ZF desenvolve câmbio automático de 8 marchas para aplicação em veículos comerciais

PowerLine está em fase de testes no Brasil e na Europa; projeto visa modelos Euro 6

Por SUELI REIS, AB
  • 27/08/2019 - 18:15
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
  • 2 minutos de leitura

    Acaba de sair do forno da ZF e está em fase de testes no Brasil e também na Europa o câmbio automático PowerLine para aplicação em veículos comerciais pesados com potência de até 300 cv: caminhões semipesados com PBT entre 15 e 26 toneladas e ônibus midi (micrões) de 10 a 13 metros de comprimento. O projeto é inspirado na transmissão elétrica 8HP dedicada a veículos leves, incluindo híbridos, e que foi apresentada em junho deste ano pela matriz na Alemanha.

    O produto está sendo apresentado para todas as montadoras, tanto no Brasil quanto na Europa. Por enquanto, os testes estão sendo feitos em veículos protótipos, dos quais oito estão em clientes europeus e dois em clientes brasileiros. A expectativa é de que os testes em frotas reais sejam feitos já no ano que vem.

    Segundo Israel Vale, head de negócios e engenharia para transmissões comerciais da ZF no Brasil, ainda não há previsão de lançamento da PowerLine seja aqui ou na Europa: “A intenção agora é buscar aplicação nos clientes”, pondera. Contudo, já comemora a reação e a boa aceitação dos clientes: “Houve quem disse que parece ser uma transmissão elétrica, porque não percebem a modularização e a troca de marchas.”

    O executivo afirma que a produção em série está planejada para iniciar em 2021 na Alemanha e há planos para talvez alocar sua fabricação na América do Norte, mas sinaliza que não há planos de montá-la no Brasil em sua planta de Sorocaba (SP) no curto ou médio prazo. Ele diz que é necessária uma demanda de 50 mil a 60 mil unidades por ano para justificar a fabricação local.

    Embora não haja uma data de lançamento prevista, a ideia da ZF com a nova transmissão automática para pesados está casada com a introdução da nova legislação de emissões para veículos comerciais Proconve P8, equivalente à norma europeia Euro 6 que entra em vigor em 2022 para novos projetos e passa a valer em 2023 para todos os modelos existentes. Segundo Vale, a intenção é pegar uma carona e aproveitar a janela do Euro 6 para trazer a tecnologia” e indica que motivar um desenvolvimento de forma isolada sem um apelo não faz sentido.

    CAIXA INTELIGENTE


    A nova caixa de câmbio automática PowerLine carrega consigo um alto grau de evolução e de tecnologia agregada. Para o especialista em produto Adilson Papa o diferencial não está somente nas melhoras mecânicas que proporcionam maior desempenho ou outros tipos de ganhos, como menor consumo de combustível ou prolongamento da troca do óleo, mas em toda a sua capacidade de suportar novas tecnologias que potencializam sua função.

    Ele cita alguns sistemas como o Low Speed Maneuvering, que limita o torque em manobras, inclusive em marcha a ré, o que evita arranques bruscos e acidentes em casos de manobras, e o Pré-Vision, que combinado a um GPS antecipa o cenário e a topografia adiante, melhorando o cálculo da troca de marchas.

    Papa participa diretamente do processo de testes que estão sendo feitos no Brasil e responde pela calibração, cujos dados também são enviados para a matriz.

    A nova transmissão automática faz parte do roadmap da ZF em trabalhar com novas caixas de câmbio que atendam a mudança das motorizações de veículos do futuro, como modelos híbridos e elétricos. A própria transmissão elétrica 8HP que inspirou a criação da PowerLine já está sendo encomendada pela BMW e pelo Grupo FCA para equipar seus modelos híbridos a partir de 2022, dada sua evolução tecnológica. Ambas as transmissões - a elétrica 8HP e a automática PowerLine - vão compartilhar do mesmo módulo mecatrônico produzido pela ZF na Alemanha, cuja demanda atual está em 3 milhões de unidades por ano graças ao modelo para veículos leves.

    “Na atual visão da ZF a caixa manual faz parte do passado, o que não quer dizer que vamos parar de produzi-la: teremos o produto disponível, mas a tendência é ver cada vez menos sua participação em nosso portfólio. Acredito que em 10 ou 15 anos não teremos mais as transmissões manuais”, afirma Vale.

    A empresa projeta que até 2025 um porcentual entre 40% e 50% das transmissões terão um nível de sofisticação maior, como as automatizadas, e que a presença de transmissões elétricas será muito maior do que a atual.

    Para se ter uma ideia da mudança interna, o último desenvolvimento da ZF para transmissão manual foi feita há 3 anos: foi um redimensionamento da espessura da carcaça do câmbio para melhora de peso. Atualmente, a ZF ainda fabrica transmissão manual em cinco mercados: Alemanha, Brasil, China, França e Hungria. Por aqui, na planta de Sorocaba, elas representam 60% do faturamento da empresa.