Oscilação forte indica fragilidade da indústria em retomar, dizem especialistas

Projeção é que fim do ano seja de sinais positivos para o setor, mas nada que surpreenda

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São Paulo

A retomada da economia brasileira traz números trocados mês após mês. Se por um lado a volatilidade é uma característica de análises mensais, por outro, a forte oscilação indica uma dificuldade em engatar uma recuperação vigorosa.

Na indústria isso não é diferente. As trocas de sinais que o setor vem enfrentando são reflexos de sua dificuldade em retomar de forma consistente, segundo especialistas ouvidos pela Folha.

“Os processos de recuperação não são lineares. O ponto é que estamos muito sensíveis às oscilações. Se fosse um ambiente de retomada forte, essas oscilações seriam menores e veríamos crescimento mais consistente, mais contínuo”, afirmou Thiago Xavier, economista da Tendências Consultoria. 

“Não tem uma sequência de dados positivos que permita visualizar um cenário melhor daqui para frente. Por ora, ainda tem muita volatilidade. Isso é sinal de que as empresas estão com dificuldade em casar o ritmo de produção com o ritmo de demanda”, disse Rafael Cagnin, economista do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados nesta sexta-feira (1º) reforçam a tese dos especialistas. Setores relevantes para o avanço de 0,3% da indústria no mês de setembro, em relação a agosto, recuaram na pesquisa anterior.

Foi o caso de vestuário, bebidas e móveis, que avançaram 6,6%, 3,5% e 9,4%, respectivamente, mas que em agosto tiveram retrações de 7,5%, 2,8% e 5,3%. Dos 26 setores pesquisados pelo IBGE, só 11 subiram.

“Ora se espera que a demanda vá reagir um pouco mais, mas ela não reage, e você gera estoque e é obrigado a cortar no outro mês. Aí você consome o estoque e volta a crescer a produção. Essa dificuldade em casar os ritmos ocorre porque o cenário [econômico] ainda é relativamente incerto”, afirmou Cagnin.

Para o especialista do Iedi, discursos do governo federal trouxeram insegurança ao investidor sobre o que fazer em meio a indefinições políticas que afetariam a economia.

“O que vimos com a história do Brasil deixar o Mercosul ou de o bloco expulsar a Argentina é um exemplo. Então a cada momento que você acha que a incerteza está reduzindo, vem uma bomba desse tipo, e o tomador de decisão passa a reavaliar.”

Xavier, da Tendências, também citou a incerteza gerada pelo cenário conturbado no país, mas recordou que, desde 2014, com escândalos políticos, impeachment, greve dos caminhoneiros e eleições, a insegurança atrapalha investimentos de longo prazo.

Além disso, outros dois acontecimentos colocaram a indústria em xeque neste ano: o desastre em Brumadinho (MG) e a crise argentina. Enquanto o primeiro paralisou a indústria extrativa, o segundo derrubou, principalmente, as vendas do segmento automobilístico.

“Nossa indústria é conectada com a da Argentina. Não é só veículos, tem toda uma parte de bens intermediários. No fundo, houve fatores conjunturais e estruturais que seguraram a nossa indústria.”

Sob essas condições, os especialistas dizem que a recuperação que se desenhava no ano passado para o setor no Brasil perdeu seu vigor. Para eles, o final do ano deve trazer sinais positivos comuns ao segundo semestre, mas nada que surpreenda.

“Vemos sinais relativamente melhores no término do ano, mas ainda projetamos queda de 1% em 2019”, disse Xavier.

“Em novembro tem liquidações, com a Black Friday, depois tem [festas de] final de ano. Tudo isso gera um ambiente melhor, só que não acho que vai mudar o cenário de 2019, que é um ano perdido", afirmou Cagnin.

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