Antes mesmo do Paraná confirmar os prováveis primeiros casos de coronavírus, as instituições de ensino pública e privada já se preparavam para a iminente chegada da doença. Além das recomendações padrões para doenças infecto-contagiosas, como o uso de álcool gel, limpeza reforçada e abertura de janelas e portas das salas de aula para ventilação do ar, a restrição ao uso de bebedouros e até mesmo a antecipação das férias de julho são medidas que estão em pauta.

O Sindicato das Escolas Particulares do Paraná (Sinepe-PR), por exemplo, relata que ainda no começo de fevereiro encaminhou a toda a rede privada uma série de recomendações e explicações sobre o Covid-19. Entre as medidas sugeridas estão a presença de álcool gel nas portas das salas de aula e que os alunos passassem a utilizar garrafas de água individuais, em vez dos bebedouros.

“Hoje estamos meio que ladeados de doenças: coronavírus, sarampo, dengue, meningite… Então pedimos para as famílias que, caso notassem qualquer alteração nas crianças, para que avisem a escola. Não sabemos o que pode vir, mas esatamos seguindo as normativas do Ministério da Saúde”, explica Esther Cristina Pereira, presidente do Sinepe.

Ainda segundo ela, ainda é prematuro falar sobre antecipação das férias de julho ou suspensão das aulas por algum período. “O Ministério da Saúde está fazendo estudos, pensando nessa questão. Mas vamos aguardar, porque se isso acontecer, vai vir uma medida. Hoje recebemos um documento, pode acontecer em cidades específicas, com mais casos”, afirma.

Em Curitiba, no entanto, já há instituições preparadas para uma situação dessas, em que haja necessidade de suspensão das aulas por conta do risco de contágio. É o caso do Colégio Positivo, que há 10 anos, quando houve a epidemia de Gripe A (H1N1), chegou a suspender as aulas por duas semanas.

“É uma possibilidade que trabalhamos, adiantar as férias, recesso de julho. Se isso acontecer, não vamos deixar os alunos desamparados. Vamos publicar aulas online, cobrar exercícios, fazer com que não diminuam o ritmo de aprendizado. Espero que não aconteça, mas estamos preparados”, comenta Celso Hartmann, diretor do Colégio Positivo. “Minha preocupação maior é agora, que vem outono e inverno”, ressalta.

Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), a reitoria informa que montou uma comissão para acompanhar e controlar a propagação do coronavírus na instituição. Em portaria, a administração determina o prazo de 90 dias, prorrogáveis, para que sejam apresentadas ações, programas e projetos, tanto de prevenção e acompanhamento, como de medidas de contenção da propagação do COVID-19.

A comissão é formada por seis servidores docentes e técnicos administrativos da universidade e presidida pelo professor do departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, Emanuel Maltempi de Souza. Fazem parte do grupo as professoras Lucy Ono, do departamento de Patologia; Sônia Mara Raboni; do setor departamento de Saúde Comunitária; Cristina Oliveira Rodrigues, do departamento de Pediatria, a médica Elis Cristina Marques e o superintendente de comunicação Carlos Alberto Martins da Rocha. A primeira reunião deve ocorrer ainda nesta quinta-feira.

Isolamento

Outra medida adotada pelo Colégio Positivo e também pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) foi recomendar aos alunos que viajaram para países que já enfrentam surto da doença que permaneçam em isolamento domiciliar por um período de 14 dias. A PUC, inclusive, montou uma Central do Coronavírus para orientar os estudantes que retornam de viagem. O telefone é (41) 3271-1515 (selecione a opção 0) ou o e-mail [email protected].

“No Carnaval, que passou agora, muitas famílias estavam com viagens programadas e foi quando o surto atingiu a Europa, um destino turístico bastante procurado. Mandamos uma carta de conscientização para os pais, adicionando que quem viajou para áreas de risco para que não enviassem as crianças para a escola, por uma questão de humanidade. Foi uma sugestão, não proibimos a entrada. Creio que fomos pioneiros. Depois, várias escolas em São Paulo seguiram a mesma conduta”, afirma Celso Hartmann, diretor do Colégio Positivo.

Instituições abordam o tema em sala de aula

Nas instituições de ensino pública e privada do Paraná, também teve início há mais de mês a preparação para a chegada da doença em território brasileiro. Ainda em fevereiro, por exemplo, a Secretaria de Estado da Educação e do Esporte (Seed) encaminhou a todas as 2,1 mil escolas do Paraná orientação a respeito da prevenção da doença.

Tais informações, destacou a Seed por meio de nota, foram respaldadas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e também foi realizada webconferência com os servidores da rede sobre a nova doença. “Ainda, a Sesa disponibilizou material gráfico para as escolas imprimirem e alocarem em seus murais, salas e corredores”, explica a Secretaria de Educação.

A pasta também ressaltou ter enviado às escolas sugestões de encaminhamentos metodológicos para abordar temáticas relacionadas à doença em sala. Os encaminhamentos são tanto gerais – como a realização de rodas de conversa e produção de murais informativos – quanto específicos para os componentes curriculares de Arte e Sociologia, Ciências e Biologia, Filosofia e Língua Portuguesa.

Nas escolas municipais, a Prefeitura de Curitiba começou a encaminhar na última semana kits com produtos de higiene e o material pedagógico produzido pela equipe do Departamento de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal da Educação. Escolas, creches municipais e faróis do saber estão recebendo esses kits, compostos por água sanitária, desinfetante, álcool gel, álcool 70%, sabonete, papel toalha, máscara e pulverizador (bombinha).

Ministro da Educação sugere aulas remotas

O ministro da Educação, Abraham Weintraub, divulgou nesta quarta-feira um vídeo nas redes sociais com conselhos para as escolas lidarem com uma eventual situação de emergência do coronavírus no Brasil. No vídeo, ele recomenda que instituições trabalhem com planos de contingência e ainda sugere aulas remotas como forma de evitar aglomerações.

Além do vídeo, o ministro tuitou que “não há razão alguma para pânico”, mas que a pasta orienta instituições de ensino a se planejarem para “medidas emergenciais pontuais”.

Recomendações da Secretaria de Educação às escolas
Deixar abertas as janelas das salas de aula e demais espaços da instituição de ensino para propiciar uma maior circulação de ar;
Disponibilizar dispensers com álcool gel 70%;
Orientar estudantes e servidores em relação à importância de higienizar as mãos com água e sabão ou álcool gel 70%, depois de tossir ou espirrar, após utilizar o banheiro e antes das refeições;
Orientar estudantes e servidores sobre a importância de, ao tossir ou espirrar, cobrir a boca e o nariz com o braço;
Orientar estudantes e servidores a não compartilhar objetos de uso pessoal, como garrafas, copos, talheres e pratos.