Coronavírus pode gerar forte desaceleração global, alerta OCDE

Países ricos planejam ações econômicas em conjunto para estabilizar mercados

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Paris, Washington, Nova York e Brasília | Reuters

O surto de coronavírus está levando a economia mundial a uma forte desaceleração, afirmou nesta segunda-feira (2) a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). 

O órgão pediu a governos e bancos centrais que lutem para evitar uma queda ainda mais profunda da atividade econômica.

A economia global deve crescer apenas 2,4% este ano, o nível mais baixo desde 2009 e ante expectativa de 2,9% em novembro, disse a OCDE. Esse é o cenário-base do órgão, que  vê risco de uma queda no crescimento durante o primeiro trimestre.

Se o vírus se espalhar pela Ásia, pela Europa e pela América do Norte, o crescimento poderá cair 1,5% neste ano. Esses são os dois cenários traçados pela OCDE, que não descarta condições ainda piores, caso o surto da doença persista de forma prolongada.

Mulher anda em rua de Pequim usando máscara na China
Mulher anda em rua de Pequim usando máscara na China - Nicolas Asfouri/AFP

A organização projetou que a economia possa se recuperar com um crescimento de 3,3% em 2021, caso a epidemia atinja o pico na China no 1º trimestre deste ano e outros surtos sejam contidos.

Para o Brasil, a OCDE manteve a expectativa de expansão de 1,7% em 2020 e 1,8% no ano seguinte. A projeção dos analistas consultados pelo Banco Central estão em, respectivamente, 2,17% e 2,5%.

"A principal mensagem para esse cenário de recuo é que ele colocará muitos países em recessão, motivo pelo qual pedimos que medidas urgentes sejam adotadas nas áreas afetadas o mais rápido possível", afirmou a economista-chefe da OCDE, Laurence Boone.

Ela disse que os governos precisam dar suporte aos sistemas de saúde, com pagamentos extras ou benefícios fiscais para trabalhadores que fazem hora extra, além de permitir esquemas de trabalho para empresas que enfrentam recuo na demanda.

No cenário da OCDE, em que a situação não se deteriora de forma dramática, a China sofrerá o maior impacto. A organização reduziu a estimativa de crescimento do país para a mínima de 30 anos, 4,9%, ante projeção de 5,7% em novembro.

Na zona do euro, onde o número de casos está aumentando rápido, a expansão foi estimada em 0,8%, ante 1,1% em novembro, com a Itália registrando estagnação neste ano. O vírus deve ter impacto limitado sobre o crescimento dos EUA, estimado em 1,9% (2% em novembro), acelerando a 2,1% em 2021.

Também nesta segunda, o FMI (Fundo Monetário Internacional) e o Banco Mundial disseram que estão prontos para ajudar os países-membros a enfrentar os desafios hum anos e econômicos, inclusive por meio de financiamento de emergência.

Em declaração conjunta, as instituições disseram estar concentradas especialmente nos países pobres, onde os sistemas de saúde são mais fracos, e instaram os países-membros a fortalecer a vigilância sanitária e os sistemas de resposta contra o vírus.

Os ministros da Economia do G7 —grupo dos países mais industrializados que reúne Japão, França, Reino Unido, EUA, Alemanha, Canadá e Itália— farão uma teleconferência nesta terça (3) para debater como limitar os danos causados na economia.

Segundo o ministro das Finanças da França, Bruno Le Maire, as principais economias do G7 tomarão ações combinadas e devem discutir a melhor abordagem.

Ainda nesta segunda, o presidente do banco central do Japão, Haruhiko Kuroda, disse que a autoridade tomará as medidas necessárias para estabilizar os mercados.

A Itália vai colocar em prática medidas no valor de € 3,6 bilhões (R$ 18 bilhões).

Na sexta passada (28), Jerome Powell, presidente do Fed (banco central dos EUA), afirmou que agirá para apoiar a economia diante dos riscos para a atividade econômica.

Estrategistas de Wall Street têm reduzido as previsões de lucro das empresas americanas neste ano e estimam agora que o impacto econômico do vírus deva afetar os resultados além do 1º trimestre.

 

O estrategista do Citigroup Tobias Levkovich prevê uma pequena queda em 2020, com o impacto ocorrendo na primeira metade do ano, à medida que surgem paralisações na produção e as viagens são canceladas. No caso de uma recessão global, os lucros poderiam cair perto de 25%.

Na quinta (27), estrategistas da Goldman Sachs disseram que agora esperam que os lucros das empresas S&P 500 fiquem estáveis em 2020.

No Brasil, o governo recebeu relatos de efeitos pontuais sobre os fluxos de comércio do país, mas o surto não teve impacto sobre os dados da balança comercial em fevereiro. Exportadores de carne relataram baixo movimento no começo do mês por não conseguirem desembarcar suas mercadorias por falta de contêiner e mão de obra nos portos chineses.

O Brasil registrou superávit de US$ 3,1 bilhões em fevereiro. As exportações subiram 15,5% na comparação com igual período do ano passado. As importações avançaram 16,7%. "No agregado não conseguimos enxergar impacto significativo agora, a não ser relato das empresas, que é mais rápido", disse o subsecretário do Ministério da Economia Herlon Brandão.

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado em versão anterior deste texto e do título da reportagem, a OCDE afirmou que o surto do coronavírus está levando a economia mundial à sua primeira desaceleração, e não recessão, desde a crise global de 2008/2009. Texto e título foram corrigidos.

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