Brasil e México precisam avançar na integração econômica

As principais economias da América têm tratados limitados em número de produtos e setores. Acordo de livre comércio é prioridade para o setor privado

Brasil e México são as principais economias da América Latina, com nada menos de 54% do Produto Interno Bruto (PIB) da região. Mas precisam ser pragmáticos para avançar em uma agenda de integração que permita a ampliação do fluxo de comércio e investimentos entre si.

Os acordos comerciais entre eles são limitados em número de produtos e setores. Esse cenário faz até mesmo com que empresas brasileiras prefiram instalar suas fábricas no México para conseguir exportar para outros países com os quais o país mantém acordos.


“Embora Brasil e México sejam parceiros estratégicos, a falta de tratados entre eles representa um vazio na rede de acordos comerciais na América Latina pois os atuais são muito limitados e não removem barreiras tarifárias relevantes. As duas economias possuem grandes investimentos bilaterais, mas o potencial de comércio entre elas é inibido pela falta de um instrumento mais significativo de comércio”, afirma o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Carlos Eduardo Abijaodi.


Para o setor privado, a conclusão de um acordo de livre comércio ou a ampliação substancial do tratado hoje em vigor apresenta-se como prioridade. Este último é o Acordo de Complementação Econômica entre o Brasil e o México N.º 53 (ACE 53).

Atualmente, ele abrange 800 produtos e, para apenas metade deles, há comércio livre de tarifas. Simulação da CNI indica que o comércio bilateral de bens manufaturados pode crescer 40% com a ampliação desse instrumento.

Empresas brasileiras vão para o México para conseguir exportar para outros mercados

O nível de integração que o México tem com outros mercados, mas não com o Brasil, foi um dos motivos para a Oxiteno instalar três complexos industriais e um laboratório de pesquisa e desenvolvimento no país.

Empresa química hoje com atuação global, a Oxiteno iniciou seu processo de internacionalização justamente pelo México, em 2003, com a compra da Oxiteno México, antiga Canamex, indústria mexicana de especialidades químicas. Desde então, a companhia investiu mais de US$ 100 milhões sua operação nesse mercado.


“Pela condição de acordos comerciais que possui, o México é altamente integrado a diversos países no mundo, sobretudo aos Estados Unidos, que é o principal mercado da indústria química. O México também tem abundância de matéria-prima, preços competitivos e infraestrutura necessária para a nossa indústria. Por isso, ele é uma opção quase mandatória para o sucesso do nosso modelo de negócios”, afirma Frederico Marchiori, gerente sênior de Relações Institucionais da Oxiteno.


A empresa produz especialidades químicas que servem como matéria-prima para indústrias de mais de 30 setores e dizem respeito ao dia a dia das pessoas, com aplicação em produtos como de limpeza, cuidados pessoais, agroquímicos e tintas e revestimentos.

“A indústria química é tão essencial que sem ela não teria sido possível atravessar a pandemia. É por meio dela que conseguimos garantir o fornecimento de produtos de higiene e limpeza e alimentos para garantir a segurança da população”, diz o gerente sênior.

O México é o sétimo principal parceiro comercial do Brasil, com participação de 2,3% na nossa corrente de comércio em 2019. Ao todo, 68% das nossas exportações para o México são de produtos manufaturados.

O país é o principal destino das exportações brasileiras de motores para veículos automóveis e, de outro lado, a principal origem das nossas importações de veículos, atrás apenas da Argentina. 

Com a Covid-19, criação de um ambiente favorável de negócios torna-se ainda mais relevante

O presidente da Braskem Idesa, Stefan Lepecki, destaca que o México possui 13 tratados de livre comércio com 50 países, mas não com o Brasil. A seu ver, o contexto atual de pandemia pode ser um catalizador para os países avançarem em uma agenda conjunta. Ele destaca especialmente a importância de uma transição para modelos de economia circular, de modo a evitar a proibição de atividades ou aplicações na indústria de plásticos e incentivar o crescimento das cadeias de valor da reciclagem e de novas tecnologias.


“Para a Braskem, o México é um ponto de produção muito importante e que nos permite o acesso ao mercado da América Central, Caribe e Estados Unidos, além do mercado local de forma bastante competitiva”, diz Lepecki.


Gustavo Werneck, CEO do Grupo Gerdau e presidente do Conselho Empresarial Brasil-México (Cebramex), afirma que um momento desafiador como o de saída da crise desencadeada pela pandemia de Covid-19 torna ainda mais relevante a criação de um ambiente favorável de negócios para os dois países. “O setor privado tem papel essencial na retomada do crescimento econômico, apoiado por negociações governamentais bilaterais que poderão contribuir positivamente para a retomada do fluxo de comércio entre investimentos entre as duas nações”, diz.

Além do livre comércio, o setor privado defende a negociação de acordos como o previdenciário e o de reconhecimento mútuo entre os programas de Operador Econômico Autorizado (OEA). Outra demanda é a atualização da Convenção para Evitar a Dupla Tributação entre os dois países, para reduzir o custos dos investimentos bilaterais, como na tributação incidente sobre o envio de dividendos.

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