Por G1


O Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) publicou as diretrizes do recém-lançado programa do governo federal para abrir o mercado e tentar reduzir os custos do gás natural, entre as quais constam uma sinalização de que a Petrobras deverá vender ativos nos setores de transporte e distribuição do combustível.

Também fazem parte das propostas para ampliar a concorrência incentivos para a privatização de empresas estaduais de distribuição de gás, segundo resolução sobre a iniciativa publicada no Diário Oficial da União em edição extra de terça-feira (25).

Sob o programa, que ganhou o nome de "Novo Mercado de Gás", o CNPE estabelece como de interesse da política nacional que o "agente que ocupe posição dominante no setor de gás natural" observe "medidas estruturais e comportamentais", incluindo "alienação total das ações que detém, direta ou indiretamente, nas empresas de transporte e distribuição". Veja aqui a íntegra da resolução.

A Petrobras atualmente possui participação acionária em todos os dutos de transporte de gás do país, além de ser sócia de 19 das 27 distribuidoras do insumo que atuam localmente. A petroleira também detém o controle de praticamente toda capacidade na malha de transporte, destaca a agência Reuters.

O CNPE, presidido pelo ministro de Minas e Energia, mas formado por diversas autoridades do governo, estabelece ainda que o agente "dominante" deverá definir suas demandas nos pontos de entrada e saída do sistema de transporte para possibilitar "a oferta de serviços de transporte adicionais na capacidade remanescente", de forma a "incentivar os demais produtores a comercializarem o gás no mercado".

Governo anuncia pacote para estimular a concorrência e reduzir o preço do gás natural

Governo anuncia pacote para estimular a concorrência e reduzir o preço do gás natural

O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou nesta semana acreditar que o plano poderá reduzir o custo da energia em 40% em um período de dois anos, por meio de um "choque" de gás mais barato.

Para isso, o CNPE recomendou também que as pastas de Economia e de Minas e Energia incentivem os Estados a adotarem reformas estruturantes nos serviços de gás, "incluindo eventual aditivo aos contratos de concessão, de forma a refletir boas práticas regulatórias".

Segundo reportagem do "Valor Econômico" desta terça-feira (26), a expectativa é que o programa beneficie petroleiras que hoje têm dificuldades para acessar o mercado consumidor, devido à verticalização da Petrobras no setor. Entre as interessadas na abertura do mercado, estão Shell, Galp e Repsol, sócias da Petrobras no pré-sal e que vendem suas produções para a estatal por preços baixos, devido à dificuldade de acesso ao mercado.

A Petrobras possui participação acionária em 19 empresas de distribuição de gás natural das 27 constituídas no país — Foto: Divulgação/Gaspetro/Petrobras

Distribuidoras estaduais

Os estados também serão incentivados a privatizar concessionárias de gás, segundo o colegiado, que ainda recomendou medidas para facilitar a participação de empresas privadas na oferta de gás importado em condições competitivas, "em especial o gás boliviano."

O programa visa, de uma forma geral, a ampliação da concorrência em todo o mercado de gás e a integração do setor de gás natural com os setores elétrico e industrial, entre outros pontos, de acordo com o CNPE.

O G1 procurou a Petrobras para comentar a iniciativa do governo para o gás, e aguarda retorno.

Segundo o CNPE, as medidas propostas dentro do programa para o setor de gás natural serão acompanhadas por meio de relatórios com divulgação trimestral.

"Em até sessenta dias, deverão ser definidas a governança e as informações necessárias ao monitoramento, bem como o formato e periodicidade para seu encaminhamento", diz a resolução.

Preço do gás natural pode ficar mais barato nos próximos dois anos

Preço do gás natural pode ficar mais barato nos próximos dois anos

Ativos da Petrobras no setor de gás

O gás natural ofertado ao mercado brasileiro tem origem na produção nacional, no gás importado da Bolívia e no Gás Natural Liquefeito (GNL), que é comprado de outros fornecedores, para ser regaseificado em um dos três terminais da Petrobras (Pecém, no Ceará, Baía de Todos os Santos, na Bahia, e Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro), segundo informa a estatal em seu site.

A Petrobras possui atualmente, através da Gaspetro, participação acionária em 19 empresas de distribuição de gás natural das 27 constituídas no país. Em 2015, a Petrobras vendeu 49% da Gaspetro para a japonesa Mitsui por R$ 1,93 bilhão.

Segundo o "Valor Econômico", entre as potenciais candidatas às distribuidoras, estão a própria Mitsui, a Cosan (controladora da Comgás), a Naturgy (CEG e CEG Rio) e a Engie.

No começo de junho, a estatal concluiu a venda de 90% da sua participação na Transportadora Associada de Gás S.A. (TAG) por US$ 8,6 bilhões (cerca de R$ 33 bilhões).

A estatal também possui 51% na Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG); 10% da Nova Transportadora do Sudeste (NTS); e 25% na Transportadora Sulbrasileira de Gás (TSB), além de 10% na TAG.

No exterior, a Petrobras detém participação de 11% na Gás Transboliviano (GTB), responsável pelo lado boliviano no gasoduto Brasil-Bolívia, e participação em dois negócios de distribuição de gás natural no Uruguai.

Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!
Mais do G1