Maria Inês Dolci

Advogada especializada na área da defesa do consumidor.

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Maria Inês Dolci
Descrição de chapéu Eleições 2018

Reconstrução do consumo exigirá colaboração e desprendimento

Formas de compartilhamento de recursos humanos, bens e serviços crescem durante a pandemia

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Há muitas dúvidas sobre qual será o ‘novo normal’ pós-pandemia. Mas uma certeza: teremos de nos esforçar e unir para superar a depressão econômica. O consumo das famílias, principal motor da economia brasileira, retraiu-se 6,5% em março. Os números de abril e maio também deverão ser ruins. Como o mundo virou de cabeça para baixo, a reconstrução do mercado de consumo exigirá colaboração e desprendimento, especialmente quando a tempestade passar. Não sei se isso ocorrerá, mas deveríamos nos esforçar nesse sentido.

Na verdade, as pessoas já vinham despertando para algumas formas de compartilhamento de recursos humanos, bens e serviços. Também repensavam hábitos, como o automóvel, roupas e acessórios de grife como símbolos de status.

Não é incomum ver em grupos do Facebook como o "Dicas de Perdizes" —com quase 55.000 membros, geralmente moradores ou interessados na região Oeste de São Paulo—, ofertas e solicitações de doação de produtos.

Também, como diz o próprio nome, trocam dicas sobre itens e serviços, o que se tornou ainda mais relevante durante o isolamento social. Isso fortaleceu, por exemplo, o trabalho de quem passou a confeccionar máscaras para proteção contra o coronavírus.

Fazer máscaras, diga-se, retoma a prática da manufatura, ou seja, da confecção de artigos em casa, à mão ou em máquinas simples, algo corriqueiro antes da Revolução Industrial (surgida na Inglaterra no século XVIII). Certamente, não haveria condições de suprir hoje, exclusivamente com produtos caseiros, todas as necessidades dos bilhões de habitantes da Terra, mas esta forma de produção poderia ganhar mais espaço, em um mundo que, mesmo antes da Covid-19 e da quarentena, já sofria com desemprego e subemprego crônicos.

Partilhar conhecimentos e bens é uma forma inovadora de reduzir o impacto negativo da informalidade, que achata a renda das famílias. Alguém que soubesse consertar uma geladeira, por exemplo, talvez precisasse de algum conhecimento seu. E você, assim, teria a geladeira consertada em troca de suas habilidades.

As mensagens via celular ativaram compras de mercados e profissionais de bairros, o que tem contribuído para a atenuar a perda de faturamento de quem teve de fechar as portas de sua lojinha ou ficou sem encomenda de serviços. E, dessa forma, é abastecida a vizinhança.

Condôminos em grupos de WhatsApp, além de apoio mútuo e discussões sobre questões do prédio, também têm exercitado o desapego. Às vezes, uma poltrona, substituída por uma nova em um apartamento, passa a proporcionar conforto a um vizinho ou conhecido dele.

Pais têm enfrentado dificuldade para pagar boletos de escolas particulares. Por que não pensar na criação de cooperativas de ensino?

Faz muito tempo que as empresas praticamente se igualam em tecnologia, estrutura e qualidade. O que as diferenciava, mais recentemente, além do marketing, era o nível dos serviços e a proximidade dos consumidores. Esses diferenciais serão ainda mais importantes na reconstrução do que o vírus tem destruído, se também acrescermos a eles relações mais igualitárias, consumo consciente e colaborativo.

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