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Setor precisa ficar mais produtivo para aumentar competitividade

Tudo indica que nossos vizinhos, em especial a Argentina, não voltarão a comprar produtos brasileiros com força em um espaço curto de tempo

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Rodrigo Nishida

Com a queda de 1,1% em 2019, a produção industrial interrompeu uma sequência de dois anos de crescimento e mais uma vez frustrou as expectativas. A indústria ficou estagnada no último biênio, deixando herança estatística negativa de 1% para 2020.

O grande vilão foi a indústria extrativa. Após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), no fim de janeiro, a extração de minério de ferro foi severamente impactada pelo fechamento de diversas minas, em razão de decisões judiciais ou voluntariamente com o objetivo de melhorar a segurança. Nem o nível recorde de extração de petróleo e gás natural foi suficiente para salvar o desempenho do segmento extrativo.

Entretanto, a indústria de transformação cresceu apenas 0,1% em 2019, resultado que tampouco pode ser 
comemorado. 

A recuperação da demanda interna continuou lenta, mas foi especialmente o cenário internacional mais adverso, com o agravamento da recessão na Argentina a partir de agosto, que limitou um crescimento maior. 

Vale destacar, também, que muitos setores mostram dificuldades de competir com os importados no exterior e no Brasil, mesmo com a expressiva desvalorização do câmbio nos últimos meses. 

Dentre as categorias de uso, a produção de bens de consumo assinalou o melhor resultado, também ajudada pela liberação dos recursos do FGTS. 

A produção de bens de capital decepcionou e voltou a cair, mesmo com a melhora dos indicadores da construção civil.

Há razoáveis chances de que a indústria retome a trajetória de crescimento em 2020. Em primeiro lugar, no segmento extrativo a base de comparação será menor a partir de fevereiro, uma vez que a Vale já retomou parte da produção paralisada, e há boas perspectivas de continuidade da expansão da extração 
de petróleo e gás natural. 

Em segundo, espera-se que o consumo doméstico de bens industriais ganhe tração, na esteira dos efeitos da redução dos juros, da expansão do crédito e da melhora do mercado de trabalho e da confiança.

Entretanto, os riscos de nova frustração não podem ser descartados. O ano começou com diversas turbulências no exterior, e tudo indica que nossos vizinhos, em especial a Argentina, não voltarão a comprar produtos brasileiros com força em um espaço curto de tempo.

Nesse cenário e imersa em um ambiente de grandes e rápidas mudanças tecnológicas e de comportamento, é imperativo que a indústria ganhe produtividade e melhore suas condições de competitividade para garantir uma recuperação duradoura. De sua parte, é fundamental aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento. 

De outro lado, fica ainda mais evidente a necessidade de aprovação de outras reformas estruturais além da previdência, em especial a tributária. 

Adicionalmente seria muito bem-vinda a melhora das condições de infraestrutura. Uma abertura comercial gradual e planejada também poderia estimular a competição e melhorar a produtividade.

Rodrigo Nishida

Economista-sênior da LCA Consultores

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