ANP inicia conversas para regular HVO no mercado brasileiro

Na Europa, o HVO já pode ser utilizado pela gama de caminhões pesados da Mercedes-Benz

Por SUELI REIS, AB
  • 16/10/2019 - 19:35
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
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    A Agência Nacional do Petróleo – ANP – iniciou na quarta-feira, 16, uma série de reuniões para debater como o Brasil poderá adotar a introdução do diesel renovável HVO (óleo vegetal hidrogenado, na sigla em inglês) de forma a regular seu uso no futuro. O biocombustível, que atualmente vem sendo testado na Europa e em outros países, ainda não está em uso no País e não há qualquer regulação a respeito. Com características físico-químicas semelhantes ao do biodiesel, o composto é formado por óleo vegetal ou gordura animal aliada à hidrogênio e sua eficiência se equipara ao do diesel, podendo ser utilizada em motores atuais sem a necessidade de quaisquer alterações. Sua principal vantagem é a redução significativa de emissões e material particulado.

    Em painel realizado nesta quarta-feira, 16, no Congresso SAE Brasil, que ocorre em paralelo à Fenatran, o presidente da Aprobio, Associação dos Produtores de Biocombustíveis do Brasil, Erasmo Carlos Battistella, defendeu a ampliação da gama de biocombustíveis produzidos no País a partir da agregação do HVO e do querosene de aviação renovável (SPK). Logo após sua apresentação, ele se dirigiu ao Rio de Janeiro para participar da reunião com a ANP.

    “A atual mistura B11, que vai chegar a B15 em 2023, poderia começar com H1, por exemplo, mas poderia chegar a H89 [89% de HVO no biodiesel]. O biodiesel já é uma realidade e o HVO é uma oportunidade para consolidar o Brasil como maior produtor de biocombustíveis no mundo”, disse.

    Em sua análise, defendeu que a partir da construção de um marco regulatório sobre como produzir e utilizar o HVO, como já acontece para o biodiesel e etanol, o Brasil poderá ter condições de produzir o combustível em larga escala daqui a três ou quatro anos.

    O vice-presidente de pesquisa e desenvolvimento global da Scania, Jesper Wiklander, que também participou do painel, disse que o Brasil tem uma grande vantagem e oportunidade por ser um grande produtor rural, gerando biomassa para o setor de biocombustível. Para ele, o País tem todas as condições de adotar o HVO imediatamente.

    “A única barreira que vejo hoje é a falta de especificação, mas pelas suas características, todos os veículos a diesel já podem usar o HVO em qualquer proporção, de 1% até 100% sem a necessidade de investir ou alterar os motores. Na Europa temos testes que apresentaram excelentes resultados de eficiência e emissões.



    O executivo defendeu fortemente o uso de biocombustíveis como forma de atingir os restritos níveis de emissões de CO2 que os países se comprometeram quando assinaram o acordo de Paris. “Sabemos que a eletrificação é o futuro, mas vamos demorar chegar lá de forma massiva. Além disso, se toda a frota global fosse elétrica hoje, a redução dos níveis de emissões pelo transporte seria de apenas 37%. Então, a melhor opção atual é utilizar todos os combustíveis alternativos. Precisamos começar a trabalhar juntos para que a mudança realmente aconteça.”

    USINA BRASILEIRA DE HVO NO PARAGUAI


    O presidente da Aprobio lembrou os participantes do Congresso SAE sobre o investimento que sua empresa, a holding ECB Group, anunciou em setembro no valor de US$ 800 milhões para a construção de uma usina de combustíveis renováveis no Paraguai. O projeto Ômega Green idealizado pelo próprio Battistella será a primeira planta dedicada a combustíveis renováveis de segunda geração do Hemisfério Sul. Ela também será a primeira usina para a produção de HVO na região da América do Sul.

    Segundo Battistella, a refinaria será localizada a cerca de 45 quilômetros da capital Assunção, na cidade de Villeta, e também fará a produção de SPK, querosene renovável para uso na aviação.

    O executivo disse que o que os bancos que farão a estruturação financeira do projeto já foram escolhidos e acrescentou que já foram protocolados os pedidos de licença ambiental para o início da construção da usina, que deve ocorrer no primeiro semestre de 2020. A implementação da planta tem duração prevista de 30 meses e a intenção é ter plena capacidade produtiva a partir de 2022.

    “Escolhemos o Paraguai por ter condições econômicas mais favoráveis neste momento; onde a energia custa um terço do que temos aqui no Brasil; a logística também é estratégica: é uma planta também pensada para a exportação como Europa, Canadá, Estados Unidos. Com um custo menor, é mais fácil ser competitivo e exportar”, disse.

    O QUE É O HVO?


    O HVO é um combustível renovável e pode ser produzido a partir de óleos vegetais, como óleo de palma, de soja, de girassol, óleo alto (de aparas de madeira), gorduras residuais (óleo de cozinha) e gorduras animais. Ao colocar os óleos em contato com hidrogênio sob alta pressão, é criado o combustível líquido HVO. Esse processo artificial garante qualidade consistente e diferente do biodiesel, o produto básico não determina a qualidade do combustível. Atualmente na Europa, a Escandinávia, Holanda e Cingapura são importantes países produtores de HVO.