Análise IEDI
Brasil na direção oposta do mundo
Relatório recente da UNIDO (Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial) mostra que o dinamismo da produção manufatureira no mundo todo interrompeu sua trajetória de desaceleração, registrando +2,5% no primeiro trimestre de 2019 frente a igual período do ano anterior. Este patamar de crescimento é quase o mesmo do último quarto de 2018 (+2,4%).
Entretanto, o desempenho não foi homogêneo entre os grupos de países. Nas nações industrializadas, a taxa de crescimento continuou diminuindo: de +1,7% em jul-set/18 para +0,9% em out-dez/18 e então para +0,4% em jan-mar/19. Já nas economias em desenvolvimento e emergentes exceto China, houve alguma aceleração no início de 2019: +2,7%, +0,6% e +0,8% nos três últimos trimestres, respectivamente.
A produção da indústria de transformação chinesa manteve forte dinamismo, maior ímpeto no 1º trim/19 (+7,3%) em relação ao resultado do trimestre anterior (+6,4%). Esta evolução foi creditada pela Unido às políticas de estímulo governamentais, embora tenham pesado as incertezas diante das tensões comerciais com os EUA.
Dentre os países industrializados, foram os asiáticos que puxaram o resultado para baixo em jan-mar/19, sobretudo a indústria japonesa, que registrou queda de -1,1%. Os países da América do Norte também contribuíram para a perda de ritmo, ao contrário dos europeus, cuja manufatura voltou ao positivo em 2019.
Foram os ramos de maior intensidade tecnológica nos países industrializados que lideraram este movimento de menor crescimento em 2019. Neste grupo de países, ocorreram quedas não desprezíveis em equipamento elétrico, máquinas e equipamentos, equipamentos de escritório e computação e veículos automotores. Com isso, no mundo a indústria de alta e média-alta tecnologia cresceu apenas +2,6% em jan-ma/19.
Dentre os emergentes, é a América Latina quem não tem ajudado em nada a reforçar o desempenho geral. A indústria da região manteve-se no vermelho pelo segundo trimestre consecutivo. Em jan-mar/19, a taxa foi de -1,2% frente ao mesmo trimestre do ano anterior.
Este retrocesso latino-americano deve-se principalmente à Argentina, cuja crise econômica levou sua indústria de transformação a um tombo de -10,8% no 1º trim/19. O Brasil, porém, também teve sua parcela de responsabilidade ao recuar -1,6%. Ou seja, o Brasil ainda caminha na direção oposta do mundo.
Este desempenho brasileiro em 2019 converge com os dados de valor adicionado do relatório anual da Unido, analisados na Carta IEDI n. 932, que mostraram perda de participação do país na indústria global em 2018.
Ademais, a contar pelos dados já conhecidos do mês de abril, o Brasil deve continuar contribuindo negativamente para o dinamismo da produção industrial do mundo. A partir de informações do IBGE, OCDE e Eurostat, com ajuste sazonal, o Brasil acumulou queda de -2,7% em jan-abr/19 frente a igual período do ano anterior, colocando-o em 40º lugar em um ranking de desempenho industrial de 45 países elaborado pelo IEDI.
Isso significou para o Brasil uma perda de 4 posições no ranking em comparação com a colocação obtida em 2018 como um todo (36º). Só não estamos piores do que Portugal, Turquia, Noruega, Bosnia Herzegovina e Montenegro.
A indústria de transformação mundial no primeiro trimestre de 2019. O relatório trimestral da UNIDO (United Nations Industrial Development Organization) recentemente divulgado mostra que foi interrompida a desaceleração da produção da indústria manufatureira mundial, muito evidente ao longo de 2018, em função das tensões comerciais entre Estados Unidos (EUA) e China, que respondem por mais da metade da produção do mundo.
No primeiro trimestre de 2019, observa-se uma estabilidade das taxas de crescimento industrial, em um patamar relativamente baixo. Em relação ao mesmo período do ano anterior, a produção da indústria de transformação cresceu 2,5%, praticamente a mesma variação de 2,4% do quarto trimestre de 2018. Em comparação ao trimestre imediatamente anterior (outubro-dezembro de 2018), já descontados os efeitos sazonais, o aumento foi de apenas 0,6%.
As economias industrializadas, porém, mantiveram a trajetória de desaceleração na comparação com o mesmo período do ano passado. A taxa de crescimento da produção manufatureira nesses países tem apresentado queda desde o último trimestre de 2017. Em janeiro-março de 2019, a alta da produção industrial dos países avançados foi de apenas 0,4% em relação ao mesmo período do ano anterior. Tinha sido de 0,9% no trimestre anterior. Cabe destacar a disparidade do nível de dinamismo em relação ao final de 2017: no último trimestre daquele ano, o resultado foi de 3,5%.
Nas economias em desenvolvimento e emergentes, excluindo a China, a indústria de transformação cresceu 0,8% em janeiro-março de 2019, enquanto no trimestre anterior a variação tinha sido de 0,6%, sempre em relação ao mesmo período do ano anterior.
A China, apesar das tensões com os Estados Unidos, registrou crescimento de 7,3% da produção de manufaturas no primeiro trimestre de 2019 (6,4%), visto que no trimestre anterior a variação havia sido de 6,0%. O relatório indica que esse resultado positivo ocorreu devido a medidas governamentais como investimentos em infraestrutura e estímulos das políticas fiscal e monetária.
Resultados por grupos de países
Economias industrializadas. A redução no ritmo de expansão da indústria de transformação contínua desse grupo de países se deveu, segundo a Unido, essencialmente, às desacelerações nas economias industrializadas da América do Norte e do Leste Asiático, que assinalaram, respectivamente, crescimento de 1,8% e decréscimo 1,1% no primeiro trimestre de 2019 em relação ao mesmo período do ano passado. Na Europa a taxa de crescimento da produção manufatureira foi baixa (0,3%), porém registrou melhora em relação ao resultado do trimestre anterior, quando caiu 0,6% na mesma comparação.
Na Europa, o clima de incerteza em relação a data de saída do Reino Unido da União Europeia e os impactos do Brexit levaram a um resultado de baixo crescimento na produção industrial. No primeiro trimestre de 2019, a produção de manufaturas registrou queda em dois grandes países do bloco: Alemanha (-2,3%) e Itália (-0,9%). França e Espanha, por sua vez, conseguiram se recuperar dos resultados negativos do trimestre anterior, registrando alta na produção industrial de 1,3% e 1,1%, respectivamente.
Fora da zona do Euro, os destaques positivos foram: Hungria (6,0%) e Dinamarca (5,1%). O Reino Unido, por sua vez, assinalou alta de 1,2%, e ainda é incerto como a confiança das empresas e as decisões de investimento serão afetadas pelo novo prazo do Brexit para 31 de outubro deste ano.
A expansão na América do Norte foi puxada pela indústria estadunidense, que registrou alta de 1,9%, enquanto o Canadá assinalou crescimento de 1,4% frente ao mesmo trimestre de 2018.
Por fim, as economias desenvolvidas do Leste Asiático registraram a primeira variação negativa na produção manufatureira desde o primeiro trimestre de 2016 foi generalizado. A produção de manufaturas do Japão obteve variação negativa de 1,1% em janeiro-março de 2019, relativamente a igual trimestre de 2018. Outros países do grupo também apontaram queda, com destaque para Taiwan (-3,7%), Coréia (-1,7%) e Cingapura (-0,3%). Malásia (4,0%) e Hong Kong (0,9%), por sua vez, conseguiram resistir a tendência de queda da produção na região.
Economias em desenvolvimento e emergentes. No primeiro trimestre de 2019, indústria de transformação chinesa registrou a maior taxa de crescimento trimestral desde 2015, atingindo variação de 7,3%. Esta melhora na produção industrial em uma conjuntura de incerteza em relação às trocas comerciais com os Estados Unidos está ligada aos investimentos governamentais em infraestrutura e estímulos fiscais e monetários. Os setores que apresentaram melhor desempenho foram: metais básicos (8,9%), eletrônicos e computadores (9,0%) e máquinas e equipamentos (9,8%).
Nas demais economias em desenvolvimento da Ásia, o crescimento trimestral da produção de manufaturas assinalou crescimento de 2,5% no primeiro trimestre de 2019 relativamente a igual período de 2018, apresentando leve desaceleração, visto que no trimestre anterior tinha registrado +2,9%. Os destaques positivos nessa região foram as indústrias de transformação da Indonésia (5,1%) e do Vietnã (4,1%) – que recuperou-se de uma queda na produção no último trimestre de 2018.
Na América Latina, a indústria de transformação manteve-se com variação negativa no primeiro trimestre de 2019. Em janeiro-março de 2019, a produção dos países da região decresceu 1,2% vis-à-vis o mesmo trimestre do ano anterior, sob o efeito da recessão argentina e o declínio da produção industrial brasileira. A produção industrial argentina registrou queda de 10,8% frente ao mesmo trimestre de 2018, enquanto a indústria brasileira decresceu 1,6% na mesma comparação. Por outro lado, a indústria de transformação do México, bem como as da Colômbia, do Chile e do Peru tiveram crescimento positivo com taxas de 0,5%, 2,6% e 1,2% e 0,3%, respectivamente.
Finalmente, as economias emergentes da África apontaram crescimento moderado de 0,7% da produção de manufaturas no primeiro trimestre de 2019, devido principalmente ao desempenho da indústria de transformação da África do Sul (0,5%). Já a indústria de transformação das economias em desenvolvimento do Leste Europeu permaneceu estável (0%) no período de janeiro a março de 2019 frente a igual período de 2018, após uma queda de 2,3% no trimestre anterior. Apesar do crescimento da produção manufatureira acima de 3,5% em diversos países (Albânia, Polônia, Macedônia do Norte, Bulgária, Letônia e Croácia), a produção da Turquia assinalou queda de 5,2%.
Análise setorial. Analisando-se os grupos de intensidade tecnológica, as indústrias de média-alta e alta tecnologia lideraram o crescimento da indústria de transformação na primeira metade de 2018. Desde então, essa categoria de produtos tem registrado uma forte desaceleração. Em janeiro-março de 2019, relativamente a igual período do ano anterior, esse grupo assinalou alta de 2,6%.
De acordo com a UNIDO, o menor ritmo de crescimento da produção de manufaturas de média-alta e alta intensidade tecnológicas ocorreu devido às disputas comerciais entre as maiores economias do mundo, porém está em curso para estes ramos de maior intensidade tecnológica uma mudança estrutural conferindo-lhe papel fundamental no dinamismo industrial e na promoção da inovação a longo prazo.
Por outro lado, as indústrias de média intensidade tecnológica registraram relativa estabilidade da taxa de crescimento no primeiro trimestre de 2019 (3,1%, relativamente a janeiro-março de 2018) devido principalmente ao avanço da produção de aço na China (maior produtor mundial), assim como à produção de metais básicos nos Estados Unidos.
Entre outras atividades, destacaram-se no primeiro trimestre de 2019 a indústria de vestuário (4,3%), produtos de papel (0,5%) e produtos de madeira (0,2%). Também em alta esteve a indústria de produtos farmacêuticos básicos (3,4%), de produtos químicos (3,0%), de coque e produtos petrolíferos refinados (1,6%), de bebidas (2,9%) e de produtos alimentícios (2,3%). Essas últimas duas atividades tiveram grande expansão na China, bem como nos países industrializados.
Ranking Indústria Mundial. A partir dos dados coletados pela OCDE, Eurostat e pelo National Bureau of Statistics of China, o IEDI elaborou um ranking internacional de crescimento da indústria geral com 45 países para o acumulado de 2019 até o mês de abril. Para que o tamanho da amostra fosse o maior possível, optou-se por trabalhar apenas com as séries com ajuste sazonal, ainda que as comparações utilizadas sejam frente ao mesmo período do ano anterior. Usualmente, o IBGE calcula as comparações interanuais a partir das séries sem ajuste.
Cabe observar também que, em função da celeridade na divulgação dos dados da indústria pelos institutos de pesquisa estatística de cada país, o cômputo do resultado acumulado em 2019 para alguns casos considera um período menor, como janeiro-março, enquanto que para a maioria dos países, como o Brasil, o período de referência é janeiro-abril. À medida que o ano avança, menos influência esse aspecto exerce sobre o ranking.
O resultado da produção industrial do Brasil no período janeiro-abril/19 foi negativo, chegando a -2,7%, depois de ter atingido +4,5% em igual acumulado no ano passado e +1,1% no acumulado dos doze meses de 2018.
O desempenho mais fraco da indústria brasileira em 2019 colocou o Brasil na posição 40ª colocação entre os países da amostra. Ou seja, longe dos líderes da expansão industrial em 2019.
O Brasil se posicionou a frente dos seguintes países: Portugal (-3,4%), Turquia (-4,8%), Noruega (-5,0%), Bosnia Herzegovina (-5,2%) e Montenegro (-14,1%). Dentre aqueles que tiveram desempenho superior ao brasileiro destacam-se: China (+6,2%), Rússia (+2,6%), EUA (+2,4%), Reino Unido (+0,6%), África do Sul (+0,6%) e França (+0,5%).