Análise IEDI
A indústria em recessão
A economia brasileira vive, desde o final do ano passado, um quadro de estagnação, mas começa a se aproximar de um novo período de perdas, como sugere o resultado de -0,2% do PIB no primeiro trimestre de 2019, descontados os efeitos sazonais. Enquanto isso, a indústria já se encontra em recessão, acumulando dois trimestres de queda.
Como a indústria, notadamente a manufatura, é o setor que mais estabelece encadeamentos com o restante da economia, sua nova etapa recessiva tem grande possibilidade de se espalhar e atingir a evolução futura do PIB total. Em outros termos, sem crescimento na indústria, dificilmente a recuperação econômica irá deslanchar.
Na série com ajuste sazonal, o PIB da indústria total recuou -0,3% no 4º trim/18 e -0,7% no 1º trim/19. A indústria de transformação, por sua vez, se saiu ainda pior: -0,9% e -0,5%, respectivamente. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o quadro se mantém, com declínio de -0,5% e -1,1% para a indústria total e de -1,5% e -1,7% no segmento de transformação. Ou seja, perdas por todos os ângulos.
Ademais, em se tratando de um setor intensivo em capital, a situação adversa em que se encontra a indústria tem impacto sobre o investimento, que ficou igualmente no vermelho tanto no 4º trim/18 (-2,4%) como no 1º trim/19 (-1,7%) na série com ajuste sazonal. Na comparação interanual, o resultado de +0,9% em jan-mar/19 foi o mais baixo desde que o investimento parou de cair.
Sem investimento e sem indústria não teria como haver recuperação neste início de ano. Mas o mal desempenho no período não se restringe a estes componentes do PIB, como mostram as variações interanuais a seguir.
• PIB Total: +1,3% no 3º trim/18; +1,1% no 4º trim/18 e +0,5% no 1º trim/19;
• Agropecuária: +2,5%; +2,4% e -0,1%, respectivamente
• Indústria Total: +0,8%; -0,5% e -1,1%;
• Serviços Total: +1,2%; +1,1% e +1,2%, respectivamente.
As piores perdas couberam a ramos da indústria, como a construção (-2,2% ante 1º trim/18), em crise desde 2014, e o setor extrativista (-3,0%), sob influência do desastre de Brumadinho, além da indústria de transformação, como mencionado anteriormente. A agropecuária também ficou no vermelho: -0,1% frente ao 1º trim/18.
O setor de serviços foi, assim, o único a manter o mesmo ritmo de crescimento que vinha apresentando, assegurando que o PIB total crescesse ao menos +0,5% em relação ao início de 2018 – embora esta seja sua pior marca desde o 1º trim/17. Apesar disso, alguns ramos de serviços apresentaram as taxas de crescimento mais baixas desde o início de sua recuperação. Foi o caso do comércio (+0,5%) e também de transporte (+0,2%).
Pela ótica da demanda, além do fraquíssimo desempenho do investimento, que é um dos principais propulsores do crescimento econômico, chama também atenção o pífio resultado das exportações: +1% em relação ao 1º trim/18 e -1,9% frente ao 4º trim/18 com ajuste. A escalada das tensões no comércio internacional e a crise da Argentina são fatores importantes para isso e que não devem ser revertidos rapidamente.
Deste modo, o setor externo segue contribuindo muito pouco para a reativação do crescimento. Isso poderia ser diferente não tivesse sido a longa e persistente perda de competitividade do produto nacional, que nem mesmo a desvalorização cambial em 2019 tem sido suficiente para compensar.
Pelo lado do mercado interno, como os gastos do governo permanecem sob constante pressão, quem tem segurado certo dinamismo em nossa economia é o consumo das famílias, que ainda cresce acima de 1%. O problema é que isso pode não durar por muito tempo, se realmente estivermos dando início a mais uma fase recessiva. Neste caso, ainda que haja defasagem, emprego e rendimento serão impactados negativamente.
Na verdade, pode ser que já estejamos vendo uma sinalização inicial deste movimento. Vale observar que o consumo das famílias vem registrando uma desaceleração não desprezível. Na série com ajuste, alta de +0,6% no 3º trim/18 se reduziu para +0,5% no 4º trim/18 e então para +0,3% no 1º trim/19. Em relação ao mesmo período do ano anterior, o resultado da ordem de 3% na entrada de 2018 caiu pela metade ao longo do ano e chegou a +1,3% no 1º trim/19.
As importações seguem na mesma linha, refletindo o enfraquecimento da demanda doméstica. Registraram queda de -2,5% frente ao 1º trim/18 e, nos dados livres de sazonalidade, apresentaram a menor taxa positiva de crescimento desde 2016, de mero +0,5% depois de um declínio acentuado de -6,1% no último trimestre do ano passado.
Segundo divulgado hoje pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil registrou, no primeiro trimestre de 2019, R$ 1,713 trilhão a preços correntes, apresentando retração de 0,2% na comparação com o trimestre anterior, a partir de dados dessazonalizados.
Com relação ao primeiro trimestre de 2018, houve acréscimo de 1,0%. No que se refere à oscilação do acumulado nos últimos quatro trimestres frente a igual período do ano anterior houve incremento de 0,9%.
Ótica da oferta. Frente ao quarto trimestre de 2018, a partir de dados dessazonalizados, houve retração de 0,5% para o setor agropecuário, para o setor da indústria registrou-se decréscimo de 0,6% e para serviços houve acréscimo de 0,2%.
Para os subsetores da indústria, na mesma base de comparação, tivemos incremento no segmento de produção de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana (1,4%). Em sentido oposto, apresentaram retrações os seguintes segmentos: extrativa mineral (6,3%), construção (2,0%) e indústria de transformação (0,5%).
Nos subsetores de serviços, ainda sobre o trimestre anterior e com ajuste sazonal, apresentaram incrementos os seguintes segmentos: outros serviços (0,4%), intermediação financeira e seguros (0,4%), administração, saúde e educação pública (0,3%), serviços de informação (0,3%) e atividades imobiliárias e aluguel (0,2%). Para os demais segmentos houve decréscimos, sendo eles: transporte, armazenagem e correio (-0,6%) e comércio (-0,1%).
Em relação ao primeiro trimestre de 2018, houve crescimento no setor de serviços (1,2%). No entanto, os demais segmentos apresentaram retração: setor industrial (-1,1%) e agropecuária (-0,1%).
Para os componentes do setor industrial, ainda frente ao mesmo trimestre do ano anterior, o único segmento que registrou variação positiva foi produção e distribuição de eletricidade, gás e água (4,7%). Os demais segmentos apresentaram recuos: extração mineral (-3,0%), construção (-2,2%) e transformação (-1,7%).
No setor de serviços todos os segmentos que apresentaram incrementos na mesma base de comparação: serviços de informação (3,8%), atividades imobiliárias e aluguel (3,0%), outros serviços (1,4%), comércio (0,5%), administração, saúde e educação públicas (0,5%), atividades financeiras (0,3%) e transporte, armazenagem e correios (0,2%).
Ótica da demanda. Sob a ótica da demanda, frente ao quarto trimestre de 2018, para dados com ajuste sazonal, a exportação cresceu 3,6%, assim como o consumo das famílias, que aumentou em 0,4%. Por outro lado, as importações retraíram em 6,6%, bem como a formação bruta de capital fixo (-2,5%) e o consumo do governo (-0,3%).
Por fim, na comparação com o quarto trimestre de 2018, os seguintes segmentos apresentaram incremento: importação (0,5%), consumo do governo (0,5%) e consumo das famílias (0,3%). Já os segmentos restantes registraram retração: exportação (-1,9%) e formação bruta de capital fixo (-1,7%).