Fabricantes de veículos projetam crescimento menor em 2019

Expectativa da Anfavea sobre o aumento das vendas passa de 11% para 9% com relação a 2018

Por SUELI REIS, AB
  • 07/10/2019 - 16:55
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
  • 3 minutos de leitura

    A Anfavea, associação das fabricantes de veículos, refez sua projeção de vendas para 2019 e aponta que o crescimento do mercado será menor do que o esperado anteriormente. Na nova previsão divulgada na segunda-feira, 7, a entidade baixou de 11,4% para 9,1% a estimativa de alta das vendas domésticas e agora espera o emplacamento de 2,80 milhões de unidades, na soma de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, contra o volume de 2,86 milhões previstos ainda em janeiro.



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    O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, argumenta que a primeira previsão feita nos meados de novembro e dezembro do ano passado e divulgada em janeiro foi baseada em uma expectativa econômica diferente do que está atualmente. O executivo lembra que naquela época, logo após as eleições, a indústria trabalhava com um PIB de 3% a 3,5% para 2019 e esperava uma economia mais positiva com a consolidação das reformas, que continuam tramitando no Congresso Nacional.

    Vale lembrar que o relatório Focus com as projeções do Banco Central divulgado nesta mesma segunda-feira mantém pela quarta semana um crescimento do PIB que beira a estabilidade com alta de 0,8% sobre o ano passado. Há 12 meses, a estimativa estava em 2,5%. Apesar disso, a meta da Selic para fechar o ano está em 4,75% (a taxa atual é de 5%) enquanto a estimativa para o IPCA (que mede a inflação) está em 3,4%.

    Com a mudança do cenário para uma economia estagnada e outros fatores, como a demora do Legislativo em aprovar a reforma da previdência e o agravante da crise na Argentina, o presidente da Anfavea confirmou a necessidade de revisar as projeções.

    NÚMEROS: O QUE MUDOU


    Em janeiro, as fabricantes esperavam emplacar 2,86 milhões de veículos em 2019, volume derivado da soma de automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. Naquela época, isso significava um aumento de 11,4% sobre os 2,56 milhões licenciados no ano passado. No entanto, cada segmento em sua particularidade se comportou de maneira bem diferente ao longo do ano, com destaque para a forte recuperação do mercado de caminhões graças à demanda do agronegócio por modelos de alta capacidade de carga.

    Para se ter ideia das diferenças, no acumulado de janeiro a setembro, os licenciamentos de veículos pesados (caminhões + ônibus) somam pouco mais de 84,4%, alta de 41,4% no comparativo anual. No mercado de veículos leves, a demanda até permaneceu dentro do previsto, mas indicadores como a baixa confiança do consumidor e a alta do desemprego enfraqueceram a intenção de compra das pessoas. Ao mesmo tempo, as vendas diretas das montadoras para pessoas jurídicas e também físicas elevaram sua participação nos emplacamentos para 45%, o maior patamar histórico. Tal volume inclui locadoras, frotistas que prestam serviços e que atendem empresas que não querem ter frota própria, licitações governamentais e também PCDs (pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida). Esse efeito ajudou a manter os níveis de vendas acima dos volumes do ano passado, mas com crescimento menos expressivo: nos nove meses completos do ano, as vendas foram 8,8% maiores no comparativo anual, para 1,94 milhão de unidades, entre automóveis e comerciais leves.

    Na soma de leves mais pesados, as vendas de veículos atingiram os 2,02 milhões de unidades licenciadas entre janeiro e setembro, o que não se via desde 2014 para o acumulado de nove meses. No entanto, a Anfavea reajustou os volumes de previsão de vendas para os dois segmentos: nos leves, a nova estimativa aponta para o emplacamento de 2,67 milhões de automóveis e comerciais leves, o que representará um aumento de 9,1% sobre os 2,56 milhões feitos no ano passado. Em sua estimativa anterior, era esperado o licenciamento de 2,86 milhões e alta de 11,4%. No caso dos leves, o volume diminuiu em 234 mil unidades, enquanto nos pesados aumentou em 32 mil.

    “É um ajuste técnico, pequeno. Não representativo”, defende Moraes.


    O QUE A ANFAVEA ESPERA DE 2020?


    Embora ainda não comente sobre os números de mercado para 2020, Moraes aponta que a Anfavea vai considerar um PIB que ele chamou de moderado ao definir as projeções do ano. O produto interno bruto poderá contar com um fator positivo, a liberação de parte do FGTS para a população, que pode injetar até R$ 40 bilhões na economia, adicionando cerca de 0,3% a 0,5% no PIB. Ele aponta também aponta outros fatores que deverão ser incluídos na análise econômica e de mercado da entidade, como a tendência de queda da Selic e que pode continuar no próximo ano, além da inflação sob controle.

    “Vemos [2020] com mais otimismo; acho possível ter um PIB 2% maior, que é razoável. A taxa de juros é um item importante, para este ano se fala em uma Selic de 4,75% e até de 4,5%. Com isso os bancos estão mais propensos a dar crédito ao setor automotivo: aumentou a competição e esse efeito vai se propagar no ano que vem com a taxa caindo um pouco mais. A expectativa é de que com os riscos sob controle a oferta adicional de crédito para o setor seja de 20%”, afirma.

    Segundo o executivo, é esperado mais investimentos em infraestrutura a partir de 2020, estimado em R$ 208 bilhões para os próximos anos, com a promessa das privatizações, que podem elevar a necessidade de obras em diversos setores.

    “Em 2020, o impacto [dos investimentos] não será muito forte, será maior a partir de 2021 ou 2022, mas começa em 2020”, afirma.

    Além disso, ele reforça sua defesa sobre a necessidade de concluir a reforma da Previdência, que está em fase de voto no Senado.