Produção nacional cresce, mas gás não chega ao mercado

Reinjeção do combustível em poço de petróleo bate recorde; ANP estuda restringi-la para ampliar a oferta do produto

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Rio de Janeiro

Apesar do crescimento da produção de petróleo, a oferta de gás do pré-sal vem recuando, resultado de estratégia das petroleiras para ampliar a produção de óleo ou de falta de infraestrutura de escoamento.

O problema entrou no radar de autoridades em um momento em que o governo trabalha para desenvolver o mercado do combustível e reduzir o preço pago por consumidores, em um programa vendido pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, como “choque de energia barata”.

“A prioridade é o petróleo, mas devemos esgotar as possibilidades de produção de gás também”, diz o diretor-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), Décio Oddone.

Estação de compressão de gás natural de São Carlos
Estação de compressão de gás natural de São Carlos - Edson Silva - 26.jul.2013/Folhapress

Nos últimos cinco anos, a produção brasileira de petróleo cresceu 14%, e a de gás, 30%. Mas o volume de gás que chega ao mercado avançou apenas 3%, já que parcela cada vez maior da produção tem sido reinjetada nos poços ou queimada nas plataformas.

No primeiro semestre de 2019, segundo dados do MME (Ministério de Minas e Energia), apenas 62% do gás produzido no país chegou ao mercado. É o menor volume desde 2006, quando o ministério passou a divulgar os dados.

O volume de reinjeção de gás atingiu recorde de 37,5 milhões de metros cúbicos por dia em 2019, volume superior à capacidade de importação da Bolívia. A queima do gás disparou 41% em relação a 2018, para 5,3 milhões de metros cúbicos por dia.

Na semana passada, Oddone disse que a ANP vai estudar maneiras para ampliar a oferta de gás, restringindo a reinjeção. Segundo ele, as restrições podem ser impostas durante processo de aprovação dos planos de investimentos.

Ao jogar o gás de volta nos poços, as empresas conseguem extrair mais petróleo dos reservatórios. Além disso, diz o IBP (Instituto Brasileiro do Petróleo), o gás do pré-sal tem elevados níveis de gás carbônico e não há hoje como separá-lo em plataformas.

Oddone diz que a reinjeção de gás foi estimulada pela ANP no passado para reduzir a queima de gás nas plataformas, que é uma alternativa mais barata, já que não demanda a construção de tubulações,  mas que polui e desperdiça o recurso natural.

Os níveis de queima caíram significativamente desde o início dos anos 2000, mas voltaram a crescer e podem também ser alvo de restrições. “Não queremos queima além do estritamente necessário.”

As empresas alegam que a reinjeção garante maior produção de petróleo e, consequentemente, maior renda governos e prefeituras. E que o gás pode ser utilizado depois. “O gás está lá, pode ser produzido no futuro”, diz o secretário-executivo de Gás Natural do IBP, Luiz Costamilan.

No mercado, porém, há críticas com relação ao descasamento entre a velocidade de implantação das plataformas e a construção de infraestrutura para escoar o gás.

Quarto maior produtor do país e principal polo de crescimento da produção, o campo de Búzios, por exemplo, não está interligado à malha de gasodutos. É o maior queimador de gás do Brasil.

A Petrobras diz que a queima de gás é maior no início das operações das plataformas, quando os equipamentos estão em teste. Mas Búzios só será conectado a um sistema de escoamento em 2021, quando fica pronta a terceira rota de gasodutos do pré-sal.

Até lá a tendência é que permaneça sem entregar gás ao mercado. “Atualmente, a Petrobras está utilizando toda a oferta disponível de gás. Para aumentar a disponibilidade, será necessário o aumento da infraestrutura”, diz a estatal.

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