Firjan cria polêmica na briga de federações por mais dinheiro da CNI

Crise econômica gera disputa histórica entre as federações de indústrias no país

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Rio de Janeiro

A crise econômica amplificada pela pandemia do novo coronavírus reacendeu uma disputa histórica entre as federações de indústrias no país.

Com receita reduzida à metade por decisão do governo, os representantes de estados do Sul e Sudeste —que concentram maior número de indústrias— passaram a exigir mais dinheiro da cota que cabe à CNI (Confederação Nacional da Indústria) em detrimento das estados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Eduardo Eugênio, presidente da Firjan
Eduardo Eugênio, presidente da Firjan - Ricardo Borges/Folhapress

No fim de abril, o presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, detonou uma crise ao reclamar não apenas do critério de distribuição dos recursos a cargo da confederação mas também da metodologia para a eleição do presidente da CNI, segundo a qual cada federação tem direito a um voto independentemente do tamanho de seu parque industrial.

Em uma videoconferência com presidentes dos sindicatos do Rio, Gouvêa Vieira disse que a maioria dos votos é de “estados que não têm capacidade de atendimento social relevante”.

“Infelizmente eles têm maioria política e estão muito confortáveis, porque conversam lá com o presidente e recebem as benesses que bem entendem. Aqui no Sul é diferente. Temos lideranças íntegras, que administram bem os seus estados”, reclamou.

Ele também chamou de “escândalo moral”, “uma vergonha”, a confederação ter uma reserva de R$ 2,7 bilhões em seus cofres em vez de enviar esse dinheiro aos estados mais poderosos.

Ao usar a primeira pessoa do plural, ele deixou claro que essa não era uma reivindicação apenas do Rio, mas das federações do Sul e Sudeste.

Sua manifestação provocou reação das federações do Norte e Nordeste, que, em notas de repúdio, chamaram de preconceituosa, desrespeitosa e discriminatória.

Já o presidente da CNI, Robson de Andrade, disse que o comentário de Gouvêa Vieira foi injusto e infeliz.

Ele explica que o fundo da confederação, hoje com cerca de R$ 2,6 bilhões, é fruto de uma economia mensal acumulada por duas décadas, sendo seu dinheiro reservado para contingências como a atual.

Ele afirma ter enviado recursos para as federações de todos os estados após a edição da medida provisória 932/20, que reduz em até 50% os recursos destinados ao Sistema S.

Editada em 1º de abril, a MP dispensa as empresas, por três meses, de repassar a metade de sua contribuição mensal ao Sesi (Serviço Social da Indústria) e ao Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).

As indústrias destinam 1,5% de sua folha de pagamento ao Sesi e 1% ao Senai. Até 30 de junho, essa contribuição será reduzida à metade, uma perda de R$ 900 milhões no trimestre.

Andrade calcula uma perda de até 70% da arrecadação programada para o ano, levando em conta o encolhimento das atividades econômicas devido à pandemia. Antes da eclosão da crise, a expectativa de receita era de cerca de R$ 7 bilhões.

Do total arrecadado para o Sesi, 75% são destinados aos estados onde as indústrias estão situadas. Outros 25% são repassados para o comando nacional, sendo 5% desse valor reservados, por exemplo, para a manutenção do conselho nacional do Sesi —que é presidido por Gouvêa Vieira— e 10% para auxílio às federações.

O dinheiro que não é carimbado, e que equivale a 66% dos recursos do departamento nacional, pode ser aplicado em projetos por todo o país.

No caso do Senai, 85% das contribuições se destinam aos estados arrecadadores.

Andrade afirma que o dinheiro é liberado de acordo com projetos aprovados, sendo os do Sesi submetidos ao conselho presidido por Gouvêa Vieira.

“Ele já deve estar arrependido [do que disse]”, afirma o presidente da CNI.

O comando da Firjan voltou a cobrar da CNI a liberação do dinheiro em caixa.

Em nota, a Firjan lembra que a redução da receita foi linear, não considerando a quantidade de atendimentos das instituições. Afirma ainda que, no caso das federações industriais, a medida atingiu mais duramente as do Sudeste e do Sul, onde se concentram os trabalhadores e empresas do setor.

“Enquanto isso, os departamentos nacionais do Sesi e do Senai possuem R$ 2,7 bilhões imobilizados no caixa”, afirma a Firjan.

“Esses recursos precisam ser utilizados na continuidade dos atendimentos do Sesi e do Senai, cuja importância econômica e social foi ampliada com a maior crise da história.”

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