FCA espera crescer acima da média na América Latina

Filosa, presidente da FCA Latam: bons resultados na região justificam investimentos

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 12/02/2020 - 19:42
  • | Atualizado há 2 anos, 8 meses
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    Apesar dos ventos contrários na maior parte da região, a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) conseguiu fechar 2019 com alta de participação e lucros na América Latina, com o Brasil compensando a queda de vendas dos demais mercados sul-americanos. Antonio Filosa, presidente da FCA Latam, projeta fazer o mesmo em 2020.



    “O mercado dever ter desempenho fraco na América Latina este ano, prevemos [avanço] de 1,5%, algo em torno de 4,2 milhões de veículos [leves], e o Brasil deve ser o motor do crescimento na região, com 6% este ano, para perto de 2,8 milhões de unidades, mas nós deveremos crescer mais, de 7% a 9%”, estima Antonio Filosa.



    O presidente da FCA Latam acrescenta que a empresa projeta nova queda do mercado argentino em 2020, com retração de 10% a 15% sobre 2019, para menos de 400 mil veículos, enquanto nos demais países da região “devem ficar estacionados”.

    Para o executivo, juros baixos e ampla disponibilidade de crédito vão continuar a impulsionar o mercado brasileiro, especialmente o segmento de vendas diretas para pequenas e médias empresas, onde a inadimplência é muito baixa (cerca de 1%). Filosa avalia que as vendas de varejo, nas concessionárias, também devem crescer, mas em ritmo mais lento, “porque o aumento do consumo das famílias depende fundamentalmente da redução dos níveis de desemprego, que estão caindo, mas devagar”, avalia.

    BONS RESULTADOS NA AMÉRICA LATINA



    Filosa destacou que, no balanço de 2019 divulgado semana passada pela FCA, a América Latina registrou o segundo melhor resultado da companhia no mundo, perdendo apenas para o desempenho da América do Norte (Nafta). Apesar de o faturamento de € 8,4 bilhões na região ter crescido apenas 4% em relação a 2018 – e de significar menos de 8% da receita global de € 108 bilhões –, o lucro antes de impostos e juros (Ebit) de € 501 milhões, com margem de 5,9%, cresceu 40% na comparação com o ano anterior.

    “Perdemos dinheiro em anos recentes com a crise, mas com boas estratégias conseguimos voltar à rentabilidade na região nos últimos três anos”, diz o presidente da FCA Latam.

    A FCA vendeu 577 mil veículos na América Latina no ano passado, em queda de 8% sobre 2018, mas sua participação nas vendas totais da região subiu para 14%. O crescimento de 14,5% no Brasil (contando o avanço combinado de 12,4% da Fiat e 21% da Jeep), com 496.663 veículos vendidos, compensou as quedas nos demais países sul-americanos.

    As duas principais marcas do grupo obtiveram ganho de 1,1 ponto porcentual de market share no mercado brasileiro, sendo 0,6 ponto da Fiat (366,1 mil unidades emplacadas), que subiu a 13,8%, e 0,5 da Jeep (129,4 mil), para quase 5%, somando 18,7%.

    INVESTIMENTOS E AUMENTO DA PRODUÇÃO



    Segundo ressalta Filosa, “os bons resultados obtidos até agora justificam os investimentos na região”. A FCA administra atualmente programa que prevê aportes na operação brasileira de R$ 14 bilhões entre 2018 e 2024. Os recursos estão sendo direcionados em partes iguais de R$ 7,5 bilhões para o Polo Automotivo Fiat em Betim (MG) e o Polo Automotivo Jeep em Goiana (PE), onde parte do investimento é feito pelos fornecedores.

    Betim investe grande parte dos recursos em novos produtos, vai produzir três carros completamente novos, a nova picape compacta Strada a partir de março e dois SUVs em 2021, o que deve elevar a produção da fábrica para o nível considerado “ótimo” por Filosa, para perto de 450 mil unidades/ano. Em 2019, com operação em dois turnos, este número foi de 390 mil – a planta sofreu com a redução das exportações para a Argentina, onde a Fiat tem participação de 14% – e a estimativa é de 400 mil este ano. Mas existe capacidade para muito mais: 600 mil/ano.

    A fábrica de powertrain dentro do complexo industrial de Betim também recebe parte considerável dos investimentos e já opera a todo vapor, em três turnos, inclusive aos sábados. Este ano a unidade deve produzir 1,1 milhão de motores e transmissões, incluindo 280 mil motores aspirados que serão exportados para plantas da FCA na Europa. Até o fim deste ano fica pronta a nova linha de produção dos novos propulsores turbo 1.0 e 1.3, que adicionam capacidade de 200 mil unidades/ano à planta, que foi escolhida pelo grupo como polo exportador global desses modelos.

    Em Pernambuco a produção em três turnos dos Jeep Renegade e Compass e da picape Fiat Toro segue em crescimento ano a ano, na casa de mil veículos por dia. Em 2019 a planta de Goiana produziu 220 mil unidades e este ano deve chegar a 250 mil, sua capacidade máxima. Em 2021 um quarto modelo entra na linha pernambucana, um novo SUV Jeep de sete assentos, que segundo Filosa foi projetado no Brasil e “ficou tão bom que será produzido em outros lugares do mundo” pelo grupo.

    FUSÃO COM A PSA



    A fusão entre FCA e PSA confirmada no fim de 2019 deverá provocar um rearranjo das operações das duas empresas dm todo o mundo, mas Filosa afirma que o processo de união deve ser executado até o fim deste ano e “até lá nada muda, ficamos como estamos, continuamos tocando nossos planos”.

    O executivo reconhece que, com exceção da América do Norte, onde só a FCA tem presença hoje, “existem muitas possibilidades de sinergias entre as duas empresas, principalmente nas regiões da América Latina e Europa, na Ásia-Pacífico as duas poderão unir forças para crescer com planos conjuntos”, avalia.