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Com dívidas recordes, títulos de empresas já são rebaixados a 'junk'

Redução abrupta na receita leva papéis de companhias a perder grau de investimento e já pressiona bancos nos EUA e na Europa

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São Paulo

Empresas não financeiras em todo o mundo cortaram abruptamente previsões de faturamento na semana passada (ver quadro), levando a uma queda generalizada nas ações de bancos nos Estados Unidos e na Europa.

Em alguns casos, as ações perderam, até o meio da semana, quase toda a valorização acumulada desde 2016.

No fim da semana, houve alguma recuperação após os pacotes dos governos de EUA e Europa para ampliar o capital de giro das companhias afetadas pela crise do coronavírus.

Bem mais sólidos agora do que há dez anos, na crise das hipotecas "subprime", os bancos estão entre os maiores credores das dívidas corporativas globais —e podem acumular perdas importantes caso deixem de receber seus créditos.

A dívida do setor não bancário no mundo chega a US$ 75 trilhões e equivale a 93% do PIB global, muito acima dos 75% do PIB há uma década, segundo o Institute of International Finance (IIF, a Febraban mundial).

Já a dívida dos bancos, pivôs da Grande Recessão, diminuiu em quase dez pontos do PIB global, para US$ 61,5 trilhões. No período, os bancos também aumentaram o capital que dá lastro a empréstimos e se livraram dos chamados "títulos podres" que entupiram seus balanços.

Mas um levantamento da empresa britânica de avaliação de riscos Credit Benchmark revela que uma amostra significativa de bancos passou a classificar agora como "BB" (não seguro, ou "junk") cerca de 30% de seus devedores; e mantêm outros 30% como "BBB" (último degrau para ser considerado seguro, ou grau de investimento).

Como comparação, as agências de classificação de risco ainda consideram só 12% das dívidas corporativas como "BB" e 42% como "BBB" --sugerindo que em breve elas também podem rebaixar bilhões de dólares em dívidas.

A queda no faturamento das empresas trouxe pressão também sobre o chamado mercado de "corporate bonds", onde são negociados títulos de empresas não financeiras.

O volume desses papéis no mercado —que não fazem parte dos créditos bancários— mais que dobrou desde 2008 e atinge US$ 12 trilhões. Mais da metade tem classificação "BBB" e, do total, US$ 4,4 trilhões vencem nos próximos três anos. O risco agora, com a diminuição de suas receitas, é os títulos dessas empresas perderem rapidamente, e em massa, a classificação "BBB" e também virarem "junk".

Quando um título deixa de ser grau de investimento muitos investidores institucionais, como fundos de pensão, são obrigados, por contrato, a se desfazer dele.

Além de isso poder inviabilizar o refinanciamento das dívidas dessas companhias, pode causar grandes impactos subsequentes sobre milhões de investidores donos desses papéis.

O dinheiro que gira ao redor dos "junk bonds" corresponde a menos de 20% do mercado de títulos. Se houver papéis demais entrando, seu valor pode entrar em queda livre.

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