Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1


O volume de serviços prestados no Brasil cresceu 1,7% em outubro, na comparação com setembro segundo divulgou nesta sexta-feira (10) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Apesar da 5ª alta seguida, o setor ainda não conseguiu recuperar o patamar pré-pandemia e mostrou também uma desaceleração do ritmo de reação.

"O volume de serviços prestados se encontra 16,6% abaixo do recorde histórico alcançado em novembro de 2014 e 6,1% inferior a fevereiro de 2020", informou o IBGE.

Volume de serviços mês a mês — Foto: Economia G1

O resultado, porém, veio acima do esperado. A expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 1%.

O IBGE revisou os dados de junho e de setembro. Ambos tiveram altas superiores às divulgadas anteriormente. Em junho, o crescimento foi de 5,5%, e não de 5,3%, enquanto o de setembro passou de 1,8% para 2,1%.

Já em relação a outubro do ao passado, o setor de serviços teve queda de 7,4%, a oitava taxa negativa seguida nessa base de comparação.

Amplamente dependente do contato presencial, o setor de serviços, que tem importante peso sobre o Produto Interno Bruto (PIB) do país, foi o mais abalado pela pandemia de coronavírus e tem mostrando uma retomada bem mais lenta do que a observada no comércio e na indústria.

Perda de 8,7% no acumulado no ano e queda recorde em 12 meses

No ano, passou a acumular queda foi de 8,7%, com expansão em apenas 25,3% dos 166 tipos de serviços investigados.

Em 12 meses, o tombo passou de 6% em setembro para 6,8% em outubro, resultado negativo mais intenso desde o início da série histórica, em dezembro de 2012.

"Além dessas cinco taxas positivas consecutivas, a gente observa que a magnitude desse crescimento é cada vez menor. E mesmo que a gente tenha acumulado essa sequência de taxas positivas, ela ainda foi insuficiente para recuperar as perdas provocadas pela pandemia", afirmou o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, destacando que falta crescer 6,5% para retomar o patamar de fevereiro.

Segundo o pesquisador, o setor ainda sobre influências negativas tanto na parte da demanda quanto de oferta. Ele destacou, entre outros fatores, que os brasileiros ainda estão receosos por conta do risco de contágio pelo coronavírus, enquanto muitas empresas ainda não retomaram totalmente o atendimento presencial, sendo que várias fecharam as portas por conta da crise.

"Faltando dois meses para encerrar o ano, podemos dizer com certa margem de segurança que, fatalmente, o setor de serviços terá a queda mais intensa de toda a série histórica para o acumulado do ano, que até então foi registrada em 2016, com queda de 5%. Para o setor fechar 2020 no campo positivo, teria que ter taxas estratosféricas de crescimento nos meses de novembro e dezembro, o que é impensável. Sobretudo se a gente considerar o repique da pandemia, com a possibilidade de retomada das medidas de isolamento social", avaliou.

Destaques do mês

Na passagem de setembro para outubro, 4 das 5 cinco atividades pesquisadas cresceram, com destaque para informação e comunicação (2,6%). Apenas o setor de outros serviços (-3,5%) registrou taxa negativa nessa comparação.

Variação do volume de serviços em outubro, por atividade e subgrupos:

  • Serviços prestados às famílias: 4,6%
  • Serviços de alojamento e alimentação: 6,4%
  • Outros serviços prestados às famílias: -3,4%
  • Serviços de informação e comunicação: 2,6%
  • Serviços de tecnologia da informação e comunicação: 2%
  • Telecomunicações: -0,2%
  • Serviços de tecnologia da informação: 5,8%
  • Serviços audiovisuais: -2%
  • Serviços profissionais, administrativos e complementares: 0,8%
  • Serviços técnico-profissionais: 1,2%
  • Serviços administrativos e complementares: 0,3%
  • Transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio: 1,5%
  • Transporte terrestre: 1,4%
  • Transporte aquaviário: 0,9%
  • Transporte aéreo: 0,7%
  • Armazenagem, serviços auxiliares aos transportes e correio: 1,3%
  • Outros serviços: -3,5%

Só 2 das 5 grandes atividades retomam nível pré-pandemia

Só 2 das 5 grandes atividades retomam nível pré-pandemia — Foto: Economia G1

Das cinco grandes atividades do setor de serviços, duas retomaram o patamar pré-pandemia: serviços de informação e comunicação, que é o de maior peso do setor (corresponde a 34,5% de todo o volume de serviços prestados no país) e o de outros serviços, que é o segundo de menor peso (7,9% de todo o setor). Ambos superaram o patamar de fevereiro em, respectivamente, 2,5% e 1,5%.

Dentre as três atividades que ainda não recuperaram as perdas da pandemia, a que está mais distante do patamar pré-pandemia é a de serviços prestados às famílias, que pesa cerca de 6,2% de todo o setor e majoritariamente dependem do atendimento presencial.

"Embora tenha o volume de serviços prestados às famílias tenham crescido 80,4% entre maio e outubro, ainda precisa avançar 47,6% para recuperar o patamar de fevereiro", destacou Lobo.

Os transportes, que possuem o segundo maior peso no indicador (31,3%), ainda precisam crescer 8,8% para atingir o nível pré-pandemia. Já o serviços profissionais, administrativos e complementares ainda necessitam avançar 12,8%.

Entre os subgrupos, vale destacar as perdas acumuladas em serviços audiovisuais (que ainda precisa crescer 16,7% para retomar o patamar pré-pandemia) e transporte áereo (que precisa avançar 39,8%).

Alta em 16 das 27 Unidades da Federação

Regionalmente, 16 das 27 unidades da federação tiveram expansão no volume de serviços em outubro, frente a setembro.

São Paulo (1,3%) exerceu o impacto positivo mais importante. Outras contribuições positivas relevantes vieram do Rio de Janeiro (2,5%), da Bahia (10,8%) e do Distrito Federal (3,2%). Em contrapartida, Mato Grosso (-8,0%) registrou a principal retração.

Atividade turística tem 6ª alta seguida

O IBGE também mostrou que o índice de atividades turísticas registrou expansão de 7,1% frente a setembro, sexta alta seguida. O indicador, porém, também não eliminou ainda as perdas registradas entre os meses de março e abril.

O segmento de turismo ainda necessita avançar 54,7% para retornar ao patamar de fevereiro de 2020.

Todas as 12 unidades da federação acompanharam o movimento de expansão em outubro, com destaque para São Paulo (3,6%), seguido por Bahia (24,4%), Rio de Janeiro (6,1%), Minas Gerais (10,9%) e Rio Grande do Sul (19,7%).

Perspectivas

O patamar atual de atividade do setor é próximo ao de maio de 2018, quando ocorreu a greve dos caminhoneiros que derrubou os serviços prestados no país. "Embora próximo, esse patamar de agora ainda é inferior ao mês da greve dos caminhoneiros. Naquela ocasião, o setor de serviços operava 15,8% abaixo do pico", explicou o gerente do IBGE.

O setor de serviço ainda precisa crescer 6,5% para retomar o patamar de fevereiro, diferentemente de outras atividades da economia que já conseguiram eliminar as perdas da fase mais aguda da pandemia.

Na quinta-feira, o IBGE mostrou que as vendas do comércio varejista cresceram 0,9% em outubro, na comparação com setembro, com o setor cravando a 6ª alta consecutiva. Com o resultado, o varejo agora já se encontra 8% acima do nível de fevereiro, pré-pandemia.

Já a produção industrial brasileira cresceu 1,1% em outubro, desacelerando ante a alta de 2,8% em setembro. No acumulado no ano, o setor ainda acumula perda de 6,3%.

O mercado financeiro passou a estimar uma retração de 4,4% para a economia brasileira neste ano e de 3,5% em 2021, segundo pesquisa Focus do Banco Central. Já a projeção para inflação foi elevada para 4,21% em 2020.

Vendas do comércio crescem 0,9% em outubro e setor registra 6ª alta seguida

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