Um terço das grandes empresas não prevê orçamento contra incêndio, mostra sondagem

Levantamento inclui 300 firmas; para especialistas, são necessárias punições para mudar a cultura

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Mais de um terço das grandes empresas no Brasil consultadas em uma sondagem não possui orçamento para se prevenir contra incêndios. E não é por que as empresas achem caro se proteger —69% avaliam o custo dessa prevenção como "ideal".

Os dados constam de levantamento do instituto Ipsos feito com 300 grandes empresas (mais de 250 funcionários) em solo nacional e encomendado pelo Instituto Sprinkler Brasil (ISB). Eles revelam que há, sim, preocupação com a segurança. Muitas vezes, ela se dá em função de uma exigência legal.

Das companhias consultadas, 77% consideram o risco de incêndio como um ponto muito importante, e 96% possuem plano de prevenção e combate, assim como uma pessoa responsável para a área. Mas nem sempre isso se traduz em segurança.

Para o coronel Carlos Cotta, coordenador de engenharia de incêndio no Instituto de Engenharia, há uma cadeia de fatores responsável pela baixa prevenção no país, que inclui falta de conhecimento técnico dos responsáveis nas empresas, baixa capacitação de quem fiscaliza, a preferência por produtos baratos e de baixa qualidade no mercado, e uma questão cultural.

"A pessoa pensa 'Meu vizinho também não tem [sistema de proteção], vou arriscar, nunca aconteceu nada'. Existe uma descrença", diz o coronel da reserva.

Dos 34% que dizem não ter orçamento para investir nessa área, o principal motivo citado é a suposta boa condição das instalações.

Os dados foram coletados durante o mês de maio. Foram entrevistados os responsáveis pelas decisões do sistema predial em organizações com mais de 250 funcionários em todas as regiões do Brasil.

Quem trabalha com equipamentos de combate e precaução vê nas respostas à sondagem uma cultura frágil de prevenção. "Existe uma percepção errada quanto ao que é estar bem protegido", afirma Marcelo Lima, presidente do ISB.

"A empresa acha que tem AVCB [certificação dos Bombeiros] na mão e está bem, quando na verdade isso é o mínimo do mínimo para o começo da prevenção", diz. 

Segundo o coronel Cotta, a falta de estatísticas também limita o desenvolvimento na área. "Não se gera essa cultura [de prevenção] por que não aparecem os números. Em outros países tem estatística não só de ocorrências e mortes, mas do gasto que se tem com a reconstrução após incêndio."

Na última quinta-feira (12), um incêndio no Hospital Badim deixou ao menos 14 pessoas mortas no Rio de Janeiro. Não faltam casos trágicos recentes para influenciar a tomada de decisão das empresas —como o do Museu Nacional e do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo.

Mesmo assim, apenas 23% das companhias consultadas afirmou ter considerado o investimento em prevenção e combate após a notícia de grandes incêndios.

Tanto Cotta como Lima, do ISB, defendem leis mais pesadas e a responsabilização para forçar a conscientização. Lima cita como exemplo a Lei Seca, que desde 2008 pune com rigor quem for flagrado alcoolizado ao volante.

"É incrível como perder a carteira [de habilitação] faz com que as pessoas se preocupem. É incrível o número de pessoas que parou de beber [antes de dirigir]", afirma. "A gente está precisando de uma Lei Seca para o incêndio."

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.