A queda de 1,3% da indústria em março foi influenciada principalmente pelo forte recuo na extração de minério de ferro no Pará e pela produção menor de veículos em São Paulo, informou o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) nesta quarta-feira (8).
A produção industrial no Pará caiu 11,3% em março, na comparação com fevereiro, na esteira da paralisação de operações da mineradora Vale após a tragédia de Brumadinho. Como a extração de minério de ferro representa 86% do total da indústria do Pará, oscilações na atividade têm forte impacto no resultado estadual, informou o IBGE.
A Vale informou nesta quarta que, após o acidente de Brumadinho, a sua produção de minério caiu 28% no primeiro trimestre.
Já em São Paulo, a indústria de veículos caiu devido às chuvas de março que alagaram os pátios das montadoras na região do ABC paulista, atrapalhando a produção, e greves de trabalhadores.
“Houve, também, uma antecipação da produção para fevereiro, em razão do carnaval ter caído em março neste ano”, afirmou o gerente da Pesquisa Industrial Mensal – Regional do IBGE, Bernardo Almeida.
Ao todo, a indústria recuou em 9 das 15 regiões pesquisadas pelo IBGE, como na Bahia (queda de 10,1%) e em Minas Gerais (onde caiu 2,2%).
“O resultado da indústria está sendo determinado pelo alto nível de desemprego e pelo ambiente político, que acarretam cautela na decisão de investimento por parte dos empresários e no consumo por parte das famílias”, disse Almeida.
As principais altas ocorreram no Espírito Santo (3,6%) e no Rio de Janeiro (2,3%).
Carnes e eletrônicos
Já na comparação com março de 2018 a queda é mais intensa, em 12 dos 15 locais pesquisados.
Nessa base de comparação, o Mato Grosso recuou 12,3% por causa da queda na produção de produtos alimentícios (carnes de bovinos frescas, refrigeradas e congeladas), enquanto o Amazonas caiu 10,8% com produção menor de equipamentos de informática e produtos eletrônicos e ópticos (televisores).
A queda paraense foi de 12,5%, ainda por causa da indústria extrativa. No Espírito Santo, o recuo de 11,1% foi puxado pelos setores de celulose, indústrias extrativas (óleos brutos de petróleo) e produtos alimentícios (bombons e chocolates em barras, carnes de bovinos frescas, refrigeradas e congeladas e queijos).
Apenas os estados do Sul, na comparação com março de 2018, registraram alta, segundo o IBGE.
No Rio Grande do Sul, os destaques para a alta de 3,4% foram das atividades de bebidas (vinhos, cervejas, chope e refrigerantes) e veículos, reboques e carrocerias, no caso do Rio Grande do Sul.
Em Santa Catarina, máquinas, aparelhos e materiais elétricos (refrigeradores ou congeladores para uso doméstico e transformadores) e máquinas e equipamentos (silos para cereais) puxaram a alta de 3%.
Já no Paraná os destaques ficaram com produtos alimentícios (açúcar cristal, carnes e miudezas de aves congeladas, rações e carnes de bovinos congeladas), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (óleo diesel, gasolina automotiva e álcool etílico) e máquinas e equipamentos (máquinas para colheita).
Para economistas, as dificuldades em aprovar as reformas e trazer de volta a confiança de investidores e consumidores tiveram impacto sobre o comportamento da demanda interna, que vem sendo insuficiente para compensar a queda nas exportações.
Com o recuo de março, a indústria brasileira acumula queda de 0,1% nos últimos 12 meses. "Se a gente pensar nesses últimos 12 meses, que eram para ser meses de recuperação, a gente está no mesmo ponto de um ano atrás. A indústria brasileira recuou um ano", comentou o economista da RC Consultores Everton Carneiro.
Em março, a produção da indústria brasileira atingiu o mesmo patamar de janeiro de 2009, recuando dois meses em relação ao verificado em fevereiro. O indicador está 17,6% abaixo do pico registrado em maio de 2011.
Dados compilados pela consultoria IHS Markit mostram ainda que a situação não melhorou em abril. O Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês), calculado pela consultoria, teve no mês o resultado mais fraco em seis meses.
Já a confiança do investidor permanece em ritmo lento: de acordo com sondagem realizada pelo Ibre (Instituto Brasileiro de Economia) da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a confiança do empresário da indústria cresceu apenas 0,7 ponto em abril, na comparação com março, ritmo considerado "discreto".
Evolução da indústria por região, em %
Local | Mar/fev | Mar.19/mar.18 | Jan.19 a mar.19 | Acumulado em 12 meses |
Amazonas | -0,5 | -10,8 | -5,1 | -2,1 |
Pará | -11,3 | -12,5 | -0,7 | 7,2 |
Região Nordeste | -7,5 | -7 | -4,4 | -0,7 |
Ceará | -1,7 | -5,4 | 0,3 | -0,1 |
Pernambuco | -6 | -4,4 | -2,4 | 3,3 |
Bahia | -10,1 | -6,6 | -3,5 | -0,3 |
Minas Gerais | -2,2 | -8,2 | -2,5 | -1,3 |
Espírito Santo | 3,6 | -11,1 | -8,5 | -2,3 |
Rio de Janeiro | 2,9 | -1,4 | -1,5 | 1 |
São Paulo | -1,3 | -7,3 | -2,6 | -0,9 |
Paraná | 1,5 | 2,4 | 7,8 | 4 |
Santa Catarina | 1,2 | 3 | 2,8 | 3,7 |
Rio Grande do Sul | 1 | 3,4 | 5,5 | 6,7 |
Mato Grosso | -6,6 | -12,3 | -5 | -1,4 |
Goiás | 2,3 | -1,1 | 2,3 | -4,1 |
Brasil | -1,3 | -6,1 | -2,2 | -0,1 |
Fonte: IBGE
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