Após tombo de segunda, Bolsa tem recuperação e sobe 7%

Dólar cai 1,8% e volta para R$ 4,64

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São Paulo

A Bolsa de Valores brasileira teve um pregão de recuperação nesta terça-feira (10), após tombar 12,17% na véspera, a pior queda desde 1998. Nesta sessão, o Ibovespa subiu 7,14%, a 92.214 pontos, na maior alta diária desde janeiro de 2009. A alta foi liderada por Petrobras e Vale, que subiram 9% e 18%, respectivamente.

O real também voltou a ganhar força nesta terça. A cotação do dólar comercial caiu 1,7%, a R$ 4,647. O turismo caiu para R$ 4,83 na venda. No ano, o dólar acumula alta de 15,76% ante o real.

Nesta sessão, o Banco Central vendeu US$ 2 bilhões à vista para dar liquidez ao mercado e reduzir a alta da moeda. Para quarta (11), a instituição volta aos leilões de swap cambial, contratos que remuneram o investidor pela variação cambial, o que ajuda a reduzir o preço do dólar. Serão ofertados, entre 09h20 e 09h30, até 20 mil contratos de swap, que totalizam US$ 1 bilhão.

Operador da Bolsa de Nova York observa painéis com oscilações do mercado
Nesta terça (10), mercados acionários de Estados Unidos e Brasil têm recuperação parcial após tombos da véspera - Xinhua/Michael Nagle

​Nesta terça, investidores aproveitaram as fortes quedas para ajustar as carteiras, otimistas com estímulos econômicos nos Estados Unidos.

“Ontem foi totalmente atípico, porque muitos fundos são obrigados a seguir a política de risco e se desfazem de ações a qualquer custo, mas hoje já refizeram posição. Agora, a pessoa física também está mais consciente, muitos voltaram a comprar hoje”, afirma Rodrigo Moliterno, chefe de renda variável da Veedha, corretora ligada à XP.

Segundo a política de risco, um fundo é obrigado a vender ações caso a queda do Ibovespa atinja determinado patamar, de modo a proteger seus investidores. Segundo Moliterno, este patamar é em torno de 7% a 10% de desvalorização do índice.

No início da noite de segunda, o presidente Donald Trump afirmou na véspera que trabalha com a possibilidade de cortar impostos sobre os salários para apoiar a economia no combate ao surto de coronavírus.

Na tarde desta terça Trump se reuniu com senadores republicanos para discutir a medida. Segundo agências de notícias, o presidente considera duas opções: reduzir os impostos até novembro, época das eleições presidenciais, ou fazer um corte permanente nas taxas.

Um corte nos impostos sobre a folha de pagamento pode incentivar os gastos dos consumidores e auxiliar as famílias que, de outra forma, poderiam ter dificuldades em quitar, pontualmente, pagamentos de aluguel e hipotecas ou pagar contas médicas caso o horário de trabalho dos membros da família sejam reduzidos durante o surto do coronavírus.

Com a iniciativa de Trump, as Bolsas americanas tiveram fortes altas. Dow Jones, S&P 500, e Nasdaq subiram 4,9% cada uma.

O contrário aconteceu na Europa. Segundo a agência de notícias Reuters, a chanceler Angela Merkel não acredita que a Alemanha precise de plano de estímulo econômico no momento para conter os efeitos econômicos do coronavírus, e sim, injeção de liquidez. Ainda segundo a Reuters, Merkel afirmou que todos os eventos e atividades que não são essenciais deveriam ser cancelados para conter a doença.

Na segunda, o governo da Alemanha anunciou um pacote de socorro para empresas prejudicadas pelo novo coronavírus e um programa de investimentos públicos para evitar a recessão.

Segundo o Ministério das Finanças da Alemanha, o governo vai garantir liquidez para empresas que enfrentem quedas bruscas de receita e ampliar o acesso a um programa estatal que permite às empresas reduzir o número de horas trabalhadas por seus funcionários, para evitar picos de desemprego.

Também foi anunciado um plano de investimento público de 12,4 bilhões de euros (mais de R$ 60 bilhões) nos próximos quatro anos, além de 8 bilhões de euros (R$ 40 bi) em obras rodoviárias e ferroviárias e fundos para construção civil.

Após a negativa da maior economia da Europa a maiores estímulos, índices acionários inverteram o movimento de recuperação e fecharam em queda. O índice Stoxx 50, que reúne as principais empresas europeias, caiu 1,66%. A Bolsa de Paris caiu 1,5% e a de Frankfurt, 1,4%. Londres fechou estável.

Com o aumento de casos do coronavírus, Espanha e Itália tiveram quedas mais expressivas: 3,2% e 3,3%, respectivamente.

No Brasil, o otimismo americano deu suporte a recuperação do Ibovespa, que apagou mais da metade das quedas da véspera, quando o circuit breaker foi acionado com queda superior a 10% na abertura do pregão.

Também contribuiu a alta no preço do barril de petróleo. O contrato futuro do tipo Brent subiu 8,3%, a US$ 37,22, após tombar 24% na segunda.

A Petrobras, que teve a maior queda da Bolsa na véspera e sua pior desvalorização diária da história, perdendo R$ 91 bilhões em valor de mercado, apagou parte da queda. As ações preferenciais (mais negociadas) subiram 9,4%, a R$ 17,56. As ordinárias (com direito a voto), 8,6%, a R$ 18,36.

Já a Vale superou o tombo de 15% da véspera, com alta de 18% nesta terça, a R$ 44,81, com alta de 3,3% do minério de ferro. A mineradora teve a segunda maior valorização do Ibovespa, atrás apenas de Via Varejo que disparou 22% após cair 17% no pregão anterior.

O risco-país brasileiro, medido pelo contrato de CDS (Credit Default Swap) de cinco anos caiu 3,4%, após subir 30,3% na segunda, uma das maiores altas da história em um dia. O índice, agora, está a 179 pontos, patamar de maio de 2019.

Nesta terça, foram divulgados os dados da indústria brasileira em janeiro. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), após dois meses de queda, a produção industrial brasileira cresceu 0,9% em janeiro, na comparação com o mês anterior. No acumulado de 12 meses, porém, a indústria mantém uma queda de 1%.

"A divulgação, em si, foi positiva, mas ainda não permite maior otimismo com a atividade econômica no trimestre por dois motivos: trata-se praticamente de uma devolução do desempenho ruim de dezembro, e indicadores prévios relativos a fevereiro sinalizam nova retração da produção industrial",  diz Felipe Sichel, estrategista do Modalmais, em relatório.

Na comparação com janeiro de 2019, a produção industrial registrou queda de 0,9%, disse o instituto. Foi a terceira perda seguida nesta base de comparação.

De acordo com o IBGE, a alta de 0,9% em janeiro é o melhor desempenho do setor para o mês de janeiro desde 2017 e teve grande influência da categoria de bens de capital, com alta de 12,6% em relação ao mês anterior.

"Por mais positivo seja o dado, ao observar a média móvel de três meses, verificamos que o setor continua estagnado, não respondendo da forma esperada aos cortes de juros implementados desde 2016. O avanço mais significativo do setor só será atingido com, por exemplo, a reforma tributária, que, ao romper com a estrutura vertical de nosso sistema tributário, desonera o setor e cria uma maior disponibilidade de recursos para investir, contratar e elevar salários", afirma a Guide Investimentos, em relatório.​

Em 2020, real é a moeda que mais se desvaloriza no mundo

Apesar da recuperação da moeda brasileira nesta terça, o real é a divisa que mais se desvaloriza no mundo em 2020. Ela está empatada com o peso uruguaio, que também perde 15,76% do seu valor ante o dólar no ano. O peso colombiano vem em terceiro lugar, com perda de 15,5%.

A desvalorização de moedas emergentes reflete uma maior aversão a risco dos mercados globais, que monitoram os impactos econômicos do coronavírus, a desaceleração da economia global e a recente disputa pelos preços do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita, que derrubou cotações.

No Brasil, a Selic na mínima histórica também contribui para o dólar elevado por meio do carry trade, prática de investimento em que o ganho está na diferença do câmbio e do juros. Nela, o investidor toma dinheiro a uma taxa de juros menor em um país, no caso, os EUA, para aplicá-lo em outro, com outra moeda, onde o juro é maior, o Brasil. Com a Selic a 4,25%, essa operação deixa de ser vantajosa e estrangeiros retiram seus recursos, em dólar, do país, o que eleva a cotação.

O mercado precifica um novo corte de juros na próxima reunião de política monetária do BC, em 18 de março. Segundo os contratos futuros de juros, há mais chances e um corte de 0,25 ponto percentual do que de 0,5 ponto percentual. Muitos analistas apontam que, pelo efeito cambial, seria prudente o BC não cortar juros já que o dólar alto encarece produtos importados, o que pode gerar uma inflação acima da meta prevista pelo BC. Para controlar a elevação de preços, a autarquia teria que, rapidamente, voltar a subir juros, um movimento prejudicial ao mercado.

(Com Reuters)

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