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Crise na América Latina atrasa volta de investimento estrangeiro ao Brasil

Instabilidade no Chile, Bolívia e Argentina contamina; baixo crescimento também pesa

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Washington

A convulsão social e institucional vivida por parte da América Latina atrapalha a recuperação da confiança de investidores estrangeiros no Brasil, mas ainda não foi capaz de provocar fuga de capital ou mesmo uma suspensão significativa de aporte de recursos no país.

Segundo analistas ouvidos pela Folha, a soltura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira (8), e os protestos populares no Chile são os temas que mais despertam preocupação entre os donos do dinheiro.

A liberdade do petista, baseada em decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), veio acompanhada de perguntas sobre seu impacto no avanço da agenda econômica no Congresso, principalmente em relação às privatizações e à aprovação das reformas administrativa e tributária.

O Chile, por sua vez, chama a atenção porque era considerado pelos investidores uma economia bastante estável até agora, mas há um mês está tomado por protestos que pedem inclusive uma nova Constituinte para o país.

“Sem dúvida seria melhor que não tivesse essa crise na América Latina. É barulho, mas explicamos [aos investidores] que o número da oposição no Congresso não muda com a liberdade do Lula e que a parceria do [ministro da Economia] Paulo Guedes com o [presidente da Câmara] Rodrigo Maia continua”, afirma Will Landers, chefe de renda variável para a América Latina da gestora do BTG Pactual.

De acordo com Alvaro Mollica, estrategista em Nova York para a XP Investimentos, o caos em países latino-americanos impacta fundos menores no Brasil, que abarcam a região como um todo diante de instabilidades locais.

Já os fundos maiores, de investimento em empresas ou infraestrutura, ele explica, são menos sensíveis a esse tipo de movimentação e permanecem à espera do reflexo das reformas nos números de crescimento do Brasil.

Investidores brasileiros estão mais animados e têm colocado mais dinheiro no país em comparação a americanos e europeus, por exemplo —tanto que há uma saída de recursos da Bolsa brasileira, contrariando expectativas de que os estrangeiros voltariam tão logo a agenda liberal de reformas fosse apresentada.

Esses acreditam que só é possível ver novamente um chamariz em terras brasileiras quando índices econômicos, como o PIB (Produto Interno Bruto), apontarem uma melhora significativa do cenário. 

O crescimento brasileiro foi de 1,3% em 2017 e de 1,1% em 2018 e, atrelado à queda da produtividade e taxas de juros baixíssimas, não tem entusiasmado os estrangeiros.

“A ‘primavera latina’ não ajuda, claro. Às vezes é difícil para o investidor separar as coisas e alguns colocam o Brasil nesse balaio de ‘grande confusão do continente’. Mas, geralmente, isso acontece com fundos menores, mais imediatos. Os maiores se movimentam de forma mais lenta e são menos sensíveis a isso”, afirma Mollica.

Os analistas avaliam que, mesmo diante da crise em vizinhos como Chile e Bolívia, e da troca de governo na Argentina, é possível manter a projeção de crescimento do PIB na casa dos 2% em 2020. 

Isso porque, argumentam, o Brasil ainda é uma economia bastante fechada e o comércio com esses vizinhos representa pouco para o país.

Além disso, a vitória do oposicionista Alberto Fernández, na Argentina, já havia sido incluída na conta dos preços dos ativos pelos investidores que acompanham a crise econômica do país mesmo sob comando do liberal Mauricio Macri, derrotado nas eleições presidenciais do mês passado.

O FMI (Fundo Monetário Internacional), por sua vez, também afirma que as crises recentes no Chile e na Bolívia devem impactar pouco na economia da região.

Em relatório divulgado em outubro, durante seu encontro anual em Washington, o fundo havia revisto para baixo as perspectivas de crescimento da região —e também do Brasil, individualmente.

Essas estimativas não captavam as convulsões sociais no Chile ou na Bolívia, com a renúncia de Evo Morales, nem o resultado da eleição argentina.

Mesmo assim, o órgão não avalia que as crises reverberem no crescimento do restante do continente —apesar de abalarem, claro, as economias locais.

Isso porque Chile e Bolívia são relativamente pequenos e sem grande participação no comércio regional.

Na avaliação de Landers, muito da crise econômica brasileira veio de problemas de condução errática da política econômica do governo nos últimos anos e da queda do consumo do mercado interno. 

Quando isso começar a melhorar, ele diz, os investidores estrangeiros voltarão a se sentir confiantes para colocar dinheiro de fato no país.

“A economia do Brasil se defende internamente e precisa crescer por forças próprias para voltar a atrair a confiança do investidor.”

Para ele, taxas de juros e inflação baixas, combinadas com a aprovação das reformas, devem impulsionar o mercado interno e, assim, motivar novamente o estrangeiro a investir no país.

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