Por Darlan Alvarenga e Daniel Silveira, G1


PIB cai 0,2% no primeiro trimestre de 2019 em relação ao ano passado

PIB cai 0,2% no primeiro trimestre de 2019 em relação ao ano passado

O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,2% no 1º trimestre, na comparação com o último trimestre do ano passado. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (30) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,714 trilhão.

Trata-se da primeira queda desde o 4º trimestre de 2016 (-0,6%).

Apesar de decepcionante, o resultado veio dentro do esperado pelo mercado, confirmando a leitura de maior fraqueza da atividade econômica neste começo de ano e piora das expectativas.

Além de representar uma interrupção da trajetória de recuperação, que já vinha em ritmo lento, o PIB negativo no 1º trimestre traz novamente o risco de volta da recessão (caracterizada, tecnicamente, por dois trimestres seguidos de queda).

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos no país e serve para medir a evolução da economia.

Variação trimestral do PIB desde 2016 até o 1º tri deste ano — Foto: Juliane Souza/G1

Não houve revisão do resultado do 4º trimestre de 2018 (alta de 0,1% na comparação com os 3 meses anteriores), afastando assim a chance de o país já ter entrado em uma recessão técnica como temia parte dos analistas.

De acordo com a assessoria do IBGE, o algoritmo de dessazionalização não provocou nenhuma alteração nos resultados do 4º trimestre. Alterações devido à entrada de novas informações, quando acontecem, são inseridas na revisão realizada no 3º trimestre.

Na comparação com o mesmo trimestre do ano passado, o PIB cresceu 0,5% entre janeiro e março, pior resultado desde o 1º trimestre de 2017 (0,1%), representando uma desaceleração significativa em relação aos meses anteriores (1,1% no 4º trimestre de 2018 e 1,3% no 3º trimestre de 2018).

PIB segue no patamar de 2012

Economia está no mesmo patamar de 2012, aponta IBGE

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De acordo com a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio, o resultado mantém a economia brasileira em patamar semelhante ao que se encontrava no 1º semestre de 2012. “Em relação ao pico, o ponto mais alto do PIB, atingido no primeiro trimestre de 2014, estamos 5,3% [abaixo]”, destacou.

Segundo ela, a perda de fôlego da economia fica mais evidente quando se analisa a taxa acumulada nos últimos quatro trimestres em relação ao mesmo período do ano anterior. Nessa base de comparação, a alta foi de 0,9% no 1º trimestre, abaixo do avanço de 1,1% no 4º trimestre de 2018 e de 1,4% no 3º trimestre de 2018.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta quinta-feira que, para o Brasil atingir o "sonho do crescimento", reformas estruturais, como a da previdência e a tributária, precisam ser aprovadas, e que o governo não vai buscar implementar "truques, nem mágicas".

De acordo com ele, medidas artificiais de estímulo à economia, como uma "liberaçãozinha" de recursos, ou corte artificial dos juros, já foram implementadas no passado sem sucesso, gerando o que ele classificou como um padrão de "voo de galinha" na economia (crescimento baixo e inconsistente).

Consumo das famílias impede uma queda maior

O resultado só não foi pior porque o consumo das famílias, que representa 64,3% do PIB total, cresceu 0,3% no 1º trimestre, a 9ª alta seguida. "Se não fosse o consumo das famílias, o resultado poderia ter sido um pouco pior", destacou Claudia Dionísio.

Embora no campo positivo, o consumo das famílias também perdeu fôlego, após avanço de 0,5% no 4º trimestre e 0,6% no 3º trimestre, pressionado por fatores como inflação mais alta, aumento do desemprego e piora da confiança dos consumidores.

Sérgio Vale analisa números do PIB

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Do lado da oferta, a principal contribuição positiva veio do setor de serviços, que manteve o ritmo de crescimento registrado no trimestre anterior (0,2%). Apesar da alta, os segmentos de comércio (-0,1%) e transporte, armazenagem e correio (-0,6%) registraram a segunda queda seguida.

Veja os principais destaques do PIB no 1º trimestre:

  • Serviços: 0,2%
  • Indústria: -0,7% (pior resultado desde o 4º tri de 2016, quando recuou -1,8%)
  • Indústria extrativa: -6,3%
  • Agropecuária: -0,5% (pior resultado desde o 3º tri de 2017, quando ficou em -2,2%)
  • Consumo das famílias: 0,3% (pior desde o 2º tri de 2018, quando ficou em 0%)
  • Consumo do governo: 0,4%
  • Investimentos: -1,7%
  • Construção civil: -2%
  • Exportação: -1,9% (pior resultado desde o 2º tri de 2018, quando recuou 4,4%)
  • Importação: 0,5%

PIB trimestral pela ótica da demanda — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Indústria puxa queda

Entre os principais setores, a maior queda foi da indústria (-0,7%), impactada principalmente pelo recuo de 6,3% da indústria extrativa, refletindo os desdobramentos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho (MG). Agropecuária caiu 0,5% na comparação com o trimestre anterior, enquanto os serviços subiram 0,2%.

“Além de Brumadinho, outras barragens também foram paralisadas. Então, essa parte de extração de minério foi muito prejudicada. Além disso, a extração de petróleo e gás também veio no campo negativo”, ressaltou a pesquisadora do IBGE.

Por que o Brasil não cresce?

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A Indústria de transformação teve retração (-0,5%), influenciada principalmente, segundo o IBGE, pela queda da fabricação de equipamentos de transportes, indústria farmacêutica, fabricação de máquinas e equipamentos e fabricação de produtos alimentícios. Já a atividade de eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos cresceu 1,4%.

Variação trimestral do PIB nos setores da indústria, serviços e agronegócios — Foto: Juliane Souza/G1

Tombo nos investimentos

Pela ótica da despesa, os investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo) tiveram a segunda queda trimestral seguida (-1,7%), enquanto o consumo do governo cresceu 0,4%, após queda de 0,3% no 4º trimestre.

A coordenadora de Contas Nacionais, Rebeca de La Rocque Palis, destacou que, além da conjuntura macroeconômica, os investimentos também foram prejudicados pelo menor impacto das mudanças no regime de tributação no setor de óleo e gás (Repetro), que nos dois últimos trimestres do ano passado alavancaram o indicador.

A taxa de investimento no primeiro trimestre de 2019 foi de 15,5% do PIB, abaixo do observado no consolidado de 2018 (15,8%) e ainda bem longe do patamar acima de 21% registrado em 2013, antes da recessão.

Já a taxa de poupança ficou em 13,9% no primeiro trimestre, ante 15,4% no mesmo período de 2018. "Se o consumo cresceu mais que o PIB, é óbvio que a poupança vai diminuir", afirmou Rebeca.

No setor externo, as exportações de bens e serviços caíram (-1,9%), enquanto as importações cresceram 0,5% em relação ao trimestre anterior. A economia brasileira fechou com 2018 com necessidade de financiamento de R$ 32,3 bilhões ante R$ 23,9 bilhões no mesmo período do ano anterior.

O que o PIB tem a ver com o nosso dia a dia?

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Previsões para o ano

O desempenho fraco da economia nos últimos meses, a queda dos índices de confiança de empresários e consumidores, e as incertezas em relação à tramitação da reforma da Previdência no Congresso têm levado analistas e instituições a revisarem para baixo suas previsões para o PIB de 2019.

De acordo com a última pesquisa Focus do Banco Central, os economistas dos bancos passaram a estimar crescimento de 1,23% para este ano. Foi a 13ª queda seguida na previsão. Parte do mercado, entretanto, já trabalha com a hipótese de uma alta do PIB abaixo de 1%.

Na semana passada, o Ministério da Economia baixou a sua previsão de crescimento de 2,2% para 1,6% em 2019.

Em 2018, a economia brasileira cresceu 1,1%, após alta de 1,1% em 2017, e retrações de 3,5% em 2015, e 3,3% em 2016.

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