Governo faz terceira correção de dados de exportações e resultado de 2019 sobe US$ 1,4 bilhão

A Secretaria de Comércio Exterior já havia revisado os dados de setembro, outubro e novembro

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Marcela Ayres
Brasília | Reuters

 O governo revisou novamente as estatísticas de exportações de bens para todos os meses de 2019, o que aumentou a conta em US$ 1,4 bilhão no acumulado do ano, divulgou o Banco Central nesta sexta-feira (21), citando trabalho conduzido pela Secex (Secretaria de Comércio Exterior) do Ministério da Economia.

"Agosto de 2019 concentrou os valores revisados, acréscimo de US$ 1,0 bilhão, enquanto os demais meses do ano alternaram elevações e reduções", disse o BC.

No início de dezembro, o governo já havia anunciado uma outra correção para cima no registro das exportações de setembro a novembro, atribuindo a uma falha humana uma subnotificação de US$ 6,488 bilhões que havia ajudado a piorar o resultado da balança comercial brasileira divulgado originalmente.

Inicialmente, ainda em novembro, a Secex havia corrigido os dados referentes a novembro. Com isso, o déficit comercial virou superávit. Alguns dias depois, vieram as correções dos daos de setembro e outubro.

Vista geral do Terminal BTP (Brasil Terminal Portuario) no Porto de Santos - Eduardo Knapp-16.abr.19/Folhapress

Na ocasião, o IBGE afirmou que a revisão do PIB do terceiro trimestre, que será divulgada em 4 março, iria incorporar os novos números anunciados pela Secex. Nesta data, o instituto também divulgará o desempenho do PIB do quarto trimestre.

Questionada sobre a razão da revisão nesta sexta-feira, a Secex respondeu, via assessoria de imprensa, que este foi um procedimento normal e previsto no cronograma, sem destaques relacionados a eventos atípicos.

"No mês de fevereiro, o ano anterior é totalmente reprocessado, apresentando variações nos meses fechados. Esse reprocessamento chamamos de 'congelamento', pois a partir do reprocessamento de fevereiro os dados do ano anterior ficam estáticos, de forma que qualquer alteração posterior passa a ser extraordinária e deverá ser avisada e justificada", disse.

"Não se trata, portanto, de nada anormal no processo típico das divulgações e não há relação com o erro de transmissão de dados em novembro", acrescentou.

Mais cedo, o BC havia classificado a revisão como "ordinária de curto prazo e efetuada na mesma periodicidade em que essa estatística é publicada".

Com a nova alteração, o déficit nas transações correntes em 2019 caiu a US$ 49,452 bilhões, ante os US$ 50,762 bilhões originalmente divulgados. O superávit da balança comercial, por sua vez, foi recalculado a US$ 40,782 bilhões pelo BC, contra US$ 39,404 bilhões antes.

Transações correntes têm pior janeiro em 5 anos

Na divulgação desta sexta-feira, o Banco Central também informou que o déficit em transações correntes do Brasil somou US$ 11,879 bilhões em janeiro, maior rombo para o período em cinco anos, na esteira de um desempenho negativo da balança comercial.

O desempenho também veio pior que a expectativa do BC de um déficit de US$ 8,7 bilhões no mês. Antes dele, o maior rombo para janeiro havia sido registrado em 2015, quando foi de US$ 12,011 bilhões.

Os investimentos diretos no país (IDP), por sua vez, alcançaram US$ 5,618 bilhões, um pouco acima da projeção do BC de US$ 5 bilhões, mas num patamar insuficiente para financiar o déficit em conta corrente no período.

A performance das transações correntes foi fortemente afetada pelas trocas comerciais, que ficaram no vermelho em US$ 2,563 bilhões no primeiro mês do ano, ante superávit de US$ 1,056 bilhão em janeiro de 2019.

A perspectiva para a balança comercial tem ficado mais nebulosa diante dos ainda incertos impactos do coronavírus sobre a economia chinesa, maior parceira comercial do país.

Em janeiro, as exportações brasileiras caíram 19,5% sobre um ano antes, a US$ 14,501 bilhões, ao passo que as importações subiram 0,6%, a US$ 17,064 bilhões.

Ao mesmo tempo, o déficit na conta de serviços sofreu ligeira redução de 6,4% em janeiro, a US$ 2,659 bilhões. Entram nessa linha as despesas líquidas com viagens de brasileiros ao exterior, que caíram a 857 milhões de dólares frente 986 milhões de dólares um ano antes.

A conta de renda primária também mostrou retração, caindo 7,0% sobre janeiro de 2019, a um déficit de US$ 6,766 bilhões. Enquanto os gastos líquidos com juros subiram 13,3% na comparação interanual, a US$ 4,002 bilhões, as despesas líquidas de lucros e dividendos aumentaram 4,1% na mesma base, a US$ 2,785 bilhões.

Nos 12 meses até janeiro, o déficit em transações correntes subiu a 2,85% do Produto Interno Bruto (PIB), frente a um patamar de 2,69% em dezembro último e 2,33% em janeiro de 2019.

A deterioração das contas externas já era esperada pelos economistas, que previam que o saldo comercial do Brasil caísse na esteira de ume recuperação da economia, que tende a elevar o apetite por importações. Mas o saldo das transações correntes tem piorado em meio a um crescimento doméstico pouco expressivo.

Para 2020, o BC previu em sua última projeção novo aumento do déficit em transações correntes, para US$ 57,7 bilhões.

O cálculo, entretanto, foi feito em dezembro, antes do coronavírus despertar preocupações sobre a atividade econômica mundo afora. Também não levou em conta os impactos da Fase 1 do acordo comercial entre Estados Unidos e China, que potencialmente colocará os norte-americanos como competidores mais fortes do Brasil na venda de commodities como a soja.

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