Reprodução – A secretária da Saúde

A Secretaria Municipal da Saúde confirmou as primeiras mortes de moradores de Curitiba por covid-19. Foram três casos registrados nesta segunda-feira (6) em consequência da pandemia do novo coronavírus na capital paranaense. A secretaria de Saúde também confirmou que até esta segunda-feira eram 192 pacientes com a doença na Capital.

“Começamos a subir a montanha em Curitiba”, disse a secretária Márcia Huçulak, durante a apresentação online dos números, enfatizando as medidas para achatar a curva do pico de casos e lembrando que a partir de agora a Capital deve ter o início da fas e mais difícil de enfrentamento da doença, e por isso reforçou as medidas de prevenção, como o isolamento social e o uso de máscaras de pano para quem tiver de saira para a rua.

“Nosso plano de contingência começou a ser desenvolvido ainda em janeiro. Agora entramos na fase em que, infelizmente, temos casos de pacientes que morrem por conta da doença, como acontece em todas as partes do mundo num patamar mais acentuado”, diz Márcia.

”Estamos só no começo de uma corrida de longa distância”, diz Márcia. “O trabalho para achatar a curva de transmissão do vírus, a fim de permitir que a rede de saúde possa prestar o atendimento a quem precisa, vai ser feito ao longo de meses”, afirmou a secretária. “Haverá períodos em que será necessário menos flexibilidade e mais restrições ao convívio social e outros com mais flexibilidade”.

Casos
As mortes confirmadas em Curitiba são de uma paciente de 56 anos, estava internada desde 29 de março e foi confirmada com a Covid-19 no dia 31. Um homem de 94 anos, também morador da Capital, estava internado desde o dia 1º deste mês, com confirmação para a doença no sábado passado. Uma mulher de 87 anos teve o diagnóstico neste fim de semana e estava internada desde o dia 30.

Além dos três óbitos, a Secretaria registrou ontem mais 30 novos casos de covid-19 em moradores da cidade. Com isso, Curitiba chega a 192 pacientes confirmados com infecção pelo novo coronavírus, entre eles uma criança de seis anos.

No monitoramento epidemiológico, a cidade tem 138 suspeitos, 681 casos descartados desde a confirmação dos primeiros casos, em 11 de março. Dos pacientes confirmados, 71 estão liberados do isolamento. Até o momento, 78 pessoas precisaram de internamento devido a complicações causadas pela infecção, 51 continuam hospitalizadas, sendo 16 em estado grave.

Na linha de frente, área médica é a mais exposta aos riscos do novo vírus

Com milhares de infectados e um número crescente de mortos, profissionais da saúde têm pago um alto preço no combate ao coronavírus, mesmo usando equipamentos de proteção. E por que isso acontece?

Uma explicação é a quantidade de vírus à qual esses profissionais são expostos. Depois de entrar no corpo, o Sars-CoV-2 invade células e faz cópias de si mesmo, aumentando a carga viral ao longo dos dias. Quanto maior a quantidade de vírus, maior também tende a ser a gravidade da doença e a capacidade de transmissão para outras pessoas.

Como os profissionais de saúde estão frequentemente em contato com outras pessoas com quadros graves da doença, acabam também tendo contato com pessoas com maior carga viral. Até aqui, as pesquisas mostram que uma pessoa com a doença infecta, em média, outras três. No entanto, já houve casos na China, por exemplo, em que um único paciente, antes mesmo de ter febre, infectou outras 14 pessoas num hospital de Wuhan.

“A linha de frente é a área de saúde, então quem vai se contaminar mais? A gente percebe, os profissionais estão assustados. Qualquer um estaria, apesar da gente se preparar para tanta coisa. Eu trabalhei 40 anos no HC, vi muita coisa, mas uma pandemia dessa proporção é a primeira vez. Primeira vez que enfrentamos algo desconhecido, não tem vacina, não tem medicação, e ainda sem equipamentos de proteção suficiente”, diz a presidente do Coren-PR, Simone Peruzzo.

Outra preocupação é a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs). Nesta semana, inclusive, o Coren-PR, em parceria com o Conselho Regional de Medicina (CRM-PR), começou a fiscalizar os hospitais e unidades de saúde da cidade.

Profissionais da saúde somam 16,7% dos casos na Capital

Com 192 casos confirmados de infecção pelo novo coronavírus, Curitiba já começa a sofrer com um grave problema que atingiu diversas outras localidades atingidas pela pandemia. É que com o vírus se alastrando, profissionais da saúde como enfermeiros, técnicos de enfermagem e médicos, que fazem a chamada linha de frente de combate à doença, começam a adoecer.

Durante esta segunda-feira (6), a reportagem do ‘Bem Paraná’ entrou em contato com diversos hospitais da cidade. A pergunta era: quantos profissionais já foram infectados pela Covid-19?

Apenas dois hospitais responderam: o Marcelino Champagnat, que já registrou 20 casos (dois funcionários estão isolados e outros 18, em isolamento domiciliar, com monitoramento da equipe de medicina do trabalho), e o Pequeno Príncipe, com 12 registros (sendo metade dos casos entre profissionais da área administrativa, em um prédio que fica fora da unidade hospitalar). Além disso, no primeiro estabelecimento outros 103 colaboradores foram atendidos com sintomas de gripe – o que representa 14,71% do total de funcionários.

Apenas estes 32 funcionários que atuam na área da saúde e que já foram infectados, equivale a 16,66% dos 192 casos confirmados na Capital.

Procuradas pela reportagem, a Secretaria Estadual e Municipal de Saúde disseram não ter, neste momento, os dados sobre infecções entre profissionais da saúde segmentados. A Sesa, no entanto, relatou que hoje são 115 servidores trabalhando remotamente e que ainda estão em avaliação outros 354 pedidos de servidores para trabalho remoto. “Não que estejam com coronavírus; são gestantes, idosos ou outros casos com possibilidades de risco”, disse, por meio de nota, a Secretaria da Saúde do Paraná, que tem hoje 7.048 servidores.

Também procurados pelo ‘Bem Paraná’, a Santa Casa e o Hospital Evangélico Mackenzie disseram ainda não ter registrado casos de contaminação entre seus profissionais – o primeiro informou também não ter recebido ainda nenhum paciente com a doença, enquanto o Evangélico já está atendendo casos.

Presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Paraná (Coren-PR), a enfermeira da UFPR Simone Peruzzo comenta que o Paraná, assim como o restante do Brasil, deve registrar porcentuais elevados de contaminação entre os profissionais de saúde, com eles somando entre 15 e 30% dos casos, conforme análise a partir dos registros existentes.

Ainda segundo ela, uma das principais preocupações com os enfermeiros é por conta da jornada dupla que a maioria desses profissionais enfrenta.