Ricupero vê mais embargos a produtos brasileiros e congelamento de acordos comerciais

Ex-ministro de Itamar Franco diz que relação com a França também irá retardar ou até inviabilizar adesão à OCDE

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São Paulo

O embaixador e ex-ministro Rubens Ricupero afirmou nesta terça-feira (10) que o posicionamento do governo Jair Bolsonaro em relação à questão ambiental irá gerar mais embargos a produtos brasileiros e adiará a ratificação dos acordos comerciais negociados com a Europa.

Ricupero, que ocupou o Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco, durante a implantação do Plano Real, afirmou ainda duvidar da paciência do presidente da República com a falta de resultados da política econômica do ministro Paulo Guedes (Economia).

Também classificou os comentários de Bolsonaro e de Guedes sobre a primeira-dama francesa como "cafajestismo".

O diplomata Rubens Ricupero0, ex-ministro da Fazenda no governo Itamar - Marlene Bergamo - 20.nov.17/Folhapress

"O dano irreparável já foi feito. A primeira vítima é o acordo dito de livre comércio que custou 20 anos de negociação entre o Mercosul e a União Europeia. Ninguém vai assumir o ônus de anunciar a morte oficial do acordo. O mais plausível é que ele permaneça em um estágio de profunda hibernação, congelado por período indefinido", afirmou Ricupero, que participou do 16º Fórum de Economia, organizado pela FGV.

"Adicionalmente à indignação coletiva causada pela destruição da Amazônia, deve-se levar em conta o efeito perdurável do estúpido conflito criado com a França. As agressões ignóbeis ao presidente francês e à sua esposa continuaram até a semana passada em atos de membros do governo que só se podem se qualificar como de cafajestismo."

Ricupero afirmou que também é pouco provável que seja ratificado o acordo do Mercosul com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), após as declarações de autoridades da Noruega condenando a postura do Brasil em relação à Amazônia.

Segundo ele, a questão da Amazônia e da França também irá retardar ainda mais ou inviabilizar de vez o projeto de adesão à OCDE, organização que reúne os países mais desenvolvidos e tem grande influência do governo francês.

O ex-ministro também afirmou que o movimento de boicote a produtos brasileiros ainda está no início e que tem informações de que a situação irá se agravar, principalmente para o setor do agronegócio.

"O que está se articulando em matéria de boicotes é grave. Estão subestimando a gravidade da coisa. Essa mentalidade de que nós podemos nos socorrer no governo Trump é ingenuidade. O setor do agronegócio lá não quer nem ver um acordo comercial com o Brasil", afirmou.

Ricupero fez críticas diretas ao ministro Paulo Guedes, citando sua fala sobre a primeira-dama francesa como uma atitude de "cafajeste" e dizendo que a política econômica atual é pautada pelo fracasso.

"O presidente e seus seguidores se confessam agoniados com a falta de espaço para estimular o consumo. Acumulam-se os sinais de impaciência com a demora dessa política em produzir resultados de crescimento econômico e geração de emprego", afirmou.

"Não preciso lembrar das inúmeras ocasiões em que os propósitos liberalizantes cederam a pressões no sentido contrário. Não é brilhante a história do liberalismo econômico no Brasil. Será diferente dessa vez, com um presidente sem convicções e obcecado com a ideia fixa da reeleição?"

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