A direção da fabricante de automóveis francesa Renault confirmou nesta terça-feira (4) o seu interesse em uma fusão com o grupo ítalo-americano Fiat-Chrysler (FCA) e realizará uma nova reunião na quarta-feira (5) para continuar discutindo a proposta, anunciou em um comunicado.
"O conselho administrativo decidiu continuar estudando com interesse a oportunidade de aproximação e prolongar as discussões sobre o tema. Voltará a se reunir na quarta-feira", indicou a Renault.
A montadora ítalo-americana apresentou no dia 27 de maio uma proposta de fusão com a francesa Renault que pode criar a terceira maior montadora do mundo.
Cada metade do novo grupo seria detida pelas respectivas empresas. As ações seriam cotadas em Nova York (Estados Unidos) e em Milão (Itália), disse a FCA em comunicado.
Se a proposta seguir adiante, a aliança de mais de US$ 35 bilhões (R$ 135 bilhões) vai alterar o cenário do mercado para rivais que incluem General Motors e PSA Group, que até recentemente mantiveram negociações não concluídas com a FCA. O negócio também pode incentivar novas transações semelhantes.
A Renault disse à época considerar a oferta como amigável. As ações dos dois conglomerados saltaram mais de 10% com o anúncio da oferta.
De acordo com a Fiat, a fusão resultaria em vendas anuais de 8,7 milhões de veículos e "uma forte presença em regiões e segmentos importantes", gerando € 5 bilhões (aproximadamente R$ 22 bilhões) em economia anual.
A fusão pode criar a maior montadora do Brasil e deve precisar de aval do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) para vigorar no país, segundo pessoas a par das negociações.
O acordo entre as montadoras ainda deve demorar para ser finalizado —um prazo considerado rápido seria até dois meses.
A Nissan, que já tem um acrodo com a Renault, fará uma revisão de seu relacionamento com a francesa se a montadora aceitar a proposta da Fiat Chrysler, disse a montadora japonesa nesta segunda-feira (3).
A proposta em discussão "altera significativamente a estrutura da nossa parceira com a Renault", disse o presidente-executivo da Nissan, Hiroto Saikawa, em comunicado.
"Isso exigirá uma revisão fundamental da relação existente entre Nissan e Renault", disse ele, acrescentando que a chegada da FCA como um novo membro da aliança "poderia expandir o campo de pagamentos para colaboração e criar novas oportunidades para novas sinergias".
Segundo a imprensa da França, algumas indefinições ainda impedem que o conselho de administração da montadora aprove a fusão com a FCA.
Dono de 15% das ações da firma, o Estado francês quer mais garantias sobre a implantação do novo conglomerado no país e a manutenção dos quase 49 mil postos de trabalho da Renault em seu território de origem.
De acordo com o jornal econômico Les Échos, Paris já teria assegurado um assento no conselho de administração da hipotética megaempresa, no qual Renault e FCA controlarão, cada um, quatro cadeiras.
Onde parece ainda faltar consenso é no mecanismo previsto para indicar os futuros executivos-chefes da companhia –nos próximos quatro anos, o cargo ficaria com Jean-Dominique Sénard, atual cabeça da firma francesa. O Estado quer ter peso no conselho de quatro vozes que determinará os ocupantes do posto.
“Não vale a pena se precipitar em uma operação tão complexa”, disse ao Échos uma fonte envolvida nas conversas. “Avançamos, mas tudo isso leva tempo, é normal.”
No conselho da Renault, a junção de operações enfrenta a resistência do representante do maior sindicato de trabalhadores da França (que a trata como uma absorção das tecnologias e da rentabilidade da francesa pela família Agnelli, fundadora da Fiat e controladora da FCA).
No mesmo colegiado, os dois representantes da Nissan (que detém 15% da Renault, e tem na francesa sua controladora) vão se abster de julgamento sobre a fusão.
A montadora japonesa, cuja aliança com a Renault enfrenta turbulências desde a prisão do artífice da união, Carlos Ghosn, no fim de 2018, não participou da fase informal de consultas sobre a joint franco-ítalo-americana.
Além disso, seus dirigentes já expressaram dúvidas sobre as vantagens competitivas de uma eventual associação com a FCA.
Com reportagem de Paris
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