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Consumo deve manter destaque em 2020, mas investimento baixo limita crescimento

Para destravar novos aportes, é preciso uma nova rodada de reformas

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Luana Miranda

As vendas no comércio varejista encerraram 2019 com ritmo de crescimento aquém do esperado pela maior parte dos analistas. Apesar da alta em relação a 2018, a atividade no varejo ampliado registrou a segunda queda consecutiva na comparação com o mês imediatamente anterior.

Os resultados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) indicam que o impulso gerado pela liberação dos recursos do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) foi parcialmente compensado pela inflação mais salgada no fim do ano, o que prejudicou, especialmente, as vendas nos supermercados.

Compras natalinas no Shopping Center Norte, em Sâo Paulo
Compras natalinas no Shopping Center Norte, em Sâo Paulo - Bruno Santos 24.dez.2019/ Folhapress

Ainda assim, as vendas no varejo ampliado fecharam 2019 em um nível 3,9% acima do registrado no ano anterior.

O crescimento das concessões de crédito para pessoas físicas e a melhora gradual no mercado de trabalho contribuíram para a expansão das vendas de bens duráveis como veículos, móveis e eletrodomésticos em 2019, que cresceram 10%, 5,8% e 2,8%, respectivamente.

Os resultados mostram que há um aquecimento da demanda doméstica em curso, ainda que com ímpeto um pouco menor do que o esperado.

O consumo das famílias deve continuar sendo o principal motor da recuperação no pós-recessão, enquanto a carência de demanda no país concentra-se na falta de investimento.

Espera-se aceleração de 2% para 2,6% do consumo das famílias de 2019 para 2020, enquanto o investimento deve crescer 3,2% em 2019 e 4,1% neste ano. Apesar disso, estamos longe de recuperar o que foi perdido em termos de investimento. Para ter ideia, ao fim de 2019 o investimento ainda estará 25% abaixo do pico registrado em 2013.

O cenário atual de inflação controlada, taxa básica de juros em patamares historicamente baixos, expansão do crédito e consequente afrouxamento das condições financeiras cria condições favoráveis para o avanço da atividade econômica neste ano.

Contudo, os dados mais recentes divulgados evidenciam que a recuperação cíclica em curso ainda é frágil e desigual, por isso deve-se moderar o otimismo. Os desafios para a aceleração do crescimento permanecem e não são fáceis de serem resolvidos no curto prazo.

Desenha-se um cenário de aceleração do crescimento da economia em 2020, mas ainda em um nível modesto, em torno de 2%. 

Para que a economia cresça a taxas mais elevadas, um ingrediente fundamental é o crescimento mais acelerado do investimento, o que é difícil de imaginar sem uma nova rodada de reformas. 

Além disso, a forte desaceleração esperada para a economia chinesa, em decorrência da epidemia do coronavírus, gera preocupação dada a posição de destaque do país na pauta de exportações brasileira e soma-se ao impacto negativo advindo do acordo comercial entre China e Estados Unidos. 

Todos esses fatores em conjunto têm potencial para frustrar, mais uma vez, as expectativas de retomada mais forte da economia brasileira.
 

Mestre em economia pela Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE/FGV) e doutoranda na mesma instituição, é pesquisadora do FGV/Ibre com foco  em atividade econômica brasileira.

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