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Após fuga de recursos, Bolsa muda cálculo e passa a ter saldo estrangeiro positivo em 2019

Bolsa passou a incluir no cálculo as compras de ações feitas por estrangeiros em IPOs e follow-ons

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São Paulo

A Bolsa brasileira alterou o critério que usava para medir a movimentação diária de estrangeiros em ações após números mostrarem uma saída massiva desses investidores do mercado.

Desde pelo menos 1994, segundo série da própria B3, eram consideradas as operações de compra e venda no mercado secundário, que medem fluxo diário de entrada e saída de dinheiro estrangeiro. 

Na sexta (6), a empresa passou a incluir no cálculo as compras de ações feitas por estrangeiros em IPOs (operações de abertura de capital) e follow-ons (que podem ser com novas ações ou venda de ações detidas por um grande acionista), que são realizadas apenas esporadicamente. Como exemplo, em agosto não há registro de nenhuma dessas operações.

A alteração ocorre após uma sequências de notícias que mostravam a saída de investidores do mercado local mesmo após a aprovação da primeira etapa da reforma da Previdência, em julho. 

O movimento ocorreu na contramão da visão otimista do mercado, de que os estrangeiros voltariam ao país com a adoção de medidas capazes de reequilibrar as contas públicas, sendo as novas regras de aposentadoria a mais fundamental delas. 

“O negócio da Bolsa é [negociação de] ações, e o investidor estrangeiro saindo é ruim para a Bolsa. Talvez seja para mostrar que não está tão ruim assim, não é tão negativo assim em relação estrangeiros”, afirma Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV EESP.

Em 2019, só houve entrada líquida de dinheiro estrangeiro na Bolsa em janeiro e em março.

Desde julho, justamente quando houve a primeira aprovação da Previdência na Câmara, os saques se intensificaram. No acumulado do ano, já foram retirados da Bolsa R$ 23 bilhões por investidores de fora do país. O montante é mais que o dobro dos mais de R$ 10 bilhões sacados no ano passado.

Reportagens do Valor Econômico chegaram a apontar saída recorde de dinheiro em agosto, em volume superior ao da crise de 2008 (em termos nominais).

Segundo especialistas, o principal motivo para o saque de dinheiro estrangeiro tem pouca relação com o noticiário doméstico: é motivado pelo aumento do risco no exterior devido ao agravamento da guerra comercial entre EUA e China e também pelos temores de desaceleração global. Nesse cenário, eles preferem ativos mais seguros a manter recursos em mercados emergentes.

O argumento da Bolsa e de defensores da nova metodologia de cálculo é que há um interesse de investidores estrangeiros pelo mercado brasileiro, já que eles têm participado das ofertas de IPO e follow-on. Sem considerar esses negócios, apenas parte da história estaria sendo contada.

Foram 19 operações até julho, sendo a mais expressiva delas a privatização da BR Distribuidora por meio da venda de ações detidas pela Petrobras. No negócio, a companhia captou R$ 9,6 bilhões, sendo 45% do dinheiro de investidores internacionais.

Com a inclusão dessas ofertas, o saldo estrangeiro do ano deixa de ser negativo e fica positivo em R$ 1,7 bilhão. No ano passado, persiste a saída de R$ 5,7 bilhões.

“O volume de recursos estrangeiros que entra no mercado brasileiro por meio de ofertas primárias é muito relevante. Considerar apenas o mercado secundário despreza inclusive a possibilidade de o dinheiro do investidor não residente estar migrando de um papel para outro dentro do próprio mercado brasileiro”, afirmou em nota Adolpho Bianchi, superintendente de Produtos, Serviços de Tecnologia e Market Data da B3.

Para o professor da FGV, não é possível afirmar que o mesmo investidor deixou o mercado secundário para participar da oferta primária de ações.

Procurada, a B3 disse também por nota que “os dados continuam os mesmos já divulgados anteriormente” e que o objetivo é “atender o pedido de participantes de mercado, que desejam consumir os dados de forma combinada, com a intenção de aprimorar a análise e entendimento do fluxo de investimento estrangeiro em nossos mercados”.

A Bolsa suprimiu, porém, a forma anterior de divulgação, informando apenas os dados consolidados na nova metodologia.

Existe ainda um ruído que mostra a dificuldade de comparar os dois dados. Enquanto o fluxo do mercado secundário é diário, com atualização dos números com atraso de dois dias, os números de IPO e follow-on seriam atualizados uma vez por mês, no quinto dia útil. 

A disparada que levou o Ibovespa a superar o patamar simbólico de 100 mil pontos foi inteiramente sustentada pelo investidor local pessoa física e gestores de fundos.

A euforia ajudou a elevar os ganhos da B3, que tem capital aberto. No segundo trimestre, a receita da Bolsa com o mercado acionário saltou 18,2%, para R$ 1,06 bilhão, respondendo por quase 65% de todo o faturamento bruto da B3.

O lucro líquido foi de R$ 785 milhões, queda de 8,5%, reflexo de alta nas despesas. 

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