Fim do ano foi marcado por queda no investimento e da construção civil

No quarto trimestre, retração foi de 3,3%, a maior queda desde a crise dos governos de Dilma e Temer; setor de máquinas e equipamentos desacelera

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Rio de Janeiro e São Paulo

O investimento na economia brasileira despencou no final de 2019. A chamada formação bruta de capital fixo, que mede o desembolso em novos projetos e a expansão da capacidade de produtiva, teve retração de 3,3% no quarto trimestre, segundo os dados divulgados nesta quarta (4) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Observando a série histórica, a retração só não supera a registrada no período de crise do governo de Dilma Rousseff e Michel Temer. É a maior queda na taxa desde o terceiro trimestre de 2016, quando a retração foi 6%. Em relação apenas à série referente ao quarto trimestre, foi a maior queda desde 2015, quando houve retração de 5,3%

Sob a ótica da oferta, a construção civil, que vinha dando tração à retomada, também teve queda significativa, de 2,5%, no quarto trimestre. A construção é hoje o principal componente do investimento no país, com participação de 44%.

O segmento de máquinas e equipamentos, que responde por outros 40%, desacelerou de 15,2% em 2018 para 0,9% em 2019. Segundo o IBGE, o resultado reflete dados de plataforma de petróleo.

No acumulado de 2019, o investimento cresce 2,2%. Foi o segundo ano seguido de crescimento.

A coordenadora de contas nacionais do IBGE, Rebeca Palis, diz que a construção foi a principal responsável pela queda do investimento no encerramento do ano, que também sofreu efeitos da menor nacionalização de equipamentos de petróleo no país.

Ela afirmou, porém, que não é possível analisar se há perda de fôlego na economia. "Acho que vamos poder ver isso no primeiro trimestre, até porque a conjuntura mundial mudou um pouco" afirmou. No terceiro trimestre, o PIB havia crescido 0,6%, o mesmo patamar dos últimos três meses.

Palis ressaltou que, na comparação semestral, a economia acelerou. No primeiro semestre, disse, o PIB cresceu 0,8%. No segundo, a alta foi de 1,4% —mesmo patamar do segundo semestre do ano anterior.

O crescimento da construção civil nos trimestres anteriores havia sido impulsionado pelo mercado imobiliário, sem impactos do setor de infraestrutura. Palis não soube dizer se, no quarto trimestre, houve recuo do mercado imobiliário ou da infraestrutura.

Apesar da recuperação no ano passado, a construção ainda está cerca de 30% abaixo do pico registrado no 1º trimestre de 2014. Ou seja, ainda tem um longo caminho para se recuperar.

"A gente viu uma recuperação da construção muito puxada pela parte imobiliária [em 2019], residencial, já que a infraestrutura continua em queda", afirmou.

Os dados trimestrais também mostram que os serviços mantiveram o ritmo de crescimento, mas um de seus componentes, o comércio, ficou estagnado nos três últimos meses do ano.

Números mais fracos de investimento e construção civil no quarto trimestre surpreenderam economistas, dado que a sinalização era de recuperação.

“Os dados ruins do quarto trimestre podem acabar refletindo nos primeiros três meses de 2020, mas é algo que deve ganhar corpo ao longo do ano”, afirma o economista do Santander Lucas Nobrega.

Ele afirma que, ainda que as taxas de juros tenham um forte peso positivo no segmento, existem outros fatores que trabalham na direção contrária, tais como a recente alta do dólar e a situação do mercado de capitais –impactados pelos efeitos do coronavírus ao redor do mundo.

“Indicadores de confiança continuam em um nível bom, mas precisamos olhar com certo cuidado para a Formação Bruta [de Capital Fixo]. O Brasil depende muito das importações para fazer investimentos e o câmbio atual dificulta essa postura”, disse Nobrega.

O vice-presidente de Economia do SindusCon-SP, Eduardo Zaidan, afirma que a atividade da construção é resultado de um investimento feito no passado e que os dados trimestrais são preliminares, podem ser revisados e que é normal haver essas oscilações no curto prazo.

Em relação ao resultado do ano, Zaidan afirma que o resultado do PIB da Construção em 2019 ficou abaixo do crescimento projetado de 2%, principalmente por conta de investimentos em infraestrutura que não se concretizaram, volume de obras reduzido, redução dos recursos para o programa Minha Casa Minha Vida e poucas novas obras imobiliárias fora das capitais com população de maior renda, como São Paulo.

“A economia brasileira está anêmica não é de hoje. Para a construção estar vibrante, o país precisa vibrar antes. Essa taxa de investimento na economia [cerca de 15%] não vai gerar um PIB de 3% ou 4%. Não dá para ser maior que 1,5% e 2%.”

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