Com a queda de 1,1% em 2019, a produção industrial interrompeu uma sequência de dois anos de crescimento e mais uma vez frustrou as expectativas. A indústria ficou estagnada no último biênio, deixando herança estatística negativa de 1% para 2020.
O grande vilão foi a indústria extrativa. Após o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG), no fim de janeiro, a extração de minério de ferro foi severamente impactada pelo fechamento de diversas minas, em razão de decisões judiciais ou voluntariamente com o objetivo de melhorar a segurança. Nem o nível recorde de extração de petróleo e gás natural foi suficiente para salvar o desempenho do segmento extrativo.
Entretanto, a indústria de transformação cresceu apenas 0,1% em 2019, resultado que tampouco pode ser
comemorado.
A recuperação da demanda interna continuou lenta, mas foi especialmente o cenário internacional mais adverso, com o agravamento da recessão na Argentina a partir de agosto, que limitou um crescimento maior.
Vale destacar, também, que muitos setores mostram dificuldades de competir com os importados no exterior e no Brasil, mesmo com a expressiva desvalorização do câmbio nos últimos meses.
Dentre as categorias de uso, a produção de bens de consumo assinalou o melhor resultado, também ajudada pela liberação dos recursos do FGTS.
A produção de bens de capital decepcionou e voltou a cair, mesmo com a melhora dos indicadores da construção civil.
Há razoáveis chances de que a indústria retome a trajetória de crescimento em 2020. Em primeiro lugar, no segmento extrativo a base de comparação será menor a partir de fevereiro, uma vez que a Vale já retomou parte da produção paralisada, e há boas perspectivas de continuidade da expansão da extração
de petróleo e gás natural.
Em segundo, espera-se que o consumo doméstico de bens industriais ganhe tração, na esteira dos efeitos da redução dos juros, da expansão do crédito e da melhora do mercado de trabalho e da confiança.
Entretanto, os riscos de nova frustração não podem ser descartados. O ano começou com diversas turbulências no exterior, e tudo indica que nossos vizinhos, em especial a Argentina, não voltarão a comprar produtos brasileiros com força em um espaço curto de tempo.
Nesse cenário e imersa em um ambiente de grandes e rápidas mudanças tecnológicas e de comportamento, é imperativo que a indústria ganhe produtividade e melhore suas condições de competitividade para garantir uma recuperação duradoura. De sua parte, é fundamental aumentar os investimentos em pesquisa e desenvolvimento.
De outro lado, fica ainda mais evidente a necessidade de aprovação de outras reformas estruturais além da previdência, em especial a tributária.
Adicionalmente seria muito bem-vinda a melhora das condições de infraestrutura. Uma abertura comercial gradual e planejada também poderia estimular a competição e melhorar a produtividade.
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