Com pressão de educação e higiene, inflação fecha fevereiro em 0,25%, diz IBGE

Apesar de alta em relação a janeiro, é o menor índice para o mês desde 2000

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Rio de Janeiro

O IPCA, índice oficial de inflação no país fechou fevereiro em 0,25%, contra 0,21% registrados no mês anterior, informou nesta quarta (11) o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Apesar da alta em relação a janeiro, foi o menor índice para o mês desde 2000.

A taxa veio bem acima das estimativas de analistas ouvidos pela Bloomberg, que previam 0,15%, mas é mais baixa do que os 0,43% registrados em fevereiro de 2019, quando o índice foi pressionado também pelo efeito das chuvas no preço dos alimentos.

Farmácia na região central de São Paulo - Rubens Cavallari/Folhapress

No ano, a inflação é de 0,46%. Em 12 meses, o índice acumula alta de 4,01%, em linha com a meta estabelecida pelo Banco Central para o fim de 2020, de 4%. No último relatório Focus, do Banco Central, o mercado projetava que o índice chegaria a dezembro em 3,20%.

De acordo com o IBGE, a inflação de fevereiro foi pressionada por aumentos nos grupos Educação e Saúde e cuidados pessoais, com altas em cursos regulares e de produtos de higiene pessoal. Por outro lado teve alívio da redução dos preços das carnes, da energia e da gasolina.

O gerente do Sistema Nacional de Índices de Preços do IBGE, Pedro Kislanov, diz que a alta da inflação no mês foi muito concentrada e ainda indica retração da demanda no país. "A economia tem se recuperado mas de uma forma ainda lenta. A demanda está retraída e não se percebe ainda impacto na inflação", afirmou.

A alta no grupo Educação, explicou, é comum no mês de fevereiro, quando o IBGE apropria os reajustes de mensalidades do início do ano. "Mas outros componentes de serviço que refletem bem o comportamento da demanda caíram em fevereiro, como alimentação fora, aluguel e condomínio", comentou.

Segundo Kislanov, ainda não é possível perceber impactos da desvalorização cambial no índice. "O impacto do câmbio leva um tempo para desaparecer. Ainda mais quando se tem uma demanda desaquecida, em que a capacidade de repasse dos custos é limitada." 

Os gastos com educação cresceram 3,7% no mês, puxados principalmente pelo reajustes em cursos regulares (4,42%), item que engloba desde creche ao ensino superior. Já o grupo Saúde e cuidados pessoais (alta de 0,73%) foi pressionado pelos itens de higiene pessoal, que aumentaram 2,12% em fevereiro.

Sozinho, o grupo Educação deu uma contribuição de 0,23 ponto percentual ao IPCA de fevereiro. Saúde e cuidados pessoais contribuíram com 0,10 ponto percentual.

Na ponta negativa, a contribuição mais intensa é do grupo Habitação (queda de 0,39%), com a redução de 1,71% no custo da energia elétrica após o fim da cobrança de bandeira tarifária na conta de luz. O grupo Transportes também teve queda, de 0,23% devido aos menores preços da gasolina (-0,72%) e passagens aéreas (-6,85%).

O preço das passagens aéreas acumula queda de 13,14% no ano, mas o IBGE não vê ainda efeitos do surto de coronavírus, já que a coleta dos dados é feita dois meses antes - isto é, o indicador de fevereiro foi coletado em dezembro, antes do início da crise.

O preço da carne, que havia disparado no fim de 2019 em resposta ao aumento da demanda chinesa, continua em queda. Após recuar 4,03% em janeiro, caiu 3,53% em fevereiro, se tornando o principal impacto individual negativo no índice do mês.

O movimento, porém, ainda não foi suficiente para devolver toda a alta de 32% acumulada em 2019. Nos dois primeiros meses de 2020, segundo o IBGE, o preço da carne caiu 7,42%.

Com queda mais acentuada do preço das carnes, o Rio fechou o mês de fevereiro com deflação de 0,02%. No acumulado do ano, o item registra queda de 16,16% no estado, enquanto no Brasil o recuo foi de 7,42%. Em São Paulo, a inflação em fevereiro foi de 0,23%.

Para março, diz o gerente do IBGE, a gasolina deve continuar puxando o indicador para baixo com o repasse dos cortes de 4% na gasolina e 5% no diesel anunciados pela Petrobras no dia 28 de fevereiro. Com a manutenção da bandeira verde na conta de luz, a energia elétrica tende a se comportar de forma mais estável.

A economista Julia Passabom, do Itaú, avalia que o resultado mostra um cenário de inflação "muito tranquilo" que deve perdurar pelo menos até o fim do primeiro trimestre, pressionado principalmente com o choque no preço do petróleo, que tende a manter os combustíveis em baixa.

Repasses aos preços da desvalorização cambial das últimas semanas, diz ela, devem esbarrar na fraca demanda interna. "O câmbio permanece com fator potencialmente altista, mas, por ora, acho que a queda das commodities mitiga parcialmente esse efeito." 

 
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