Câmbio estraga resultado da GM na América do Sul de novo

Carlos Zarlenga, presidente da GM América do Sul: fim de um ano difícil

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 06/12/2019 - 20:00
  • | Atualizado há 2 anos, 8 meses
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    “A boa notícia do ano é que já é dezembro.” Assim Carlos Zarlenga, presidente da General Motors América do Sul, começou uma breve conversa com jornalistas na noite da quinta-feira, 6, pouco antes de anunciar a concessionários e fornecedores, em São Paulo, os dois últimos lançamentos de 2019 (duas versões do SUV Equinox 1.5 para completar os 11 prometidos) e o plano “7 em 20”, de lançar mais sete carros no ano que vem. O alívio de Zarlenga com o fim do ano se justifica pelo período que deve novamente fechar com prejuízo, apesar dos bons resultados comerciais no Brasil.

    Em volumes, o desempenho anual pode ser considerado bom: as vendas no Brasil são de 9% a 10% maiores do que em 2018, devem ficar acima de 450 mil unidades e a GM lidera o mercado brasileiro pelo quarto ano consecutivo, com ganho de participação e fatia de quase 18% das vendas nacionais de veículos. E isso aconteceu mesmo com aumentos de preços dos veículos acima da inflação, que no caso dos modelos Chevrolet, segundo Zarlenga, foram de 5,3% na média do ano, contra inflação de 3,9%.

    No caixa, no entanto, a forte desvalorização cambial do real e do peso argentino afasta qualquer possibilidade de fechar o ano com resultado positivo em dólares – o que interessa à matriz nos Estados Unidos. O câmbio já havia contabilizado prejuízos no ano passado, o que detonou no início de 2019 a ameaça de fechamento de fábricas e redução de atividades na região, superada por duras negociações de cortes de custos com empregados, fornecedores, concessionários e governo estadual de São Paulo, que acabou concedendo incentivos fiscais de ICMS para fechar com a GM um novo plano de investimento de R$ 10 bilhões nas fábricas paulistas da empresa em São Caetano do Sul e São José dos Campos, no período de 2020 a 2024. Fica a dúvida se o novo prejuízo poderá afetar esses planos.

    “O problema aqui segue sendo a desvalorização cambial. Se não fosse isso teríamos fechado o ano melhor. Com o dólar nesse nível de R$ 4,20 é difícil ter rentabilidade. A melhor chance de corrigir isso seria aumentar as exportações, mas aí precisa de competitividade. Apesar disso, estamos empolgados com as mudanças que acontecem e que podem mudar esse cenário. Nesse sentido nosso plano de investimento de R$ 10 bilhões dá a oportunidade de transformar a GM Brasil em uma fabricante mais competitiva”, avalia Carlos Zarlenga.



    Segundo o presidente da GM, os primeiros resultados do programa de investimento “vão começar a aparecer já em 2020, mas está mais focado na modernização de duas fábricas (São José e São Caetano) e no desenvolvimento de novos produtos”.

    A GM trabalha com a expectativa de que em 2020 serão vendidos 3,05 milhões de veículos no Brasil – o que significa alta próxima a 9% sobre os 2,8 milhões esperados para 2019. Com o bem-sucedido lançamento da nova família Onix já nos últimos meses deste ano e a chegada de novos SUVs para breve – incluindo o novo Tracker nacional que começa a ser produzido em São Caetano no primeiro trimestre –, a ideia é manter o nível de participação atual da marca Chevrolet em torno de 17% a 18%.

    “É preciso lembrar que no Brasil caminhamos para juros reais de menos de 2% ao ano. É a primeira vez que isso acontece e ainda não sabemos qual será o efeito real na economia. Será muito interessante ver o resultado daqui a seis meses. O crédito barato e abundante pode aquecer o mercado acima das expectativas”, pondera Zarlenga.

    MAIS INTEGRAÇÃO E EXPORTAÇÃO NA AMÉRICA DO SUL



    Embora não exista perspectiva de crescimento relevante das exportações brasileiras de veículos em 2020 (este ano a queda é de 33%), a GM estima aumentar em 35% suas vendas externas, de 76 mil unidades embarcadas em 2019 para 103 mil no ano que vem, graças ao início das vendas dos novos Onix e Onix Plus em mais mercados da América Latina, incluindo o México.

    Zarlenga revelou que faz parte dos planos uma maior integração das unidades produtivas da companhia na América do Sul, onde a GM tem fábricas na Argentina, Brasil, Colômbia e Equador. “A ideia é fazer produtos diferentes nessas plantas para aumentar as trocas comerciais entre os países da região, incluindo o México”, diz o executivo. “Na Colômbia, por exemplo, vamos fazer investimentos para produzir lá veículos que possam ser enviados ao mercado brasileiro, até para que possamos enviar mais unidades para lá dentro do acordo comercial automotivo dos dois países”, explica.

    Por enquanto, Zarlenga diz que o quadro de convulsão social em diversos países sul-americanos como Chile, Peru, Equador, Bolívia e Colômbia ainda não afetou os resultados e os planos da empresa. Mesmo na Argentina, onde o mercado local amarga dois anos seguidos de crise econômica intensa, o presidente da GM prevê que o quadro pode melhorar.

    “Não temos expectativa de grande crescimento na Argentina, mas pode ser um pouco melhor. Este ano esperávamos desempenho até pior e o mercado argentino vai fechar perto de 440 mil veículos, acima do previsto que não passava de 410 mil. O novo governo do país assume agora e precisamos esperar para ver como fica, mas vejo avanços nas discussões comerciais entre Argentina e Brasil”, lembra Zarlenga. “Não se pode esquecer que a Argentina tem controle cambial e isso incentiva as pessoas a investir em bens duráveis, como carros. Isso poderá surpreender em 2020”, assinala.