Por Darlan Alvarenga, G1


O real foi a quarta moeda que mais perdeu valor em relação ao dólar no mês de novembro, segundo levantamento da Austin Rating. Na parcial do mês, até o fechamento da véspera, o real se desvalorizou 4,9%, atrás somente do bolívar soberano, da Venezuela (-25,2%), do kwacha, da Zâmbia (-8,2%), e do peso do Chile (-6,8%). O ranking considera as variações de 122 moedas no mundo.

O levantamento leva em conta 122 moedas no mundo. A pesquisa apura o desempenho de todas as moedas cuja cotação está na base de dados do Banco Central.

No ano, porém, o real ocupa a 15ª posição no ranking das moedas que mais se desvalorizaram frente ao dólar, com perda de 7,9%, bem atrás do bolívar soberano, da Venezuela (-98%) e do peso argentino (-36,9%).

Nesta segunda-feira (25), o dólar fechou a R$ 4,2129, renovando maior valor nominal de fechamento da história. Nesta terça-feira, mantém a trajetória de alta, chegando a bater R$ 4,2771 – maior valor já atingido durante um pregão. Veja a cotação.

Real é a 4ª moeda que mais perdeu valor frente ao dólar em novembro — Foto: Economia G1

O que explica a alta do dólar no Brasil?

A alta do dólar nas últimas semanas tem como pano de fundo a preocupação com a desaceleração da economia mundial e as incertezas em torno das negociações comerciais entre a China e os Estados Unidos para colocar fim à guerra comercial que se arrasta desde o começo de 2018. O movimento de saída de dólares do país, que enfraquece o câmbio, também contribui para a desvalorização do real.

Em outubro, o déficit nas transações correntes chegou a US$ 7,9 bilhões, maior que os US$ 5,8 bilhões projetados pelo Banco Central (BC) e com o investimento estrangeiro abaixo do esperado.

A menor oferta de moeda no país em meio a contínuas saídas de capital se tornou uma preocupação ainda maior depois da frustração do mercado com o megaleilão do excedente da cessão onerosa do pré-sal, no último dia 6, no qual praticamente apenas a Petrobras fez lances.

No dia 5 de novembro, o dólar havia encerrado em R$ 3,99 na venda. Desde então, a cotação disparou mais de 5%, em termos nominais.

Além disso, a maior tensão social em diversos países na América Latina, em meio a um quadro ainda positivo de bolsas nos Estados Unidos e de mudança na política monetária, com alta da taxa de juros na maior economia do mundo e corte dos juros no Brasil, também contribui para manter afastado um fluxo maior de capital externo para o mercado brasileiro.

Nesta terça, o mercado também reage a declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, que afirmou que o câmbio de equilíbrio "tende a ir para um lugar mais alto", indicando que o país terá que conviver com juros baixos e dólar alto por algum tempo.

"Em tempo, o cenário político e judiciário muito atabalhoado no Brasil também tem sua participação nessa instabilidade da moeda, pois transfere ao investidor um ambiente hostil aos negócios, seja por insegurança jurídica ou por fragilidade política que limita as perspectivas de médio prazo. Ou seja, dúvidas sobre eleições 2022", afirma o economista da Austin Rating, Alex Agostini.

Ele avalia, porém, que a alta do dólar se deve mais a fatores conjunturais, "visto que os fundamentos domésticos acerca da solvência em moeda estrangeira permanecem sólidos, principalmente considerando que ainda há US$ 369 bilhões em reservas internacionais".

Variação do dólar em 2019
Diferença entre o dólar turismo e o comercial, considerando valor de fechamento
Fonte: ValorPro

Mesmo com o dólar em torno de recordes históricos, o Banco Central tem mantido a estratégia de intervenção no câmbio já em curso.

Nesta terça-feira, o coordenador de Operações da Dívida Pública, Roberto Beier Lobarinhas, afirmou que o impacto da alta do dólar sobre a gestão de dívida é "muito pouco relevante". "Olhamos a composição da dívida cambial e não observamos variação relevante. Para a gente, está bem tranquilo", afirmou.

Questionado sobre uma possível atuação conjunta com o Banco Central, ele apontou ainda que não foi observado "nada nem próximo da necessidade de se fazer qualquer coisa, qualquer atuação. Não há nada no radar nesse sentido".

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