Franklin de Freitas – Fábrica em Campo Magro: para o mundo

O que para muitos têm sito motivo de preocupação, para a Betel Uso Único acabou se tornando também uma oportunidade de negócio. É que a empresa, fundada há 19 anos e localizada em Campo Magro, na região metropolitana de Curitiba (RMC), é especializada no mercado hospitalar e industrial. E com os casos de coronavírus no mundo, a demanda por máscaras tripla (também chamadas de máscaras cirúrgicas) disparou, com encomendas de praticamente todos os cantos do planeta.

De acordo com Edgar Pereira da Silva, fundador e diretor da Betel, a fábrica localizada na RMC é hoje capaz de produzir entre 50 e 60 milhões de máscaras por mês. “Mas os volumes que estão chegando são bem consideráveis. Está chegando para nós 200 milhões, 400 milhões (de máscaras encomendadas), um volume fora da curva”, conta o empresário.

Com tamanha demanda, a empresa já aumentou em 35% o efetivo trabalhando apenas na produção de máscaras e a expectativa é alcançar o porcentual de 70% nos próximos meses. “Há uns dois meses já sentimos que a coisa estava bem feia, bem crítica lá fora. Aí já fizemos o segundo turno (na linha de produção), depois o terceiro turno e hoje adquirimos mais duas máquinas e fechamos parcerias com outras fábricas também para produzir para outros países”, comenta ele, destacando ainda que até o final de março serão 12 máquinas (hoje são sete, contando com o parceiro) trabalhando full time somente com as máscaras cirúrgicas.

Além da demanda crescente no mercado interno, explica Edgar, o mercado internacional também tem buscado pelos fabricantes brasileiros para conseguir material. Alemanha, Coreia do Sul, China, Israel, Itália, Polônia e Ucrânia são alguns dos compradores e o foco hoje da empresa está no atacado, ou seja, nas vendas em grandes quantidades.

“A procura está grande a nível nacional e internacional. Na China, por exemplo, são 2 bilhões de pessoas. Agora imagine cada um desses componentes utilizando duas ou três máscaras por dia… A China tem condições de abastecer o país, e estão fazendo isso hoje, mas em contrapartida eles desabastecem o mercado internacional. É onde o Brasil e outros países começam a ter seu retorno.”

Ainda segundo o empresário, a demanda atual é muito maior do que a registrada em 2009, quando houve uma pandemia de gripe A (H1N1). “Quando surgiu o H1N1, surgiu mais a título de um evento que estava acontecendo em separado do mundo, eram alguns países (afetados). Hoje, todos os continentes estão numa epidemia global, então é assustador para o mundo”, aponta.

Variação do dólar faz aumentar o preço do produto na indústria
Hoje, uma máscara tripla é comercializada no mercado por preços entre R$ 0,55 e R$ 0,70, diz Edgar Pereira da Silva, diretor da Betel. Há pouco tempo, porém, o preço chegou a ser consideravelmente menor. É que como o material é precificado através do dólar, a variação cambial, aliado ao aumento da demanda por matéria-prima, acabou provocando uma elevação de custos e, consequentemente, do valor do produto.

“Hoje nosso material é precificado através do dólar. Estamos tendo grande impacto nos valores e estamos redimensionando algumas situações. O impacto está sendo grande”, afirma Edgar. “Hoje consideramos aumentos de 60, 70%. Isso para nós é preocupante, não é muito bom essa elevação para a imagem da empresa. Mas você é carregado, tem de acompanhar, senão você não produz, é abarrotado pelo preço praticado”, complementa.

Desde o final do ano passado e início deste, o dólar vem oscilando para cima, muito por causa do coronavírus. Depois que o Brasil confirmou seu primeiro caso, em São Paulo, na semana passada, a moeda norte-americana disparou e atingiu recorde. Na sexta-feira fechou em R$ 4,481.

Máscaras podem ser usadas por até 5 horas, diz fabricante

Edgar Pereira da Silva destaca ainda que as máscaras cirúrgicas não servem para evitar o contágio, mas sim para não permitir que alguém transmita um vírus. Para isso, as máscaras possuem uma barreira tripla, com barreiras virais e de filtragem, e são feitas com um material sintético, o prolipropileno.

“Por que surgiu a máscara? Simplesmente para evitar salivação ou a inspiração num processo cirúrgico, a contaminação cruzada em sala cirúrgica. Elimino a salivação e não trago a inspiração”, diz o empresário. “A máscara tem eficiência de até 2 horas e meia, caso a pessoa tenha um resfriado ou outro vírus. Então em 2 horas e meia tem de dispensar o material. Se a pessoa não está resfriada, dá para usar por até 4 ou 5 horas.”

Para quem não está infectado, valem as recomendações de higiene, como lavar as mãos, evitar compartilhar objetos pessoais e que são usados na alimentação, também evitar locais com grande aglomeração de pessoas, manter ambientes ventilados, na prática, as mesmas recomendações para prevenir a gripe.

O coronavírus vem avançando pelo mundo e a cada dia um novo país informa sua presença. Hoje, todos os continentes, exceto a Antártica, têm a presença do vírus.