Venda de caminhões empaca por falta de produtos; ônibus seguem em forte retração

Emplacamentos de comerciais pesados sofrem segunda queda mensal seguida

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 02/10/2020 - 16:35
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
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    Em direção oposta ao segmento de veículos leves que em setembro registou o melhor mês de vendas de 2020, os emplacamentos de comerciais pesados pararam de se recuperar e sofreram a segunda queda mensal seguida. Após a baixa histórica em abril, na esteira dos efeitos da pandemia de coronavírus, os negócios de caminhões e ônibus vinham crescendo mês a mês até atingir o pico em julho, quando os licenciamentos somaram números até maiores do que os registrados nos dois primeiros meses do ano, antes portanto do impacto da Covid-19 sobre a economia. Depois disso, no entanto, o desempenho entrou em espiral de retração cada vez mais acentuada sobre o mês anterior.

    Em setembro foram emplacados 7.411 caminhões no País, segundo relatório da Fenabrave, a associação que reúne os concessionários, divulgado na sexta-feira, 2. O resultado é 8,3% mais baixo do que o registrado em agosto e 20,3% inferior ao registrado no mesmo mês de 2019. No acumulado de nove meses foram vendidos 62.626 caminhões, o que representa queda de 16,2% na comparação com igual período do ano passado.

    Alarico Assumpção Jr., presidente da Fenabrave, explica que o problema no segmento não é falta de demanda, que continua tão aquecida quanto verificou-se logo após o impacto inicial da pandemia, mas sim de escassez de produtos para pronta-entrega, o que vem freando o ritmo de recuperação das vendas de caminhões.

    “O mercado de caminhões continua com uma forte demanda, em todos os seus subsegmentos, e não foi melhor pelos problemas gerados na produção, causados ainda pela falta de componentes e pela baixa capacidade dos seus principais fornecedores”, afirma Alarico Assumpção Júnior.



    O dirigente destacou ainda que também não há problema na concessão de crédito, que está correspondendo ao aumento da demanda: “Notamos uma boa oferta, com a manutenção de taxas abaixo de 1% e aprovação de oito para cada dez solicitações. Com isso, vem crescendo o número de pedidos para 2021”, apontou.

    Com parte das vendas empacadas pela falta de produtos e a consequente desaceleração da recuperação do segmento, a Fenabrave melhorou com moderação sua projeção de vendas de caminhões este ano, estimando o emplacamento de 86,6 mil unidades, o que representaria baixa de 15% sobre 2019 – em julho a entidade previa retração de 18,6%.

    ÔNIBUS



    Em sua primeira revisão de projeções divulgada em julho passado para o mercado automóveis e comerciais leves, a Fenabrave previa queda nas vendas de 37,1% e este mês melhorou a perspectiva projetando retração de 29,4%, para 1,88 milhão de unidades em 2020. A entidade estima recuo maior nas vendas de veículos leves de passageiros (1,55 milhão e -31,5%) e menor no caso de utilitários (329 mil e -17,1%). Para o mercado de caminhões, a projeção que era de queda de 18,6% este ano agora passou a um recuo menor, de quase 15%, o que resultará em 86,6 mil unidades vendidas. Segundo a Fenabrave, restrições de componentes e ritmo mais lento na produção estão freando o ritmo de recuperação do segmento, que vinha em passo mais acelerado até o meio do ano.

    Para as vendas de ônibus a Fenabrave projeta tombo de 33,1%, para 18,2 mil unidades. Apesar de o segmento ter sido o mais afetado pela pandemia com restrições a viagens e receio de se tornar foco de contágio da Covid-19, a queda prevista agora é menor do que a estimada em julho, quando a entidade esperava o emplacamento de apenas 16,5 mil ônibus, o que representaria retração de 39,1%.

    O mercado de motos também se aqueceu, mas sofre com a falta de componentes para a produção e de muitos meses de paralisação nas principais linhas de Manaus (AM). Levando esse fator em conta, a Fenabrave projeta queda nas vendas de 17,7% este ano, para 887,3 mil unidades emplacadas – na previsão anterior a entidade estimava tombo bem maior, de 35,8%.

    VENDAS DE CARRETAS DEVEM CRESCER EM 2020



    No segmento coadjuvante ao de caminhões, de implementos rodoviários rebocados (carretas), o ritmo é de franca recuperação, mas também com restrições de produtos a entregar. Em setembro foram emplacados 6,4 mil unidades, em pequena queda de 1,76% sobre agosto, mas em expressivo crescimento de 23% ante o mesmo mês de 2019. Em nove meses o setor soma a venda de 46,8 mil carretas, volume já quase igual ao período janeiro-setembro do ano passado, em ligeiro recuo de 1,88%.

    “Mesmo com as implementadoras trabalhando na sua capacidade máxima de produção, a oferta não conseguiu suprir a demanda. Com isso, os fabricantes continuam operando com pedidos já para o início de 2021”, explica Assumpção Jr. Após o bom desempenho do segmento, a Fenabrave inverteu suas estimativas e agora prevê que as vendas de carretas vão crescer cerca de 3% em 2020, devendo fechar o ano com 65,2 mil emplacamentos – em julho a projeção da entidade era de queda de 7,6%.

    ÔNIBUS TÊM DESEMPENHO PIOR



    O segmento de ônibus foi até agora o mais afetado pela pandemia e segue fortemente impactado. As restrições impostas pela Covid-19 reduziram as frotas circulantes das empresas de transporte urbano e rodoviário de passageiros, cancelando ou postergando planos de renovação que estavam em curso. Até agora, a maior parte do volume vendido é de ônibus escolares em licitações do Programa Caminho da Escola, do governo federal.

    Foram essas entregas que sustentaram altas seguidas nos emplacamentos de ônibus em junho e julho, mas desde então os negócios vêm desacelerando no setor. Em setembro foram registrados 1.535 emplacamentos, o que representa queda expressiva de 13,6% sobre agosto e ainda mais saliente, de quase 34%, na comparação com setembro de 2019. No acumulado do ano as vendas de ônibus somam 13 mil unidades, em baixa de 34% sobre o mesmo período do ano passado.

    A Fenabrave até melhorou sua projeção de vendas de ônibus em 2020, mas de forma comedida. A entidade esperava por queda de 39,1% e agora revisou a baixa para 33,1%, o que corresponde a 18,2 mil emplacamentos no ano.



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