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05/09/2016 - 12:15

Psicólogas (os) negras (os) fortalecem luta nacional de combate ao racismo

Núcleo do Distrito Federal (DF) da Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) nomeou sua coordenação na quinta-feira (1), em Brasília

Psicólogas (os) negras (os) fortalecem luta nacional de combate ao racismo

O racismo, o genocídio, a vulnerabilidade e o luto das mulheres negras que perdem seus filhos para a violência são alguns dos fatores que favorecem o sofrimento psíquico na população negra e que a Psicologia busca identificar e trabalhar por sua erradicação. Essa também é uma das tarefas da Articulação Nacional de Psicólogas (os) Negras (os) e Pesquisadoras (es) (Anpsinep), criada em 2010 para promover ações com o objetivo de inserir o tema das relações raciais na pauta política das instituições do campo da Psicologia.

O Núcleo do Distrito Federal (DF) da Anpsinep nomeou sua coordenação na quinta-feira (1), em atividade no Centro de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (UnB). A presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Mariza Borges, juntamente com profissionais da Psicologia, professoras (es), pesquisadoras (es) e estudantes, acompanharam o ato de nomeação dos integrantes da Anpsinep. Após essa apresentação, foi realizado o debate “Racismo, genocídio e relações étnico-raciais”.

“Essa organização é essencial no sentido de juntar as (os) profissionais negras (os) da Psicologia para que eles tenham um espaço de interlocução. É importante trazer essa problemática para o debate, para que a Psicologia conheça e dedique um olhar sobre esse problema, passando a entendê-lo como um problema. Que haja essa organização e que mais conhecimento sobre a questão racial seja produzido para que ampliemos nosso olhar. Quando se fala que existe um genocídio dessas populações, não é de 100 anos atrás, ele é de 500 anos”, destaca a presidente do CFP.

 Articulação

A Anpsinep surgiu em 2010, após o 1º Encontro Nacional de psicólogas (os) negras DSC_0462(os) e pesquisadores, realizado na Universidade de São Paulo (USP). No 2º encontro, em 2012, o debate do evento foi em torno da Resolução 18/2002 do CFP que estabelece normas de atuação dos profissionais em relação ao preconceito e a discriminação racial. O Núcleo DF da Articulação quer, entre outras ações, pensar sobre os desafios e ações da Psicologia para o combate ao racismo. O psicólogo Igo Gabriel Ribeiro será o coordenador desse Núcleo DF. Igo é mestrando no Programa de Pós-Graduação em Psicologia e Sociedade da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e assistente de Pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Ele destaca os desafios dessa Articulação.

“O desafio principal é articular psicólogas (os) negras (os) e comprometê-las (os) na luta anti-racista para fortalecer a Anpsinep em todo o território nacional.  O racismo atravessa nosso cotidiano profissional de atuação, além do dia a dia, onde a população negra sofre os efeitos psicossociais e subjetivos do racismo. Temos que investir em formação permanente e  qualificar o debate. Estabelecer uma representatividade, saber quem são esses psicólogos (as) negros (as) para indicá-los (as) para a população negra, quando são solicitados. Também precisaremos fazer frente ao desmonte que ocorre no país, por parte do novo governo federal. Precisamos dar uma resposta para superar o racismo e essas inequidades sociais”, enfatiza Igo Gabriel.

Ele aproveitou para declarar a posição de repúdio da Anpsinep pela recente extinção da Coordenadoria de gênero e raça do Ipea. Uma ação, segundo ele, verticalizada e desrespeitosa. A Articulação do DF começou a se reunir em junho desse ano. As reuniões são quinzenais e a próxima está marcada para o dia 10 de setembro, na UnB. A coordenação da Articulação irá contar com quatro profissionais da Psicologia.

 “Racismo, genocídio e relações étnico-raciais”

“É muito importante que a categoria entenda qual a dimensão do racismo no país”, destacou a psicóloga Marcia Maria da Silva, que integra o Grupo de Trabalho (GT) Racismo e Saúde Mental do Ministério da Saúde. A psicóloga mediou o debate realizado após a nomeação da coordenação da Anpsinep. “Percebemos hoje que toda vez que a gente se propõe a debater sobre o racismo cresce a quantidade de sofrimentos relatados. O que esse racismo provoca na população negra? Observamos que a maioria de negros e negras, que procuram os (as) psicólogos (as) reclamam que os (as) profissionais desfazem desses problemas. Queremos contribuir para que a população negra seja mais atendida, que possa caminhar de maneira mais firme, porque é uma população mais vulnerável. Trazer para eles uma compreensão maior dessas dores e necessidades”, destaca Marcia da Silva.

DSC_0473 O reflexo de uma sociedade que ainda tem muito o que fazer para erradicar o racismo também está em suas instituições. “Não existe sociedade racista com instituições não racistas. A instituição é a cara da sociedade, e as instituições brasileiras estão tomadas  por esse racismo institucional”, lembrou Mário Theodoro, consultor Legislativo do Senado Federal, doutor em Economia pela Université Paris I Sorbonne, Secretário Executivo da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (Seppir).

A mesa de debate também contou com a participação da psicóloga Tatiana Lionço, que abordou aspectos sobre “O lugar do branco nas relações raciais”, e Antônio Lima Teixeira Júnior, técnico de Planejamento e Pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas Sociais do Ipea. Antônio falou sobre outro problema causador de sofrimento psíquico na população negra: o genocídio. De acordo com ele, não existe nenhuma instituição brasileira, atualmente, que utilize esse termo, “mesmo que o genocídio e o sofrimento sejam políticas oficiais do Estado, que nós sejamos os mais encarcerados, nós morremos mais, somos preferenciais nos processos de adoecimento, esquecidos nas relações de trabalho. Não precisamos mais ver dados para comprovarmos isso”, destaca ele.  O pesquisador afirmou, ainda, que o não reconhecimento dessas violências inviabiliza o desenvolvimento de respostas por parte do Estado.