenhum" com não deu atenção a chegada do coronavírus à capital, Washington, presente inclusive numa conferência de que ele participou.
Mas a Reuters anotou que, segundo um funcionário do governo Trump, a presença da gigante chinesa Huawei no Brasil "pode impedir uma cooperação mais forte".
Nelson de Sá - Jornalista, cobre mídia e política na Folha desde a eleição de 1989.
| Folha de S. Paulo ( publicado em 08-03-2020) | | | | Natália*, 40 anos e Felipe*, 42 anos, são professores, têm formação semelhante e exercem funções semelhantes, mas ao longo de 20 anos de carreira, Natália sempre ganhou menos que o marido. O caso mais marcante foi há dois anos, quando ela fez uma entrevista de emprego para uma escola particular, em São Carlos (SP), e recebeu a proposta salarial de R$ 800 por mês para lecionar seis aulas de 40 minutos cada, por manhã. “Na semana seguinte, a escola conversou com o meu marido e ofereceu R$ 1,7 mil pelo mesmo trabalho”, diz Natália.
O caso de Natália e Felipe não é isolado. Historicamente, no Brasil, homens ganham mais que mulheres. Após sete anos de quedas consecutivas, em 2019, houve um aumento da diferença dos salários de mulheres e homens de 9,2% em relação a 2018.
Em 2011, homens com ensino superior ganhavam, em média, R$ 3.058, enquanto as mulheres com o mesmo nível de formação ganhavam, em média, R$ 1.865, o que representa uma diferença de salário de 63,98%.
Em 2012, essa diferença começou a cair, passando para 61,78%. Em 2018, chegou a ser 44,7%, com homens ganhando, em média, R$ 3.752 e, mulheres, R$ 2.593. Em 2019, a diferença aumentou e passou a ser de 47,24%, com homens ganhando em média R$ 3.946 e, mulheres, R$ 2.680.
Os dados foram compilados para a Agência Brasil pela Quero Bolsa, plataforma de bolsas e vagas para o ensino superior, com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
“Muitas vezes não é só o currículo que conta, a capacidade, o profissionalismo, mas o simples fato de ser mulher. Se é mulher, você não é contratada porque vai dar problema, como já ouvi muitas vezes”, diz Natália. Ela conta que certa vez, uma escola de Jaú (SP) pediu que ela se comprometesse a não engravidar para não comprometer o ano letivo enquanto lecionasse na instituição. Ela recusou a vaga.
Carreiras
Segundo o pesquisador da área de Economia Aplicada do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE) Daniel Duque, exista uma desvalorização de profissões que são majoritariamente ocupadas por mulheres. “Mais mulheres são formadas em profissões como licenciatura, pedagogia, enfermagem, odontologia, em relação a homens. E, mais homens são formados em cursos como engenharia. Parte desse diferencial de homens e mulheres é atribuído a essas diferentes escolhas de cursos” diz, e acrescenta, “Provavelmente, o maior fator foi uma maior desigualdade de retorno entre essas profissões”.
Os dados do Caged mostram que, no ano passado, entre as dez carreiras de ensino superior com maior geração de postos de trabalho, as mulheres recebem, em média, salários menores em sete delas. A maior desvantagem foi encontrada no cargo de analista de negócios, com homens ganhando R$ 5.334 e mulheres, R$ 4.303, o equivalente a 80,67% do salário deles.
Segundo Duque, ao pagar menos às mulheres, o Brasil perde economicamente. “Quando se nega a mulheres oportunidades equivalentes às dos homens no mercado, a gente abre mão de cérebros. Estamos deixando de incorporar no mercado de trabalho no Brasil mulheres que seriam extremamente talentosas”, diz. “Estamos perdendo força produtiva por desigualdade entre gêneros e isso vai impactar a produtividade agregada brasileira e nosso desenvolvimento”.
Mulheres estudam mais
Para o diretor de Inteligência Educacional da plataforma Quero Bolsa, Pedro Balerine, o aumento do número de pessoas com ensino superior fez com que as diferenças salariais entre as profissões e entre os gêneros ficasse mais evidente no ano passado.
“A oferta de ensino superior aumentou bastante de 2012 para cá. As pessoas [que se formaram] estão entrando no mercado de trabalho. Infelizmente, o Brasil ainda está aquém em igualdade salarial entre homens e mulheres”, diz Balerine.
Essa discrepância, segundo o diretor, é injusta: “As mulheres estudam mais, fazem mais pós-graduação, mais mestrado, mais doutorado, não faz o menor sentido ter essa discrepância. Ela é injustiça”.
Os dados copilados pela Quero Bolsa mostram que, apesar da maioria das carreiras pagarem salários menores às mulheres, elas são 57% do total de estudantes no ensino superior. São também maioria na iniciação científica, representando 59,71% do total dos pesquisadores. Na pós-graduação, 54% do total de estudantes são mulheres.
| Bem Paraná ( publicado em 08-03-2020) | | | | Ascensão da área tecnológica pode agravar abismo, diz fundador do LinkedIn
Um novo obstáculo paira sobre as mulheres que vêm rolando a pedra ladeira acima para equiparar seus direitos e condições aos dos homens, sob pena de atropelá-las. Das oito áreas profissionais que mais crescem no mundo, seis contratam mais homens do que mulheres.
O quadro se agrava se consideradas apenas as carreiras relacionadas à tecnologia pura, cuja remuneração e demanda tendem a aumentar mais rápido que as demais, mas nas quais as mulheres são, em média, só 20% dos profissionais.
E, se nada for feito para interromper o curso, a tendência é que tal abismo de gênero se alargue, como ocorre há pelo menos 15 anos, mostra levantamento do LinkedIn.
“Olhando para os empregos emergentes —os que serão os mais qualificados no futuro, com maiores salários, que darão maior controle na carreira— sabemos que, a menos que façamos algo para mudar, eles serão predominantemente ocupados por homens”, alerta Allen Blue.
Blue tem observado a tendência há anos como vice-presidente para gerenciamento de produtos do LinkedIn, que ajudou a fundar em 2002.
A plataforma elabora relatórios a respeito do futuro do trabalho para o Fórum Econômico Mundial desde 2016, e desde então Blue têm visto a disparidade de gênero emergir como um problema que requer rápida resolução.
“Engraçado que em 2016 falávamos de robôs, de um futuro sem trabalho, e desde então o ponto de vista do fórum veio mudando e se tornando mais pragmático”, disse ele em entrevista à Folha durante o encontro anual da entidade em Davos no fim de janeiro. Segundo o fórum, a total paridade de gênero no mundo demorará ao menos 99,5 anos.
Com 675 milhões de usuários, o LinkedIn se tornou fonte de dados importante para mapear tendências de contratação pelo mundo. “Essas vagas abertas nos permitem observar quais as profissões com maior demanda e quais novos tipos de cargos surgem.”
Embora haja variações entre países e regiões, aponta, todas assistem ao rápido crescimento da demanda por profissionais capacitados em tecnologia ou para atuar nas profissões surgidas a partir dela.
Quem, afinal, há 30 anos diria que “gestor de mídias sociais” seria a carreira em que as vagas mais aumentam no Brasil, com avanço médio anual no país de 122% de 2015 a 2019?
Há variação, também, em relação às habilidades requisitadas, que vão de qualificações específicas ligadas à tecnologia pura (como no campo da inteligência artificial, por exemplo) a habilidades de relacionamento humano, como em apoio ao cliente.
“Mas os profissionais mais cobiçados ainda estão em carreiras tecnológicas puras. E se você olhar o top 10 onde quer que seja, ele vai ser dominado por engenheiros, cientistas de dados e outros profissionais do tipo”, diz. No Brasil, das 15 carreiras mapeadas como emergentes pela plataforma, 11 são ligadas à tecnologia da informação.
O problema, aponta Blue, é que é exatamente nessas carreiras com alta demanda e remuneração em crescimento que as mulheres estão mais sub-representadas. O exemplo mais extremo levantado pelo LinkedIn é o da área de computação em nuvem, na qual as mulheres são apenas 14% no mundo —e 5% no Brasil.
Blue levanta hipóteses do que alimenta essa lacuna, não examinadas no estudo. A primeira, diz, é o gargalo na etapa de formação.
“Veja os formandos em ciências da computação, entre os quais as mulheres são 20%, enquanto em outras ciências duras, como a física, estamos próximos da paridade de gêneros em mestrados e doutorados”, diz. “Simplesmente não há mulheres suficientes estudando computação.”
Entra aí o segundo problema: faltam modelos que inspirem as mulheres a trilhar esse caminho. “Teremos que criar um sistema que incentive as mulheres a estudarem essas coisas, e para isso precisamos poder ver mulheres em posições de liderança”, diz.
“Também achamos que as empresas têm que firmar um compromisso com a paridade de gênero, um compromisso público, porque se não esses modelos não aparecerão.”
E aí surge o terceiro problema, que está nas redes de relacionamento excessivamente homogêneas —um departamento 100% masculino em que a rede de contatos profissionais dos funcionários seja majoritariamente de homens tende a contratar... homens.
Isso fica evidente na pesquisa quando se vê que a sub-representação persiste mesmo quando há profissionais mulheres capacitadas para as vagas (o caso da ciência de dados, em que há 31% de mulheres no mercado global, mas elas são apenas 25% do contingente empregado, é um deles).
Por isso Blue sugere que as empresas mudem políticas de contratação, ativamente quebrando padrões, e que as pessoas diversifiquem suas redes.
O executivo faz um mea culpa pelo LinkedIn, afirmando que a empresa recentemente passou a desenvolver mecanismos para atenuar o hermetismo das redes após concluir que, na plataforma, uma pessoa que mora em uma região afluente, estudou em uma boa escola e teve um emprego em uma empresa relevante tem 12 vezes mais chance de alcançar suas metas profissionais do que uma que não teve essas oportunidades.
“Se você está em um sistema de redes homogêneas, é mais difícil rompê-lo”, afirma.
“Uma engenheira de computação em nuvem no Brasil, por exemplo, onde só 5% de quem trabalha com computação em nuvem é mulher, terá dificuldade em construir uma rede na qual chegue até mim, por exemplo, que tenho uma rede predominantemente masculina, majoritariamente branca, nos EUA”, pondera.
“E se esse padrão não muda, se avançamos e o padrão de haver poucas mulheres se mantém, isso se perpetua.”
A empresa vem também trabalhando com prefeituras e outros governos e entidades pelo mundo para mapear problemas do tipo.
“Precisaremos corrigir essa deficiência no gargalo da formação e assegurar que as meninas escolham essas carreiras, que elas possam ver que há outras mulheres trabalhando nessas carreiras”, diz ele.
A própria lacuna, para o executivo, deveria funcionar como motor. “Quando falamos dessas habilidades em ascensão, não é sequer possível preencher todas as vagas sem considerar homens, mulheres, pessoas com trajetórias não convencionais, todos.”
| Folha de S.Paulo | | | | Apenas 40% das que têm direito aproveitam benefício extra na maternidade
O casal Melissa, 39, e William Pereira, 37, enfrenta situações opostas no mercado de trabalho desde que descobriu, no início do ano passado, que teria sua segunda filha.
Alice nasceu em setembro, e William está, agora, no início do terceiro mês de uma licença remunerada de 26 semanas —cerca de seis meses— para cuidar da menina.
“Quando veio o comunicado da empresa, foi até um susto. A licença longa para homens é um benefício incomum no país”, diz o analista financeiro, ao comentar o anúncio da política de sua empregadora, a fabricante de bebidas Diageo, em meados de 2019.
No setor formal privado brasileiro, os homens têm direito a cinco dias corridos de licença após o nascimento de um filho, e as mulheres, a quatro meses. Empresas que fazem parte de um programa especial do governo oferecem 20 dias e seis meses, respectivamente, em troca de um desconto tributário. Benefícios extras, que não se enquadram nesses casos, são pagos integralmente pelo empregador.
Melissa, que teve licença de quatro meses somada a um de férias após suas duas gestações, estava aliviada com o novo direito de William. Quando a também analista financeira voltou a trabalhar depois do nascimento de Isadora, há seis anos, o marido não estava em casa para revezar com ela.
Mas, então, veio o segundo susto do casal, este negativo. Melissa foi demitida em uma segunda (2 de março), três dias após reassumir o cargo que ocupava havia dez anos em uma metalúrgica brasileira, cujo nome o casal preferiu não revelar.
A lei garante aos pais estabilidade durante a gravidez e a licença, mas não depois. “Foi uma notícia triste. Não esperávamos”, afirma William. “Ao menos, posso cuidar das meninas, enquanto ela busca outro trabalho tranquila.”
A história de Melissa e William ilustra achados de pesquisas que investigam a efetividade de políticas voltadas à família após o nascimento dos filhos. Essas medidas se tornaram mais comuns, em parte, devido às comprovadas dificuldades que muitas mulheres enfrentam para se manter no mercado depois que se tornam mães. O problema é que nem todas as políticas surtem os efeitos esperados.
Um estudo novo mostra, por exemplo, que só quatro em cada dez mulheres com direito à licença-maternidade de seis meses no setor privado, no Brasil, aceitam o benefício.
Por trás do percentual reduzido, escondem-se diferenças marcantes. Entre mulheres com diploma universitário, 47% optam pelo benefício. Essa fatia cai para 30% entre as trabalhadoras que não concluíram o ensino médio.
O recorte feito por raça traz resultados parecidos: 43% das brancas, indígenas e amarelas aceitam estender a licença, mas somente 29% das pretas e pardas tomam essa decisão.
Além da baixa adesão, a política tem efeito nulo sobre a permanência das mulheres no mercado de trabalho depois da maternidade.
Um ano após o nascimento da criança, cerca de 20% das profissionais com direito ao benefício já deixaram seus empregos, por decisão própria ou porque foram desligadas. A fatia é idêntica à registrada entre mulheres que trabalhavam no mesmo conjunto de empresas, mas não tiveram direito à licença estendida por pouco tempo, devido à data de sua adoção.
“A participação das mulheres elegíveis só aumenta em relação às demais por um breve período durante e logo após a licença estendida”
Ela e Valdemar Pinho Neto, da Universidade de Chicago, são autores do estudo que chegou a essas conclusões. Seu objetivo era mensurar o impacto do programa “Empresa Cidadã”, que permitiu os afastamentos mais longos a partir de 2010, sobre o comportamento feminino.
Eles analisaram as movimentações, entre 2009 e 2015, de 31.590 mulheres contratadas formalmente por 18.878 empregadores que aderiram ao projeto —em sua maioria, empresas de grande porte.
A inclusão do ano anterior ao início do programa garantiu uma amostra de funcionárias que não tiveram a opção do benefício. Elas serviram como grupo de comparação às profissionais potencialmente beneficiadas.
Ao contrário da licença-maternidade regular de 120 dias —que, no Brasil, é compulsória—, o benefício dos dois meses extras é opcional. Os empregadores que aderem ao programa se comprometem a oferecê-lo, mas a mulher pode recusar a extensão. Isso também vale para os 15 dias extras oferecidos aos homens.
Defendidas como incentivo a um retorno mais tranquilo dos pais ao trabalho, licenças mais longas também beneficiam as crianças. A OMS (Organização Mundial da Saúde) recomenda aleitamento materno exclusivo por seis meses.
Estudos mostram que a proximidade da família e um ambiente com menor estresse contribuem para o desenvolvimento cognitivo e emocional dos bebês.
Esses aspectos positivos suscitam a pergunta: por que, então, 60% das mulheres brasileiras que têm direito ao afastamento com remuneração integral recusam a extensão?
A bancária Renata Isabel Tiso, 33, não tem resposta precisa, mas relata que, quando estava grávida da segunda filha, colegas do trabalho lhe recomendaram tirar só os quatro meses regulares, “que já estava bom”. Ela ignorou os conselhos porque tinha uma filha maior e sabia da importância dos cuidados nos primeiros meses de vida para a criança.
Para Cecilia, da FGV, que também é colunista da Folha, as normas sociais brasileiras ajudam a explicar a recusa elevada à licença estendida no país.
“No Brasil, a norma ainda é a mulher cuidar dos filhos e da casa. Então, no fundo, talvez a sociedade não aceite bem a licença-maternidade”, diz ela.
Dados da Pnad, do IBGE, mostram que, em 2015, 89,1% das mulheres de 25 a 44 ocupadas relatavam ter feito algum afazer doméstico na semana em que foram entrevistadas. Entre os homens com características comparáveis, essa parcela era de 56,5%.
Cecilia ressalta que o benefício mínimo de quatro meses no setor privado (no público, são 180 dias para todas as mulheres) é compulsório. Não há possibilidade de recusa por parte da empregada.
“Com a licença obrigatória, o Legislativo tenta induzir um maior equilíbrio social”, afirma a economista.
Mas dados e relatos indicam que, tanto no Brasil quanto em outros países, o equilíbrio entre os sexos no mercado de trabalho está longe de ser alcançado.
Muitas mulheres percebem mudança no comportamento de seus empregadores em relação a elas já durante a gestação. A professora Alessandra Lobo Oliveira Santos, 36, conta que recebeu duas advertências da direção da escola particular onde trabalhava quando estava grávida de Ian, hoje com cinco anos.
O motivo alegado foi sua ausência da sala de aula. Mas, segundo ela, isso era decorrência de complicações na gestação, que levaram os chefes a deixá-la sem nenhuma turma.
Dois dos seis meses de pausa aos quais Alessandra tinha direito foram usados para uma licença antecipada pois o bebê estava abaixo do peso. No fim dos 180 dias, ela resolveu pedir as contas. “Ele era do tamanho do meu antebraço, eu lembrava a pressão toda, e disse: ‘Não vou dar conta’”.
Formada em letras, a professora deixou o magistério e, hoje, trabalha como autônoma, com revisão e tradução de textos.
Alessandra é parte das estatísticas que mostram que a maternidade ainda tem um impacto grande na vida laboral das mulheres. Em 2015, segundo o IBGE, 36% das profissionais brasileiras empregadas, cujo filho menor tinha seis anos, reportavam fazer uma jornada superior a 35 horas semanais. Entre os trabalhadores homens, na mesma condição, esse percentual era 82,6%.
Outra diferença entre os dois sexos bastante documentada é a distância salarial, que começa pequena no início da carreira, vai aumentando com o tempo e, após o nascimento dos filhos, se torna considerável.
O pesquisador dinamarquês Henrik Kleven, da Universidade Princeton, é um estudioso desse fenômeno, chamado de penalidade salarial. Um estudo recente do economista e de quatro coautores investiga a magnitude e possíveis causas do impacto distinto da chegada dos filhos na remuneração de homens e mulheres.
Eles concluem que, nos países nórdicos, que têm políticas familiares mais generosas, a penalidade é mais baixa.
Na Suécia, onde as mães são menos afetadas, o salário delas é 27% menor dez anos após o nascimento de um filho ou de uma filha. Na Alemanha, a queda é de 61%. Os salários dos homens, de forma geral, não caem com a paternidade.
Outros estudos mostram que medidas focadas nos pais —como os incentivos da Suécia e da Noruega para que eles também tirem licenças longas— têm reflexos positivos sobre toda a família. O estresse materno cai, a saúde da criança aumenta, e a presença feminina no mercado sobe.
Mas, como mostram as conclusões de Kleven, essas políticas explicam apenas uma pequena parte das diferenças nas penalidades salariais entre os países. Segundo eles, as normas sociais —apontadas por Cecilia como possível causa da baixa adesão à licença estendida no Brasil— também estão por trás da distância entre Suécia e Alemanha.
Os estudiosos ressaltam que é difícil mensurar o impacto de diferenças culturais, mas apontam evidências de que, nos países onde há maior equilíbrio entre os sexos, a tendência a uma maior presença feminina no mercado de trabalho vem de gerações anteriores.
Além disso, eles identificam uma correlação interessante: nações onde a parcela da população que acredita que a mãe deve ficar em casa para cuidar dos filhos é grande, a penalidade salarial também tende a ser maior.
Duas profissionais e mães brasileiras que vivem na Suécia, ouvidas pela Folha, concordam que valores culturais contribuem para a maior equidade entre mulheres e homens no país europeu.
“Aqui, todos, do funcionário no nível mais baixo ao CEO [presidente executivo] da empresa, tiram licença. Isso contribui para que a mulher não seja prejudicada aos olhos do empregador em comparação ao homem”
Giulianne Trevisan, professora de educação física e mãe de um filho de um ano e cinco meses
A economista Gabriela Marcondes, cuja filha também nasceu na Suécia há quatro anos, ressalta que os partidos de esquerda do país defendem novos incentivos legais para criar um equilíbrio ainda maior entre homens e mulheres.
Hoje, embora pais e mães tenham direito a dividir o tempo máximo de 480 dias da licença familiar, a tendência, segundo ela, ainda é que as mulheres fiquem mais tempo com os filhos.
Giulianne diz que os incentivos à equidade na Suécia causam estranhamento nas famílias brasileiras que vão viver lá, levando alguns homens até a recusar períodos mais longos de afastamento quando nascem os filhos. “Acho que eles se sentem como as mulheres se sentem no Brasil”, afirma.
William, da Diageo, relata que foi exatamente isso que ocorreu com ele quando soube que a empresa, dona das marcas Johnnie Walker e Smirnoff, passaria a oferecer seis meses de licença remunerada a todos os seus funcionários, inclusive àqueles em relações homoafetivas.
“A gente se coloca no lugar das mulheres. A primeira coisa que vem à mente é o medo da demissão na volta”, diz. “Mas percebo uma mudança do mercado nessa direção de conscientizar a sociedade de que a obrigação de cuidar dos filhos é do pai e da mãe.”
| Folha de S. Paulo ( publicado em 08-03-2020) | | | | Casos vão de mudança de função, pressão para que peçam demissão a ordem para que carreguem peso
Alice Menda, 31, ganhou uma rosa no Dia da Mulher. Uma semana depois, uma carta de demissão. Sem justa causa, afirma.
“Aquele dia especial em que tantas empresas presenteiam suas funcionárias com flores e ressaltam, em discursos na maioria proferidos por homens, a importância de ter mulheres no time.”
Ela conta que dois meses antes havia sido chamada para coordenar uma área numa empresa de crédito.
A chefia ainda não sabia da gestação, então inicial. De repente, não servia mais. “Não havia uma reclamação, mas alegaram que o meu time estava reclamando que eu era rude.”
Afirma que saiu de lá tremendo. “Chorei na sala de reunião. Temi perder meu bebê.”
Há um ditado que diz ser preciso uma aldeia toda para criar uma criança. Histórias como as de Alice, contudo, revelam que muitos empregadores não estão dispostos a facilitar a vida de uma funcionária que gere uma vida.
Em relatos à Folha, mulheres falam sobre pressões que vão do rebaixamento na carreira à transferência para funções mais pesadas, como carregar caixas. Muitas das que resistem são despedidas assim que voltam da licença-maternidade de 120 dias garantida pela Constituição.
A estabilidade da gestante até o parto existe, mas não é absoluta, afirma a advogada trabalhista Bárbara Anacleto. Diz a Constituição que grávidas podem ser demitidas por justa causa, “ante o cometimento de falta grave”.
Se a dispensa for considerada ilegítima, a resposta seria um processo trabalhista pedindo indenização ou a volta ao emprego por pelo menos o tempo previsto até a licença da mãe.
Segundo Anacleto, não há vedação legal para que a demissão ocorra de bate-pronto depois. “Mas há entendimento no sentido de que a dispensa imediatamente após o término da licença tem caráter discriminatório, sendo passível de indenização.”
Em seu caso, diz Alice, a firma preferiu fazer um acordo e pagar meses adiantado para dispensá-la logo.
Há outras situações em que a trabalhadora se sente pressionada a não engravidar e, se o fizer, pedir ela mesma para ser mandada embora. Tem a do chefe que reuniu todas as mulheres da firma e criou uma “escala da gravidez”, para que ele só ficasse com uma funcionária ausente por vez. Se alguma engravidasse fora do rodízio, seria demitida.
E ainda a da assistente jurídica que auxiliava duas advogadas. Anunciou a vinda do neném e ouviu que até podia continuar trabalhando, mas que precisariam cada vez mais dela, a exigência só ia piorar. No fim, diz, já estavam com sua rescisão num envelopinho.
Outra: o patrão pediu à vendedora que não desse um pio sobre o filho que carregava no ventre. Já era gordinha mesmo, ninguém ia reparar. O homem temia que a clientela achasse que ela não daria conta de fechar o negócio, produtos para pets.
Priscila Lucena de Freitas, 32, queria fazer carreira em ciências da computação. Ia bem, o chefe começou a lhe confiar mais tarefas, até que um dia ela o avisou da gestação. A “confiança” nela esmoreceu; o ânimo dela, idem.
“Falava que, quando nascesse, não poderia contar comigo por culpa de emergências com a criança, que nesse casos sempre sobra para a mãe, não para o pai”, conta.
Quando deu à luz, pediu as contas. Um ano depois, voltou para a mesma empresa. “Fiquei sabendo que um estagiário estava recebendo o mesmo salário que o meu, que já era bacharel.”
A goiana Carla Giovana, 36, também engravidou, e não deu outra. “Fui deixada de lado em várias atividades.”
Integrava a equipe de recursos humanos de uma empresa. Parou de trabalhar num dia, a bolsa d’água estourou no seguinte. Estava com nove meses.
A chefe a chamou para conversar na sala assim que ela retornou à labuta. Diz que ouviu dela: “Engraçado… Não sei o que aconteceu com você. Antes, você era uma funcionária exemplar, eu confiava 100%. Agora que é mãe, está ruim de serviço, não é tão inteligente quanto era antes”.
Carla se sentiu pressionada a abandonar o posto. Mas justo ela, que lidava com recursos humanos, sabia de seus direitos. Se queriam ela fora, não abriria mão da multa rescisória. Acabou demitida. “Detalhe: éramos sete grávidas, e ela [a patroa] forçou acordo com quase todas.”
Decidiu não processar por achar muito difícil ganhar uma causa assim e temer retaliação. “Tenho medo de não arrumar outro emprego por causa de um processo trabalhista.”
Juliana Rocha, 26, era lojista num shopping na zona sul paulistana. Ouvia piadas o tempo todo, como sobre ter que vender muito para bancar o leite do bebê.
O estabelecimento fechou, as funcionárias tiveram que carregar caixas pesadas e móveis. Juliana questionou por que não contratavam uma empresa de mudanças. Acusaram-na de corpo mole.
A lei não permitia que o grupo, que tinha várias lojas na cidade, a despedisse. Ela foi enviada para outro shopping, a duas horas e meia de onde morava. E sim, havia opções mais próximas.
“Tinha que descer no meio do caminho e dormir na casa de parente porque não tinha mais ônibus para minha casa”, conta.
“Eu estava de oito meses.” Na volta da licença, superiores contavam o tempo que ela levava para tirar do peito o leite que alimentaria seu bebê mais tarde. Só podia ordenhar no horário do almoço.
Transferiram-na para outra filial da grife, loja de rua, com jornada de dez horas. Seu contrato, diz, era de seis horas. Nenhum acréscimo salarial.
A carta de demissão chegou com a justificativa de que também aquela loja fecharia. O lugar continua aberto até hoje. “Após minha saída, colegas comentaram que a dona não suportava olhar para minha cara de mãe cansada, não pegava bem com clientes, que eram de alto padrão.”
| Folha de S. Paulo ( publicado em 07-03-2020) | | | |
Cristina Junqueira precisou trabalhar quando teve a primeira filha e diz que mulher nenhuma merece isso
Na gestação e no nascimento da primogênita, Alice, a empresária Cristina Junqueira, 37, foi obrigada a dividir a maternidade. Na época, trabalhava numa casa alugada para criar uma fintech de futuro ainda incerto, o Nubank.
Não teve licença-maternidade. Cumpriu longas jornadas se revezando entre negociar com investidores e cuidar de um recém-nascido.
O empenho valeu. O Nubank é um sucesso, e a filha cresce bem. Mas seu lado mãe e mulher não tem orgulho. “Me dói, não vou mentir”, diz.
Em janeiro, grávida de 40 semanas, posou para a foto de capa da Forbes do Brasil. O relato de sua trajetória até o posto de vice-presidente do Nubank repercutiu entre mulheres nas redes sociais: “Disseram que dou esperança”.
Agora, ela está em casa, cuidando da segunda filha, Bella, que nasceu em 28 de janeiro.
“Eu queria a chance de viver isso de outro jeito: ter a licença-maternidade e ficar perto da bebê”, afirma.
A carreira na área financeira é competitiva. Em algum momento ter filhos foi um dilema? Quem me conhece desde a adolescência e a faculdade sabe que eu nunca quis ter filhos —olha que coisa maluca. Um pouco porque sempre fui focada na carreira. Não queria nem pensar em outra coisa. Mas porque considerava uma responsabilidade grande. Imaginava cenários e o que podia dar errado —e tanta coisa pode dar errado. Tinha medo de não dar conta.
Quando eu conheci o meu marido, ele já tinha sido casado e tinha dois filhos. Essa nova convivência me fez pensar: peraí, é muito gostoso isso. Mesmo assim, foi um processo demorado. Já estávamos juntos havia nove anos quando eu engravidei da Alice.
Tinha quantos anos? Estava fazendo 32 anos.
Muita coisa mudou? Sim. Quando engravidei, estávamos na casinha. Eu trabalhava muito. Não tinha dinheiro para nada. Era tudo apertado.
Eu lembro de estar com um barrigão, com oito, nove meses, e que já não tinha onde sentar ali. Lembro de tirar o micro-ondas da tomada porque a prioridade era energia para os desenvolvedores, que estavam trabalhando no aplicativo, num novo produto que a gente tinha de lançar.
Tudo estava ocupado —sala, cozinha, quartos. Cheguei a sonhar que entrava na casa, abria a porta do banheiro e tinha dois engenheiros trabalhando lá: um sentado no vaso e o outro no bidê.
Era um período turbulento. A gente tinha acabado de levantar a primeira rodada de investimentos, e eu tinha ido aos Estados Unidos, grávida de sete meses, para falar com investidores. Meu sócio levou papéis para eu assinar na maternidade.
Nesse contexto, quando a Alice nasceu, eu não consegui tirar um tempo para ficar com ela. Contei com a ajuda da minha mãe e da minha sogra, que se revezaram lá em casa para me dar uma força.
Alice nasceu na quarta-feira e, na segunda, eu estava trabalhando com os pontos da cesariana. Foi um período difícil. Eu não tinha equipe. Fazia tudo sozinha. As coisas não podiam parar.
E como você se sentia? Me doía muito, não vou negar. Às vezes, eu tento lembrar o que aconteceu, e não vem. É um período borrado na minha memória. Eu dormia muito pouco. Amamentei a Alice por três meses. Então, eu levantava de manhã, tirava leite com a bomba e ia para o escritório.
Na hora do almoço, ia para casa, tirava leite, amamentava e ia para o escritório. À tarde, voltava do escritório e cuidava dela. Se ela dormia às oito, eu ficava trabalhando até uma, duas, três da manhã. E acordava ela para dar de mamar.
Foram meses da minha vida que, sei lá, vivi uma espécie de experiência fora do corpo. Mas, com isso, fiz questão de criar uma rotina para estar com ela. Nunca tive babá. Era eu com ela, e eu e meu marido nos revezando para cuidar dela. Coloquei a Alice no berçário quando tinha uns quatro meses. Eu levava para o berçário, eu pegava no fim do dia. E até hoje é assim.
E como foi a decisão de ter o segundo filho, com tanto trabalho? Tem um pouco do relógio biológico, que começa apertar. E não é só pela minha idade —tenho 37—, mas pelo meu marido, que é dez anos mais velho. Chegou uma hora em que falamos: se quisermos outro, é agora. E eu queria a chance de viver isso de outro jeito: ter a licença-maternidade e ficar perto da bebê.
De quanto tempo é a licença? Meu plano é ficar os quatro meses, que é considerado, entre aspas, uma licença normal. Mas eu tenho flexibilidade. Posso voltar antes ou depois. Meu plano é tirar esse tempo para focar a família. Não é só cuidar da bebê. Quem tem dois filhos sabe que é preciso fazer a adaptação do primeiro.
Sentiu falta da licença-maternidade e a considera importante? A licença é fundamental para a saúde da mulher. Muita gente pensa apenas em questões como cuidar da criança e da amamentação. São importantes. Mas as pessoas esquecem o quão duro todo esse processo é para a mulher. Às vezes, a recuperação de um parto, mesmo que seja parto normal, é muito difícil.
Tem a questão hormonal, você fica com outro corpo. Pode estar com cicatrizes. Pode ter de tomar remédios. A licença é essencial até para a saúde mental, para você conseguir voltar realmente recuperada, consciente e coerente.
O que eu passei com a minha primeira filha nenhuma mulher deveria passar. Não é algo bonito, nem legal, nem tenho orgulho. É algo que eu tive de fazer —e não me arrependo. Eu não estaria aqui e o Nubank não estaria onde está.
O mundo financeiro é considerado machista. Como é manter uma carreira e ser mãe nesse ambiente? O contexto em que eu opero, desde que a minha filha nasceu, é muito especial. Bem ou mal, eu sou uma das fundadoras do Nubank, uma empresa de tecnologia mais moderna.
Mas eu fui privilegiada. Imagino que, se estivesse trabalhando em outra organização, numa hierarquia, me reportando a um diretor ou a um presidente, eu não teria tido a oportunidade de ajustar tão bem a minha rotina e a minha agenda às das minhas filhas.
Então, respondendo à pergunta, eu trabalhei numa grande instituição financeira e acompanho o mercado. Tem uma mudança acontecendo, mas só há uns dois, três anos. Vai um tempo ainda, principalmente no setor financeiro, para a coisa avançar e a gente ter um ambiente mais igualitário.
A entrevista para a Forbes teve muita repercussão nas redes sociais. Vi mulheres falando que eu dou esperança porque a realidade na maioria das empresas é outra. Muitas são demitidas em até 12 meses após a volta da licença.
Todas as mulheres que eu conheci na época que trabalhava no banco, depois que voltavam da licença, não tinham espaço e acabaram saindo. Todas. Sem exceção.
E como é no Nubank? Mulheres foram promovidas na gravidez e na volta da licença. Os sócios têm cabeças progressistas, orientadas para a diversidade. Está na nossa cultura.
| Folha de S. Paulo ( publicado em 08-03-2020) | | | |
Desde que foi criada, a fintech curitibana Bcredi buscou o equilíbrio entre homens e mulheres no quadro de funcionários da empresa. A equidade de gênero sempre foi uma premissa vista com naturalidade na startup. Comandada pela CEO Maria Teresa Fornea, a empresa nasceu em 2017 como uma spin-off do Banco Barigui, oferecendo soluções em crédito imobiliário para o mercado nacional. Atualmente, dos seus 140 funcionários, 45% são mulheres. Mas a busca pela equidade interna vai bem além disso.
A BCredi foi a primeira startup curitibana a tornar-se signatária dos sete princípios da ONU para o empoderamento das mulheres (WEPs, da sigla em inglês). Eles englobam atitudes que a empresa pode tomar para concretizar ações que diminuem a desigualdade no ambiente corporativo, e vão desde cuidar da saúde e da segurança da mulher no ambiente de trabalho como promover iniciativas voltadas à comunidade e à cadeira de produção, como parceiros e fornecedores.
Além de seguir os WEPs, a BCredi também passou a participar do Ganha-Ganha, um programa realizado pela ONU Mulheres em parceria com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a União Europeia (UE) que visa acelerar a igualdade de gênero nas empresas da América Latina entre 2019 e 2020. “Nós prestamos uma assessoria para as empresas signatárias ajudando, através de uma consultoria, para que elas possam fazer a diferença nessa pauta”, explica Tayná Leite, consultora da ONU Mulheres.
Para o diretor jurídico e de pessoas da Bcredi, Carlos Eduardo Gonçalves, o programa auxilia a empresa em duas etapas: primeiro na de conscientização, depois na de estruturação. Na primeira, o foco é entender a pauta e o posicionamento da empresa, criando oportunidades para o debate através de eventos. Na segunda, é entender que tipo de medidas específicas se pode tomar para tornar o discurso mais efetivo.
“Uma das preocupações é garantir uma liderança feminina de peso, e a gente direciona nosso time de RH para esse viés”, ele conta. “A gente tinha uma diretora de tecnologia mulher, mas não tinha uma programadora na área de tecnologia. Então focamos em trazer mulheres para esse time. Trouxemos a primeira desenvolvedora, a primeira analista de dados e a primeira coordenadora de engenharia e software”.
Mylena Gama, gerente de marketing da Bcredi, explica que a principal força da consultoria da ONU Mulheres é ajudar a preencher lacunas e formalizar processos, etapa ainda inicial em uma empresa jovem. “A mim parece muito mais simples formalizar esse movimento do que começar as políticas. A gente já impacta as pessoas. Muitas empresas implementam isso depois de um tempo. Aqui nós já crescemos culturalmente pensando nessa diversidade e nessa inclusão de gênero com relação à empresa”.
WEPs na indústria
Os princípios de empoderamento já impactaram empresas de diferentes setores no Paraná. Uma delas é o Sistema Fiep, que se tornou signatário dos WEPs em 2015 mas desde 2009 promove ações voltadas à área. O sistema desenvolve duas frentes de ação: de um lado impactando diretamente seus mais de quatro mil colaboradores a partir de atitudes internas e, de outro, ajudando empresas do setor industrial que também buscam a equidade a concretizar suas próprias iniciativas, criando uma cadeira de suporte.
Renata Fagundes, consultora em Gestão da Diversidade e Equidade de Gênero do Centro de Inovação Sesi Longevidade e Produtividade, explica que o caminho percorrido ao longo destes dez anos foi de buscar se tornar uma referência para poder oferecer esse serviço às indústrias. “Nós temos muita possibilidade de influência entre as nossas empresas parceiras, as indústrias do estado. Vimos nos dedicando em fornecer um background para as empresas fortalecerem sua compreensão a respeito dessa temática, oferecendo uma base metodológica de referenciais para que se possam implementar esses processos com mais facilidade”.
“O Sistema Fiep estimula e apoia as indústrias para adotarem diretrizes e ações que promovam a inclusão e a valorização das mulheres, dando visibilidade às suas competências e importante contribuição para a transformação da sociedade e das empresas em espaços mais equitativos e inovadores”, complementa Maria Cristhina de Souza Rocha, gerente executiva de Projetos Estratégicos do Sistema Fiep.
Um dos exemplos do Sistema Fiep que impactam diretamente a comunidade é a Plataforma Empoderamento das Mulheres: Trabalho e Valorização, iniciativa do Sesi no Paraná com a ONU Mulheres. Com o objetivo de dar suporte às organizações, a plataforma traz indicadores socioeconômicos sobre a realidade das mulheres brasileiras, documentos de referência e publicações de boas práticas de equidade de gênero, alinhados aos WEPs.
Outra iniciativa de bastante impacto é a Metodologia SESI em Prol da Equidade, que apoia as indústrias na implantação de políticas de equidade de gênero e valorização da diversidade no ambiente de trabalho, lançada em 2011. Uma das empresas que se beneficiou dessa metodologia foi a Companhia de Saneamento do Paraná, a Sanepar, que aderiu aos WEPs em 2017.
Foi criado, a partir de então, o Comitê de Equidade de Gênero, que tem o compromisso de colocar em prática a política de equidade da empresa. Infraestrutura adequada, treinamentos técnicas adequados também para mulheres e equilíbrio entre homens e mulheres nos cargos são alguns dos exemplos.
“Não é uma questão só de cargo e poder. O maior ganho que a gente teve foi o fato de que esse assunto foi ficando mais palatável, houve uma mudança de mindset dentro da empresa”, afirma Paula Hamerschmidt, coordenadora do comitê e engenheira cartógrafa.
Prova de que a iniciativa deu certo foi uma premiação inédita em 2019. A companhia foi bronze no prêmio WEPs Brasil 2019, no qual a ONU Mulheres incentiva e reconhece as empresas que implementam esses princípios. A Sanepar foi a primeira empresa da América Latina do setor de saneamento a receber a honraria.
Sanepar recebeu bronze em prêmio da ONU Mulheres que reconhece ações pelo empoderamento.| Divulgação/Sanepar
Renata, da Fiep, concorda que a liberdade para se abordar o tema internamente favorece o avanço. “Como profissional que trabalha há mais de 15 anos nessa temática, eu vivenciei vários momentos e graus de maturidade e compreensão pelas empresas, estamos num cenário muito favorável para conversar sobre isso. Elas tanto estão percebendo melhor seu papel social, de comprometimento, como percebendo os impactos positivos da inclusão. As empresas que valorizam o melhor das pessoas tem reflexos na produtividade, porque as pessoas podem expressar melhor suas ideias, contribuir para o alcance de soluções, se sentirem mais felizes. Tudo isso é resultado positivo”.
Empresas que estão interessadas em participar das ações da ONU Mulheres no Paraná podem entrar em contato pelo e-mail wepsbrasil@unwomen.org.
Conheça os sete Princípios da ONU para o Empoderamento das Mulheres:
1. Estabelecer liderança corporativa sensível à igualdade de gênero, no mais alto nível.
2. Tratar todas as mulheres e homens de forma justa no trabalho, respeitando e apoiando os direitos humanos e a não-discriminação.
3. Garantir a saúde, segurança e bem-estar de todas as mulheres e homens que trabalham na empresa.
4. Promover educação, capacitação e desenvolvimento profissional para as mulheres.
5. Apoiar empreendedorismo de mulheres e promover políticas de empoderamento das mulheres através das cadeias de suprimentos e marketing.
6. Promover a igualdade de gênero através de iniciativas voltadas à comunidade e ao ativismo social.
7. Medir, documentar e publicar os progressos da empresa na promoção da igualdade de gênero."
| Gazeta do Povo ( publicado em 06-03-2020) | | | | Agência pede que governos invistam em educação para promover mudança de comportamento
Em torno de 90% da população mundial, sem importar o sexo, tem preconceito contra as mulheres, revela um estudo da ONU (Organização das Nações Unidas) divulgado na quinta-feira (5). O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) analisou 75 países, que representam 80% da população global, e concluiu que nove a cada dez pessoas, inclusive mulheres, têm preconceito de gênero.
Esses preconceitos incluem que os homens são melhores políticos e líderes de negócios; que ir à universidade é mais importante para os homens; ou que deveriam ter um tratamento preferencial em mercados de trabalho competitivos.
Os países no topo da lista são Paquistão, onde 99,81% têm ao menos um preconceito em relação às mulheres, Qatar e Nigéria, ambos com 99,73%. Os países com população menos sexista são Andorra, com 27,01%, Suécia (30,01%) e Holanda (39,75%).
Em França, Reino Unido e Estados Unidos, os índices de quem tem ao menos um preconceito sexista são de 56%, 54,6% e 57,31%, respectivamente. Na Espanha, o percentual é de 50,50%.
Na América Latina, a pior situação ocorre no Equador (93,34%), seguido por Colômbia (91,40%), Brasil (89,50%), Peru (87,96%) e México (87,70%). Argentina, Chile e Uruguai se situam entre 75,4% e 74,6%.
Os números revelam “novas pistas sobre as barreiras invisíveis que as mulheres enfrentam para obter a igualdade”, apesar de “décadas de progresso”, destaca o relatório.
“O trabalho tem sido eficaz para garantir o fim das brechas na saúde ou na educação, mas agora deve evoluir para abordar algo muito mais desafiante: um viés profundamente arraigado, tanto em homens como em mulheres, contra a igualdade genuína”, disse o administrador do Pnud, Achim Steiner.
A agência pede aos governos e instituições que trabalhem para mudar esses preconceitos e práticas discriminatórias através da educação.
| Folha de S. Paulo ( publicado em 07-03-2020) | | | | Para tribunal, benefício não depende da presença dos sintomas da doença
RECIFE
Quem depende do INSS para sobreviver sabe que não é nada fácil. Se o segurado estiver com doença grave, a situação piora com os gastos do tratamento médico. A isenção do Imposto de Renda foi criada justamente para atenuar a situação dessas pessoas.
Uma decisão do TRF da 3ª Região, que engloba os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, ajuda a vida de quem procura se livrar da mordida do Leão. Veja quem deve entregar a declaração do IR em 2020.
No processo 0002454-47.2016.4.03.6183, a desembargadora Marli Marques, da 4ª Turma, entendeu que a isenção do IR sobre a aposentadoria independe do início e do fim dos sintomas.
Com isso, foi confirmado que, mesmo que a junta médica constate a ausência de sintomas da doença, em razão de provável cura, não justifica a revogação do benefício fiscal, pois a finalidade dele é diminuir o sacrifício dos aposentados e aliviar os encargos financeiros. Confira 15 dúvidas sobre a concessão das aposentadorias.
A decisão facilita a situação de aposentados que estão na fase de monitoramento ou controle da moléstia, situação que também implica gasto com medicação, tratamento e consultas.
Para ter direito, não é necessário que a pessoa esteja numa situação extrema de adoecimento ou recolhida em um hospital.
Outro tipo de problema enfrentado por quem busca a isenção é a caracterização da sua doença na lista pré-definida pela Receita Federal.
A lei que estabelece quais patologias serão beneficiadas é do ano de 1988 e praticamente está intacta.
Essa inércia em não renovar o quadro de patologias, ao que tudo indica, é proposital e causa injustiça.
Existem doenças tão ou mais graves do que as previstas na listinha da Receita, que não estão catalogadas. E isso gera judicialização.
A lista oficial de isenção do IR contempla só as seguintes doenças: portadores de moléstia profissional, tuberculose ativa, alienação mental, esclerose múltipla, neoplasia maligna, cegueira, hanseníase, paralisia irreversível e incapacitante, cardiopatia grave, Parkinson, espondiloartrose anquilosante, nefropatia grave, hepatopatia grave, estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante), contaminação por radiação e síndrome da imunodeficiência adquirida.
Rômulo Saraiva - Advogado, professor e consultor de Previdência
| Folha de S.Paulo | | | | Atualização do site não exige senha para acompanhar benefício na fila de espera
A atualização da página de serviços do INSS na internet facilitou a consulta aos pedidos de aposentadorias, pensões e auxílios-doença que aguardam resposta do órgão. Além de não exigir senha de acesso, o caminho para chegar à informação está mais curto.
Na versão disponível à população desde o final de fevereiro, o item que permite conferir a situação do requerimento está logo na página inicial do Meu INSS, que pode ser acessado nos endereços meu.inss.gov.br ou gov.br/meuinss e também por aplicativo para sistemas Android e IOS.
Para acompanhar o pedido, o segurado pode clicar em "Agendamento/Solicitações". Esse é o primeiro item da seção de serviços sem senha, em destaque na tela que aparece para o usuário que entra no site.
A página seguinte pedirá apenas três dados do titular: nome completo, número do CPF e data de nascimento.
Ao avançar para a tela seguinte, sem precisar fazer login, o segurado terá acesso às fichas de todos os requerimentos feitos por ele ao INSS.
Para pedidos de benefícios que estão na fila de espera para serem analisados, a ficha destacará que o atendimento é a distância e que a solicitação está em análise.
Atualmente, 1,3 milhão de requerimentos aguardam análise há mais de 45 dias, prazo oficial para a resposta aos requerentes. Ao todo, o INSS acumula cerca de 2 milhões de pedidos de benefícios previdenciários.
O acompanhamento por meio do Meu INSS pode evitar, por exemplo, que o beneficiário espere mais tempo que o necessário para sacar o primeiro pagamento e os valores atrasados, em caso de concessão.
A carta que o órgão envia ao segurado costuma levar algumas semanas para chegar às mãos do novo beneficiário.
Nas situações em que o direito é negado, o segurado atento à situação do pedido pode ganhar tempo para apresentar o recurso à Previdência.
O prazo para recorrer é de 30 dias após o segurado ser comunicado sobre o resultado da análise. Quem excede esse período para fazer a contestação precisa refazer o pedido de benefício para tentar obter a concessão pela via administrativa (sem ir à Justiça).
Ao fazer um novo pedido, mesmo que a concessão ocorra, não há direito à contagem dos atrasados desde o pedido antigo.
A plataforma Meu INSS foi lançada em julho de 2018 como parte das inovações tecnológicas em que o governo apostou para evitar o colapso no atendimento da Previdência previsto para 2019, ano em que parte considerável dos servidores do órgão teriam condições mais vantajosas de aposentadoria.
Inicialmente, o Meu INSS recebeu críticas, principalmente pelo complexo sistema de cadastro de senha que exigia que o usuário respondesse a diversas informações de segurança para que ele pudesse acessar os serviços.
O sistema passou por diversas atualizações e, apesar de ter colaborado para que o órgão realizasse 1,1 milhão de análises automáticas de benefícios no ano passado, a tecnologia não impediu a crise nas concessões de benefícios.
Agora, o governo tenta acabar com a fila por meio da contratação de trabalhadores temporários, que serão recrutados entre servidores aposentados da Previdência e militares da reserva.
SITUAÇÃO DO BENEFÍCIO | CONSULTA FACILITADA
O novo Meu INSS facilita o acompanhamento dos pedidos de benefícios
Isso pode evitar que o segurado espere ainda mais tempo pela concessão
O que mudou
A atualização do Meu INSS facilitou o uso para quem não tem senha, pois permite que o trabalhador faça pedidos e consultas informando apenas nome, CPF e data de nascimento
Além disso, esses serviços que dispensam o cadastro de uma senha foram colocados na página inicial do portal de atendimento eletrônico do instituto
Acesso
O portal Meu INSS está disponível no site meu.inss.gov.br ou por aplicativo para Android e IOS
Acompanhe o pedido
A situação do pedido de benefício pode ser acompanhada pelo Meu INSS
Na tela inicial, procure pela seção “SERVIÇOS SEM SENHA”
Clique no ícone de calendário: “Agendamentos / Solicitações”
Preencha os campos com seu nome, CPF e data de nascimento
Marque em “Não sou um robô” e, depois, em “Continuar sem login”
Meus Requerimentos
A página “Meus Requerimentos” apresentará fichas com informações sobre os pedidos feitos ao INSS
A ficha apresentará o nome do serviço ou benefício solicitado, o número do protocolo e a situação
Se houver atendimento presencial marcado, a ficha informa com destaque a data e a agência
Para quem está na fila
Fichas de pedidos de aposentadoria que ainda não foram analisados aparecem com as informações em destaque: “Atendimento à distância” e a data da solicitação; a situação aparecerá como “EM ANÁLISE”
Aposentadorias a distância
Os pedidos de aposentadorias são atualmente recebidos pelo INSS e, em alguns casos, concluídos sem a presença do segurado
Ao acompanhar o seu pedido pela internet, o trabalhador consegue saber qual o resultado da análise assim que o processo é concluído pelo órgão
Em caso de concessão, a informação rápida permitirá o saque do benefício e dos atrasados assim que o valor for depositado
A informação pode ser ainda mais importante para quem tem o pedido negado, já que o indeferimento pode ser contestado com um recurso
O prazo para recorrer de uma decisão do INSS é de 30 dias. O recurso também pode ser solicitado pelo Meu INSS
Cadastre uma senha
Ao fazer o cadastro no Meu INSS, o segurado poderá ser informado do resultado de pedidos de benefícios pelo celular ou por email
Além disso, terá acesso a mais serviços, como a consulta ao extrato de contribuições previdenciárias no Cnis
O campo para cadastrar a senha está na tela inicial do Meu INSS
O cadastro exige dados pessoais e que o segurado responda algumas perguntas sobre seus vínculos de emprego e benefícios recebidos
Respostas automáticas
A modalidade de aposentadoria a distância, ou automática, existe desde 2018 e vem ganhando espaço
Ao todo, o INSS realizou 9,4 milhões de análises de pedidos de benefícios em 2019 e, desse total, 1,1 milhão tiveram respostas automáticas
Como funciona
Vínculos de emprego, contribuições facultativas e autônomas ficam registrados no Cnis (Cadastro Nacional de Informações Sociais)
Se as condições mínimas para a aposentadoria estiverem registradas no Cnis, a concessão do benefício pode ser de forma automática
Maioria é barrada
A maioria das análises automáticas não concede o benefício, segundo funcionários do INSS
Em muitos casos, o requerimento é recusado. Em outros, o caso vai para a fila de análises
1,3 milhão
É o número de segurados da Previdência que aguardam resposta para solicitações de benefícios há mais de 45 dias
Fonte: INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e Meu INSS
| Folha de S.Paulo | | | | Uma das receitas mais importantes do estado, o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) pode em breve ter um Programa de Recuperação Fiscal (Refis) próprio.
“Estamos estudando se faz sentido criar algum mecanismo, um projeto de lei que possibilite o pagamento do IPVA atrasado, uma regularização com alguma facilidade”, explica o secretário de estado da Fazenda, Renê Garcia Júnior. A ideia foi inicialmente citada pelo secretário no fim da última prestação de contas na Assembleia Legislativa, em fevereiro.
O secretário explica que ao longo de um ano, a inadimplência chega a ser de 8%, 9% e às vezes ultrapassa os 10%, mas depois o índice cai. “Após um atraso, no terceiro ano o cidadão vai lá e paga, chega a cair pra 3%”, afirma. “Com motos, no entanto, a inadimplência é grande, bem mais elevada. Somando IPVA e DPVAT pode chegar a 30%”, completa.
Da frota de 7,4 milhões de veículos, pouco mais de 1 milhão são motocicletas. Além das motos, o que preocupa Garcia Júnior são os automóveis usados para aplicativos de transporte individual, como Uber, 99 e Cabify. “Tenho certa preocupação com a quantidade de carros operando em compartilhamento, um certo atraso sistemático, pela baixa geração de receita nessa modalidade”, explica.
Em 2019, o Paraná arrecadou R$ 3,7 bilhões com o IPVA, o que representou mais de 7% de tudo que entrou nos cofres estaduais.
O Refis do IPVA não é uma ideia nova no país. Estados como Ceará e Sergipe aprovaram os seus recentemente. “No Confaz [Conselho Nacional de Política Fazendária] a gente discute experiências e não teve grande impacto [os Refis dos estados nordestinos]. Mas é importante inibir a prática do não pagamento, leniência com a sonegação. É muito dinheiro e metade disso é dos municípios, que têm interesse”.
Lei perdoa dívida após 5 anos
Desde o fim de 2017, uma lei perdoa as dívidas do IPVA vencidos há mais de cinco anos. O projeto do Executivo à época alegou que os custos para cobrar as dívidas eram maiores do que as despesas judiciais e destinação de esforços de funcionários. Entre 2010 e 2012, por exemplo, foram perdoados R$ 223,4 milhões de quase 700 mil débitos.
A legislação segue em vigor e não deve ser alterada mesmo que um projeto do Refis aconteça, diz Garcia Júnior. “Ela é aplicada no caso dos tributos não inscritos na dívida ativa. Normalmente têm valor baixo, coisa de R$ 200, R$ 300”, afirma. Após a virada do ano em que o imposto foi cobrado, quem não pagou pode ser inscrito como devedor.
O não pagamento do IPVA impede a emissão do licenciamento anual do veículo e quando o licenciamento está atrasado o motorista está sujeito a multa e até remoção do veículo em uma eventual blitz, conforme prevê o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Para recuperar o automóvel é preciso pagar todos os débitos do veículo (IPVA, licenciamento anual, multas de trânsito, guincho e diárias no pátio).
| Tribuna PR (publicado em 08-03-2020) | | | | Houve piora no ambiente político, o desempenho da economia no 4º trimestre não foi positivo e coronavírus adiciona complexidade
O câmbio atingiu novas máximas na semana passada. Na sexta-feira (6), fechou a R$ 4,63 por dólar. Desde o início do ano, quando rodava por volta de R$ 4,0 por dólar, o real desvalorizou-se em 15,5%.
O movimento não é novo. A moeda brasileira vem se desvalorizando desde pelo menos o início de 2018, quando cada dólar comprava R$ 3,2. Com o patamar atingido na sexta-feira, a desvalorização ao longo de todo o período chega a 44%.
É muito difícil prever movimentos das moedas. É resultado conhecido da literatura que qualquer modelo que tente prever os movimentos do câmbio terá desempenho pior do que simplesmente jogar uma moeda.
É possível, no entanto, tentar entender o passado. Eu e meu colega do Ibre Livio Ribeiro desenvolvemos modelos para estimar os fatores que condicionaram o movimento da moeda ao longo de um intervalo de tempo. Para o câmbio, somente há lanterna na popa.
Com seu auxílio, podemos dizer que, nos últimos seis meses, os movimentos do câmbio foram condicionados sobretudo por variáveis externas. Em boa medida tem havido um processo de valorização da moeda americana ante as demais.
Em janeiro até a primeira semana de fevereiro, o câmbio desvalorizou-se em 7,3%: saiu de R$ 4,0 para R$ 4,3 em 7 de fevereiro. O movimento deveu-se à redução dos preços das commodities e ao fortalecimento do dólar ante as demais moedas. O risco Brasil movimentou-se na direção da valorização do real, movimento, portanto, contrário ao observado.
Algo de novo aconteceu nas últimas semanas, contudo. Do dia 7 de fevereiro até 2 de março, segunda-feira da semana passada, o câmbio havia se desvalorizado em 4,2%: saiu de R$ 4,3 para R$ 4,5. A redução dos preços das commodities explica 1/3 do movimento, aproximadamente.
A novidade esteve no fato de que cerca de metade do movimento de R$ 4,3 para R$ 4,5 resultou, nesse período, da piora do risco Brasil —e essa piora não dependeu de fatores internacionais. Tudo indica que metade da desvalorização do real entre 7 de fevereiro e 2 de março foi devido a fatores domésticos, que aumentaram o risco.
Os mesmos cálculos entre 7 de fevereiro e o início da tarde de 5 de março, quando o câmbio estava a R$ 4,64, sugerem que 3/4 do efeito deveu-se à elevação da percepção de risco doméstico.
Nas últimas semanas, houve piora no ambiente político. No dia 19 de fevereiro, veio a público a fala do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional, atacando o Congresso. Na terça-feira de Carnaval, o presidente, em uma mídia pessoal, passa adiante vídeo chamando as pessoas para uma manifestação contra o Congresso.
A dificuldade de diálogo entre o Executivo e o Legislativo pode afetar o ritmo das reformas econômicas, cujo atraso certamente afetará a retomada da economia.
Para piorar, a divulgação do desempenho da economia no quarto trimestre não foi positiva, houve surpresa negativa na construção civil, e a perspectiva do espalhamento do covid-19 no Brasil adiciona complexidade. Os movimentos da moeda parecem refletir o somatório desses fatores.
Assim, aparentemente, os ruídos da política começam a interferir nos movimentos da moeda doméstica.
Morreu o jornalista Celso Pinto, que nos deixou como legado o Valor Econômico. Celso Pinto estava havia muitos anos fora das Redações por motivo de saúde. Para um país pobre em inteligência, a perda precoce de um talento desse calibre foi muito custosa.
Samuel Pessôa - Pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (FGV) e sócio da consultoria Reliance. É doutor em economia pela USP.
| Folha de S. Paulo ( publicado em 08-03-2020) | | | | Na sexta-feira, o Ibovespa recuou 4,14%, a 97.966 pontos. No ano, o tombo já é de 15,28%.
O principal índice da bolsa de valores brasileira, a B3, desabou 10% logo na abertura desta segunda-feira (9), atingindo mínimas em mais de 1 ano, o que provocou a interrupção das negociações, em dia de pânico nos mercados globais após o tombo preços do petróleo adicionar mais um componente de turbulência no temor de uma recessão global.
Às 11h10, o Ibovespa caía 10,03%, a 88.163 pontos. Veja mais cotações.
Às 10h32, o índice registrou queda de 10,02%, recuando a 88.178 pontos, quando as negociações foram interrompidos por 30 minutos. Trata-se do menor patamar intradia desde 2 de janeiro de 2019, quando o índice chegou a 87.535 pontos.
Entre os maiores tombos, as ações da Petrobras desabam 24% e Via Varejo, 22%.
Pela regra da B3, quando a queda passa de 10% é acionado automaticamente o circuit breaker, mecanismo que interrompe as negociações de papeis por 30 minutos. A última vez que o mecanismo tinha sido acionado na bolsa brasileira foi no dia 18 de maio de 2017, em meio às denúncias do dono da JBS contra o presidente Michel Temer.
Entenda o circuit breaker e relembre momentos de turbulência na bolsa
O que explica o tombo do preço do petróleo e quais os seus efeitos
Já o dólar opera em alta nesta segunda, chegando a bater pela 1ª vez R$ 4,79.
Na sexta-fera, o Ibovespa fechou em queda de 4,14%, a 97.966 pontos – menor patamar de fechamento desde 27 de agosto, acumulando queda de 15,28% no ano.
Guerra de preços derruba as principais cotações de petróleo e afeta mercados de ações
Na Europa, as principais bolsas operam em queda em torno de 7%, acumulando perda em torno de 20% no mês de março.
Nos Estados Unidos, as negociações também foram suspensas em Wall Street na abertura, depois que o S&P 500 desabou 7%.
Os preços do petróleo, que já estavam em trajetória de queda em meio ao avanço da epidemia do novo coronavírus, desabaram nesta segunda-feira (9) mais 30%, para perto de US$ 30, na maior queda diária desde a Guerra do Golfo (1990 e 1991), atingindo mínimas que não eram registradas desde fevereiro de 2016.
Fracasso de acordo entre Opep e Rússia e guerra de preços
O tombo das bolsas e dos preços do petróleo veio após a decisão da Arábia Saudita de cortar o valor de venda do barril e indicar o início de uma guerra de preços entre os grandes produtores, na esteira do fracasso das negociações entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia sobre o tamanho da produção da commodity.
A Rússia se opôs à proposta de cortes mais profundos na produção sugeridos pelos países da Opep e disse nesta segunda-feira que o país poderia suportar preços do petróleo de entre US$ 25 e US$ 30 o barril por um período de entre seis e dez anos.
Com o derretimento generalizado das bolsas, os mercados passaram a temer uma crise da economia real, à medida que a epidemia de coronavírus afeta as cadeias de produção de todo o planeta, obriga o cancelamento de voos e de eventos profissionais e provoca a queda do turismo.
Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), a demanda mundial de petróleo deve cair este ano, pela primeira vez desde 2009, devido à epidemia do novo coronavírus.
Entenda os impactos do avanço do coronavírus na economia global e brasileira
Novo coronavírus e 'guerra do petróleo' derrubam mercados pelo mundo nesta segunda (9)
Previsão de alta menor do PIB em 2020
Após um início de ano de maior otimismo sobre as perspectivas para a economia brasileira, preocupações em torno dos impactos do coronavírus na economia global e incertezas sobre o ritmo de aprovação de reformas no Congresso têm derrubado as projeções para o PIB do Brasil em 2020 e também afetado os mercados.
Os analistas financeiro reduziram, pela primeira vez, a estimativa de crescimento da economia brasileira para um patamar abaixo de 2% em 2020, segundo pesquisa Focus divulgada nesta segunda-feira pelo banco Central.
O mercado financeiro baixou a previsão de crescimento para a economia brasileira em 2020, de 2,17% para 1,99%. Foi a quarta queda consecutiva do indicador.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta segunda-feira (9) que a equipe econômica está absolutamente tranquila.
"Nós estamos absolutamente tranquilos, a equipe de economia está tranquila. É uma equipe serena, experiente. Já vivemos isso várias vezes. Conhecemos isso. Sabemos lidar com isso. Estamos absolutamente tranquilos, serenos. Então, é hora de justamente termos uma atitude construtiva. Os três poderes, com serenidade, cada um resolvendo a sua parte", disse.
| G1 | | | | Na sexta, moeda teve 'alívio' na alta e caiu 0,36%.
O dólar opera em alta nesta segunda-feira (9), em dia de forte tensão nos mercados por conta do tombo nos preços do petróleo e ainda marcado pelas tensões com o avanço do coronavírus. No início da manhã, o Banco Central cancelou o leilão de até US$ 1 bilhão em swaps previsto, e aumentou a oferta anunciando outro leilão do mesmo tipo, mas com oferta de até US$ 3 bilhões.
Às 10h37, a moeda norte-americana tinha alta de 3,13%, a R$ 4,7795. Na máxima até o momento, a moeda chegou a R$ 4,7921. Veja mais cotações.
Na sexta-feira, a moeda teve um pequeno alívio após 12 altas seguidas, e fechou em queda de 0,36%, a R$ 4,6343, numa sessão marcada por volatilidade e nova intervenção do Banco Central. Na semana, o dólar acumulou alta de 3,42%. No ano, já subiu 15,57%.
Tombo nos preços do petróleo
Os preços dos contratos do petróleo recuavam ao redor de 20% nesta segunda-feira, depois que a Arábia Saudita cortou o valor de venda do barril e indicou o início de uma guerra de preços entre os grandes produtores. Na abertura dos negócios no mercado asiático, ainda no noite de domingo (horário de Brasília). O preço do petróleo do tipo Brent chegou a recuar 31%, no maior tombo desde a Guerra do Golfo (1990 e 1991).
A decisão da Arábia Saudita vem na esteira do fracasso das negociações entre a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e a Rússia sobre o volume da produção da commodity. A Rússia se opôs ao corte de produção sugeridos pela Opep para estabilizar os preços do petróleo em meio à epidemia de coronavírus, que desacelera a economia global e afeta a demanda por energia.
"O avanço do coronavírus trouxe pânico para o mercado de petróleo", diz o sócio fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires. "O preço do petróleo nesse patamar deve provocar um estrago nas economias. O tamanho desse estrago vai depender de por quanto tempo os preços ficarão nesse patamar."
Ação do BC
O Banco Central realizou nesta segunda-feira leilão de venda à vista de até US$ 3 bilhões, cancelando o anúncio de venda de até US$ 1 bilhão feito na sexta-feira. A decisão pelo aumento do volume leiloado se deu por "condições do mercado", de acordo com a assessoria de imprensa do BC.
O BC decidiu ampliar o uso das ferramentas de intervenção no mercado de câmbio, após a venda de US$ 5 bilhões em swaps cambiais não ter impedido o dólar de bater recordes seguidos em meio à crescente desconfiança do mercado com a postura da autoridade monetária diante da pressão cambial.
Desde 20 de dezembro do ano passado o BC não realizava esse tipo de operação – retomada em agosto de 2019 e que há uma década não era utilizada.
| G1 | | | | A guerra de preços do petróleo deflagrada pela Arábia Saudita tem forte impacto sobre os mercados. No Brasil, o dólar comercial iniciou a segunda-feira (9) vendido a R$ 4,75, com alta de 2,5% em relação ao fechamento de sexta-feira (6), e chegou a passar de R$ 4,79 nos primeiros minutos do pregão.
Na sequência, no entanto, o Banco Central vendeu US$ 3 bilhões em reservas cambiais, o que conteve a alta da moeda norte-americana. Ela chegou a cair para R$ 4,73 e, por volta de 9h50, era vendida a R$ 4,745, com alta de 2,4% em relação ao fechamento de sexta-feira (R$ 4,634).
| Gazeta do Povo | | | | Redução acontece após resultado do PIB de 2019 e dos efeitos do coronavírus na economia mundial. Foi a quarta queda seguida do indicador.
Os analistas do mercado financeiro reduziram, pela primeira vez, a estimativa de crescimento da economia brasileira para um patamar abaixo de 2% em 2020.
A redução acontece após a divulgação do resultado do PIB do ano passado, que cresceu 1,1%, e em meio aos efeitos do surto do coronavírus na economia mundial.
A projeção faz parte do boletim de mercado, conhecido como relatório "Focus", divulgado nesta segunda-feira (9) pelo Banco Central (BC). O dado foi levantado na semana passada com mais de 100 instituições financeiras.
De acordo com o boletim, o mercado financeiro baixou a previsão de crescimento para a economia brasileira em 2020, de 2,17% para 1,99%. Foi a quarta queda consecutiva do indicador.
O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma de todos os bens e serviços feitos no país, independentemente da nacionalidade de quem os produz, e serve para medir o comportamento da economia brasileira.
Entenda os impactos do avanço do coronavírus nas economias global e brasileira
Para o próximo ano, a previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) permaneceu em 2,50%.
Inflação
Segundo o relatório divulgado pelo BC, os analistas do mercado financeiro elevaram a estimativa de inflação para 2020 de 3,19% para 3,20%. Com isso, interromperam nove quedas consecutivas do indicador.
A expectativa de inflação do mercado para este ano segue abaixo da meta central, de 4%. O intervalo de tolerância do sistema de metas varia de 2,5% a 5,5%.
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic).
Para 2021, o mercado financeiro manteve a estimativa de inflação em 3,75%. No ano que vem, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Outras estimativas
Taxa de juros: o mercado manteve a previsão para a taxa Selic no fim de 2020 em 4,25% ao ano. Atualmente, a taxa de juros já está neste patamar. Para o fechamento de 2021, a expectativa do mercado para a taxa Selic caiu de 5,75% para 5,50% ao ano.
Dólar: a projeção para a taxa de câmbio no fim de 2020 permaneceu em R$ 4,20 por dólar. Para o fechamento de 2021, subiu de R$ 4,15 por dólar para R$ 4,20 por dólar.
Balança comercial: para o saldo da balança comercial (resultado do total de exportações menos as importações), a projeção em 2020 recuou de US$ 36,70 bilhões para US$ 36,40 bilhões de resultado positivo. Para o ano que vem, a estimativa dos especialistas do mercado subiu de US$ 33,19 bilhões para US$ 34 bilhões.
Investimento estrangeiro: a previsão do relatório para a entrada de investimentos estrangeiros diretos no Brasil, em 2020, permaneceu em cerca de US$ 80 bilhões. Para 2021, a estimativa dos analistas subiu de US$ 84,05 bilhões para US$ 84,50 bilhões.
| G1 | | | | Após os primeiros negócios, queda diminuía para cerca de 20%, levando a cotação do Brent para a faixa de US$ 36
O petróleo do tipo Brent abriu o pregão desta segunda (9, ainda domingo no Brasil) em queda de mais de 30%, derrubando o preço para perto de US$ 30 por barril. É a maior desvalorização desde a Guerra do Golfo, em 1991, quando o preço chegou a cair 34,77%.
Após os primeiros negócios, o tombo diminuiu para cerca de 20%, levando a cotação do Brent para a faixa de US$ 36. Ao longo do pregão, caiu novamente aos 30%, mas voltou ao patamar dos 20%. Os contratos de Brent são negociados na Bolsa de Londres, que abriu às 23h do horário local (20h pelo horário de Brasília).
Esse é o menor valor do Brent desde 2016.
A forte queda do petróleo contaminava também o mercado de ações: as Bolsas asiáticas recuavam por volta de 4% nos primeiros negócios, queda equivalente dos contratos futuros dos índices americanos Dow Jones e S&P 500. A bolsa de Tóquio chegou a cair 6%, mas teve recuperação e fechou com perda de 5,07%.
As bolsas europeias iniciaram com forte queda, puxadas pela desvalorização das petroleiras, e foram se recuperando lentamente. Nas primeiras horas do pregão, aLondon FTSE 100 estava recuando 5,62%, enquanto a German DAX estava caindo 5,03%.
Analistas do mercado financeiro alertaram, porém, que a brusca queda pode ser amenizada ao longo do pregão. Isso porque o início dos negócios tem volume reduzido de investidores, deixando as oscilações de mercado mais bruscas.
O forte recuo reflete a decisão da petroleira da Arábia Saudita, a Saudi Aramco, de elevar sua produção e oferecer descontos a compradores justamente quando a discussão entre países produtores era pela redução da oferta.
A decisão configura uma guerra de preços em retaliação à Rússia, que na sexta-feira (6) se recusou a fechar um acordo com a Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo) para reduzir a produção de petróleo.
O movimento seria uma forma do cartel para evitar nova desvalorização da commodity frente à perspectiva de redução de demanda em um ambiente em que o coronavírus poderá desacelerar a economia global.
Segundo relatório do banco Goldman Sachs, a guerra de preços poderá manter o valor do petróleo ao redor de US$ 30 por barril no segundo e no terceiro trimestre deste ano. O banco não descarta também que a cotação possa beirar os US$ 20 por barril.
A Rússia, que desde 2016 era aliada da Arábia Saudita e da Opep, a fim de ajudar a firmar o mercado de petróleo, rejeitou apelos por um corte de quase 4% na produção mundial, o que exigiria novas reduções em sua produção, já que a queda acentuada na demanda por parte do setor de aviação e transportes resultou em baixa de mais de um terço nos preços da matéria-prima, de janeiro para cá.
"A Opep e a Rússia estão contemplando o abismo", disse Helima Croft, da RBC Capital Markets. "Pode ser o fim da aliança entre sauditas e russos, mas não está claro o que Moscou teria a ganhar se decidir atear fogo à casa."
| Folha de S. Paulo ( publicado em 08-03-2020) | | | | Líderes executivos ainda consideram a segurança como alta prioridade, juntamente com outros indicadores, tais como definição de funções, estabelecimento de métricas claras e avaliações de risco cibernético.
A Cisco publicou recentemente a sexta edição de seu estudo anual CISO Benchmark, que pesquisou de 2.800 profissionais de segurança de 13 países ao redor do mundo, incluindo o Brasil. O relatório trazi análise de dados e 20 considerações sobre cibersegurança para 2020, levantadas a partir das respostas à sondagem e dos CISOs consultores da Cisco.
Complexidade continua sendo a pior inimiga da cibersegurança
A transformação digital continua se mostrando uma oportunidade para líderes de TI e segurança inovarem e ganharem vantagem competitiva. Porém, também traz consigo um tsunami de mudanças de infraestrutura, o que muitas vezes gera novos desafios para profissionais de segurança, cujas preocupações são dominadas por ameaças sofisticadas e ainda desconhecidas.
No cenário atual de segurança cibernética, uma empresa comum usa mais de 20 tecnologias de segurança. Embora a consolidação de fornecedores esteja crescendo continuamente, com 86% das organizações usando entre um e 20 fornecedores, mais de 20% sentem que gerenciar um ambiente com múltiplos fornecedores é muito difícil, um aumento de 8 pontos percentuais em relação a 2017. Outros resultados notáveis:
* Quarenta e dois por cento dos entrevistados sofrem de fadiga de cibersegurança, definida como praticamente desistir de se defender proativamente contra agentes maliciosos.
Mais de 96% dos que sofrem dessa fadiga afirmam que gerenciar um ambiente de múltiplos fornecedores é desafiador, sendo que a complexidade é a principal causa da exaustão.
* Para combater a complexidade, profissionais de segurança estão elevando os investimentos em automação, a fim de simplificar e acelerar as respostas em seus ecossistemas de segurança; usando segurança na nuvem para melhorar a visibilidade de suas redes; e promovendo a colaboração entre suas equipes de rede, endpoint e segurança.
“A medida que as organizações adotam a transformação digital, os CISOs estão colocando maior prioridade na adoção de novas tecnologias de segurança para reduzir a exposição contra agentes maliciosos e ameaças. Frequentemente muitas dessas soluções não se integram criando uma complexidade substancial para gerenciar o ambiente de segurança”, afirma Steve Martino, vice-presidente sênior e Chief Information Security Officer da Cisco. “Para resolver esse problema, os profisionais de segurança devem continuar em constante movimento rumo à consolidação de fornecedores, aumentando a dependência da segurança e atuomação da nuvem para fortalecer sua postura de segurança e reduzir o risco de brechas de segurança”.
Os seguintes resultados destacam outros desafios e oportunidades de melhoria para os CISOs:
* Proteção de carga de trabalho para todas as conexões de usuários e dispositivos na rede é vista como extremamente difícil – Quarenta e um por cento das organizações sondadas acham que os data centers são extremamente difíceis de proteger, e 39% relatam dificuldades para proteger aplicativos. O local mais complicado para proteção de dados é a nuvem pública, com 52% respondendo que é muito ou extremamente difícil de proteger, e 50% afirmando que a infraestrutura de nuvem privada é um grande desafio de segurança.
* Profissionais de segurança lutam para proteger a crescente força de trabalho móvel e os onipresentes dispositivos pessoais – Mais da metade (52%) dos entrevistados afirmam que dispositivos móveis agora são muito ou extremamente difíceis de proteger. Adotar tecnologias de confiança zero (zero trust) pode ajudar a proteger dispositivos gerenciados e não gerenciados sem atrapalhar os funcionários.
* Adoção de tecnologias de zero trust para proteger acesso da rede, aplicativos, usuários, dispositivos e cargas de trabalho precisa melhorar – Apenas 27% das organizações já estão usando autenticação multifator (MFA, na sigla em inglês), uma tecnologia de confiança zero interessante para proteger a força de trabalho. Entrevistados dos seguintes países apresentam os maiores níveis de adoção de MFA, nesta ordem: EUA, China, Itália, Índia, Alemanha e Reino Unido. Já a microssegmentação, uma abordagem de confiança zero para proteger o acesso a cargas de trabalho, tem a menor taxa de adoção, em apenas 17% dos entrevistados.
* Violações devido a vulnerabilidades não corrigidas causam os maiores níveis de perda de dados – Uma das principais preocupações para 2020 é que 46% das organizações – contra 30% no relatório do ano passado – tiveram um incidente causado por uma vulnerabilidade não corrigida. Sessenta e oito por cento das organizações que tiveram uma violação de segurança causada por vulnerabilidade não corrigida sofreram perdas de 10 mil ou mais registros de dados no ano passado. Dos que relatam ter sofrido violação por outras causas, apenas 41% perderam 10 mil ou mais registros de dados no mesmo período.
Profissionais de segurança fizeram avanços positivos na melhoria de sua postura de proteção:
* A colaboração entre as equipes de rede e de segurança continua alta – Noventa e um por cento dos entrevistados afirmam que são muito ou extremamente colaborativos.
* Profissionais de segurança estão tendo os benefícios da automação para solucionar seu problema de falta de qualificação ao adotarem soluções com mais capacidades de aprendizagem de máquina e inteligência artificial – Setenta e sete por cento dos entrevistados na pesquisa estão planejando aumentar a automação para simplificar e acelerar as respostas em seus ecossistemas de segurança.
* Adoção de segurança na nuvem está crescendo, o que melhora a eficácia e a eficiência – Oitenta e seis por cento dos entrevistados afirmam que utilizar a segurança na nuvem aumentou a visibilidade de suas redes.
Recomendações para os CISOs:
* Empregue proteção em camadas, que deve incluir MFA, segmentação da rede e proteção de endpoint.
* Obtenha o mais alto nível de visibilidade para reforçar a governança de dados, reduzir o risco e elevar a conformidade.
* Concentre-se no cuidado cibernético: reforce as defesas, atualize e corrija seus dispositivos e realize testes e treinamentos.
* Implemente uma estrutura de confiança zero para amadurecer a segurança.
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| Ind 4.0 | | | | É o impacto anual da desvalorização do real só no primeiro bimestre em importações de US$ 13 bilhões
Desde o início do ano a cotação do dólar subiu de R$ 4,00 para R$ 4,60. Segundo a associação dos fabricantes e veículos, a Anfavea, o impacto desta desvalorização cambial de R$ 0,60 é de aumento de custos da ordem de R$ 8 bilhões este ano, levando em conta as importações de componentes de cerca de US$ 13 bilhões.
O presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, afirma que é a favor do câmbio flutuante, mas teme que tamanha volatilidade possa reverter a frágil recuperação da economia, com danos evidentes aos resultados da indústria automotiva.
“O impacto de R$ 8 bilhões pode ser ainda maior se a desvalorização continuar nesse ritmo. Somos a favor do câmbio flutuante, mas em momentos de volatilidade intensa como agora é preciso fazer algo para conter a instabilidade”, afirma Luiz Carlos Moraes.
O presidente da Anfavea disse que esteve esta semana com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e externou a preocupação do setor com o derretimento do real – a moeda que mais se desvalorizou no mundo no primeiro bimestre do ano. Contudo, Moraes não tem nenhuma sugestão de medida objetiva para conter a desvalorização cambial: “O Banco Central tem instrumentos para isso, deve saber o que fazer”, contornou.
PREOCUPAÇÃO COM INSTABILIDADE
Durante a coletiva mensal da Anfavea para divulgação dos resultados da indústria, mesmo sem citar diretamente nenhum membro da desastrada administração federal, Moraes deixou claro o desconforto do setor com a instabilidade que vem sendo causada pela atual gestão, com declarações e movimentos políticos que alimentam incertezas e a própria volatilidade cambial.
“Basta ver os índices de confiança do consumidor e da indústria, que vinham melhorando e estão voltando a piorar. Isso acontece porque qualquer instabilidade afeta a expectativa e baixa a confiança. Alguma coisa precisa ser feita quanto a isso. É preciso fazer um pacto pela estabilidade, com menos barulho de Brasília, menos instabilidade política e mais crescimento”, defende Luiz Carlos Moraes.
O presidente da Anfavea afirmou que “não houve nenhuma surpresa com o baixo crescimento do PIB em 2019” divulgado esta semana, calculado em 1,1%. “Era exatamente isso o que esperávamos, mas essa volatilidade e instabilidade toda não ajuda em nada a retomar o crescimento”, resumiu.
| Automotive Business (publicado em 06-03-2020) | | | | Vendas de veículos para outros países têm queda de 11,2% no 1º bimestre
O volume das exportações de veículos segue ladeira abaixo e registra mais uma queda neste início de ano, fazendo com que o setor não consiga aproveitar de forma significativa o dólar em alta.
O balanço da indústria divulgado pela Anfavea na sexta-feira, 6, mostra que nos dois primeiros meses de 2020 os embarques para outros mercados diminuíram 11,2% na comparação com igual período de 2019, com pouco mais de 58,2 mil unidades, entre leves e pesados. No ano passado, esse volume foi de 65,5 mil.
Apesar do volume exportado de fevereiro ter sido 83% maior que o de janeiro, o presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, indica que não se trata de um movimento de recuperação, uma vez que a base de comparação é muito baixa: em janeiro, as exportações somram apenas 20,5 mil veículos.
Segundo o executivo, apesar do resultado, há indicações de que o setor alcance o volume esperado para o ano, mas alerta que se a tendência de queda continuar, as exportações em valores podem ser ainda menores: no primeiro bimestre, os ganhos com as vendas ao exterior atingiram US$ 919 milhões, uma queda de 23,6% sobre mesmo período do ano passado.
A dificuldade ainda é resultado dos embarques menores para a Argentina, que segue enfrentando forte crise econômica; além disso, Moraes revela que os volumes de vendas também foram menores para México, Colômbia e Chile.
“Por enquanto, nenhum motivo para comemorar: apesar do dólar a R$ 4,50 não adianta exportar se o país comprador está em crise”, lamenta o presidente da Anfavea.
| Automotive Business ( publicado em 06-03-2020) | | | | Emplacamentos nos primeiros dias do mês já compensam queda do primeiro bimestre
As vendas 394,5 mil veículos no primeiro bimestre do ano registraram leve retração de 1% na comparação com o mesmo período de 2019. Mas o resultado ainda não preocupa a associação dos fabricantes, a Anfavea, que segue sustentando sua projeção de alta de 9,4% para pouco mais de 3 milhões de unidades vendidas em 2020. Segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, é normal certa retração nos primeiros meses do ano, especialmente por causa da redução dos emplacamentos durante o feriado de carnaval.
Moraes aponta que, apesar de mais curto, o mês passado foi o melhor fevereiro desde 2014, com 201 mil unidades emplacadas, o que representa alta de 1,2% ante o mesmo mês de 2019 e crescimento de 3,9% sobre janeiro (quando houve represamento de emplacamentos por causa da adoção da nova placa do Mercosul). Ele destaca ainda que a média diária de vendas pouco acima de 11 mil unidades por dia útil é 12% maior do que a observada em fevereiro do ano passado. Assim o presidente da Anfavea sustenta que o resultado confirma a tendência de elevação das vendas de veículos no País que vem sendo registrada ano a ano desde 2017.
“Só não passamos das 400 mil unidades vendidas no primeiro bimestre por causa do carnaval em fevereiro, o que é normal acontecer nesta época do ano. Não houve surpresas. Os números estão em linha com nossas projeções para o ano”, afirma Luiz Carlos Moraes.
Para comprovar a tese, a Anfavea divulgou que nos primeiros cinco dias de março foram emplacados 42.470 veículos, número que já é 18,8% superior ao da primeira semana de fevereiro. Somando o resultado do bimestre com estes primeiros cinco dias deste mês, os 406,7 mil emplacamentos representam crescimento de 7,4% na comparação com o mesmo intervalo de 2019.
“Essa comparação é mais justa, pois inclui na conta o carnaval dos dois anos, que foi no início de março em 2019 e no fim de fevereiro este ano”, explica Moraes.
ANOMALIA NOS JUROS PODE PREJUDICAR VENDAS
Moraes aproveitou a divulgação dos resultados da indústria no primeiro bimestre para apontar uma anomalia que poderá prejudicar as vendas de veículos nos próximos meses. Apesar da baixa acentuada na taxa básica de juros brasileira (Selic) – hoje estabelecida em 4,25% ao ano e com previsão de corte para baixo de 4% em 2020 –, os juros aplicados ao crédito direto ao consumidor (CDC) para compra de veículos voltaram a subir.
“Isso é inexplicável. Enquanto a Selic está nos níveis mais baixos da história, a taxa do CDC que estava recuando a 19% ao ano voltou a subir no primeiro bimestre e está perto de voltar a ficar acima de 20%”, apontou Moraes. “É claro que existe algo de errado nisso”, afirma.
SUGESTÃO DE IOF MENOR
No encontro que teve esta semana com o ministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente da Anfavea disse que sugeriu uma revisão do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) aplicadas no financiamento de bens de consumo. “Como não é um imposto arrecadatório, mas regulador de mercado, é melhor reduzir o IOF para baixar o custo do financiamento e a perda de arrecadação poderia ser compensada com o aumento das vendas e recolhimento de outros impostos”, explica Moraes.
A Anfavea apresentou uma conta para expor quanto o IOF encarece o valor final da compra de um veículo. No financiamento de um carro de R$ 65 mil com 20% de entrada e 48 parcelas, os R$ 52 mil financiados à taxa de 1,51% ao mês vão se transformar em R$ 79.243 até o fim do pagamento do empréstimo, mas deste total o cliente paga R$ 1.760 só de IOF, hoje fixado em 0,38% do valor da operação. É mais do que uma das 48 parcelas de R$ 1.651 do hipotético financiamento.
| Automotive Business ( publicado em 06-03-2020) | | | | Anfavea se mostra mais otimista aumento da oferta de crédito para o setor
A venda de máquinas agrícolas e rodoviárias em fevereiro somou 2,8 mil unidades, registrando alta de 13% sobre janeiro. O acumulado do ano teve 5,3 mil máquinas repassadas às concessionárias, número 3,8% mais baixo que o de iguais meses de 2019. Os dados foram divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
A pequena queda no bimestre ocorre porque a base de comparação é alta, já que as 5,5 mil unidades negociadas em iguais meses do ano passado foram quase 40% maiores que em 2018.
“Fevereiro de 2020 teve um bom crescimento. Este ano, com crédito favorável e taxas mais atrativas, o mercado começa a reagir”, afirma o vice-presidente da Anfavea, Alfredo Miguel Neto.
O executivo citou novas linhas do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e também do Banco do Brasil. A venda de tratores de rodas somou no bimestre 3,7 mil unidades, volume 5,3% menor pela comparação interanual, mas a separação por faixa de potência mostra que os modelos intermediários, de 81 a 130 cv, anotaram crescimento de 49,8%.
OBRAS DE INFRAESTRUTURA PUXAM MÁQUINAS DE CONSTRUÇÃO
O bimestre foi marcado pela alta na venda de equipamentos de construção por causa da retomada de obras de infraestrutura. As 599 retroescavadeiras entregues no período anotaram crescimento de 54,4% sobre o primeiro bimestre de 2019. Os tratores de esteiras tiveram aumento ainda mais expressivo, próximo a 140%, mas com pequeno volume total (212 unidades).
EXPORTAÇÕES PERMANECEM EM QUEDA
Neste primeiro bimestre as associadas à Anfavea exportaram menos de 1,4 mil máquinas. O volume foi 13,2% menor que o anotado em iguais meses de 2019. A queda foi puxada sobretudo pelos tratores de esteiras (302 unidades no bimestre e recuo de 46,1%).
“Houve menor número de embarques desse tipo de máquina para os Estados Unidos, é verdade, mas cresceram as vendas de retroescavadeiras para Peru e Colômbia”, recorda Miguel Neto.
A queda nas exportações foi atenuada pelos 740 tratores de rodas embarcados no bimestre (alta de 32,6%), mas o volume total de máquinas enviado ao exterior ainda é pequeno por causa da crise argentina.
Como consequência, a produção total de máquinas no período somou 6,1 mil unidades, 4,3% a menos que em iguais meses de 2019. A projeção da Anfavea indica 56 mil máquinas fabricadas no País em 2020 e pequena alta de 5,4% sobre 2019.
| Automotive Business ( publicado em 06-03-2020) | | | |
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