Bolsa não pode aderir a megaferiado contra coronavírus em São Paulo, dizem analistas

Em comunicado divulgado na terça, a Bolsa afirma que negocia com autoridades

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São Paulo

A Bolsa de Valores não pode aderir ao megaferiado contra o coronavírus em São Paulo, afirmam especialistas. Além do risco de fortes perdas no mercado acionário local, a medida geraria um efeito em cascata afetando rentabilidades atreladas ao CDI e vencimentos de contratos ligados a produtos no exterior.

Em comunicado, a Bolsa informou que está negociando com as autoridades para minimizar os efeitos negativos do megaferiado, já que 95% de seus funcionários estão trabalhando remotamente.

Segundo o analista da Guide Investimento Henrique Esteter, o fechamento da Bolsa de Valores por causa de um feriado prolongado, que está sendo organizado pelo estado e pela prefeitura em São Paulo, traz grande insegurança para os investidores locais e estrangeiros, principalmente pelo alto nível de incertezas ao redor do mundo e pela continuidade das operações nos mercados internacionais.

“Há uma forte pressão para que não haja a paralisação do mercado por ‘N’ motivos. Além de os investidores estrangeiros pensarem duas vezes antes de colocar dinheiro em um lugar que cria feriados do nada, isso pode trazer uma enorme volatilidade [termo que define altos e baixos extremos nos mercados financeiros].

Caso o megaferiado seja sancionado pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas, Bolsa de Valores brasileira corre risco de fortes perdas
Caso o megaferiado seja sancionado pelo prefeito de São Paulo, Bruno Covas, Bolsa de Valores brasileira corre risco de fortes perdas - Michael Nagle/Xinhua

Muita gente pode querer se desfazer de posições [vender suas ações e outros produtos] na pressa, e isso distorce os preços, principalmente nas Bolsas”, afirma Esteter.

O movimento se assemelha ao observado no dia conhecido pelo mercado como “Corona Day” – a Quarta-feira de Cinzas deste ano, marcada por um recuo de 7% do Ibovespa, na volta do carnaval em que a Bolsa brasileira se ajustava às tensões do mercado internacionais ante o avanço do coronavírus.

Para o analista da Ativa Investimentos Ilan Arbetman, esse risco de perda de liquidez do mercado acontece mesmo em um cenário que a que a Bolsa consiga adaptar seus sistemas para o megaferiado, mudando a programação feita para o vencimento de contratos, por exemplo.

“Dá pra fazer. A China fez o mesmo no feriado do ano novo, estendendo-o e mantendo o mercado fechado”, afirma.

Há outro detalhe para o fato de a China conseguir suspender os seus pregões: sua Bolsa concentra investidores locais, e ela é pouco afetada pelas oscilações globais.

No Brasil é diferente. Mesmo atraindo mais investidores locais, a Bolsa tem uma alta exposição aos mercados internacionais. “Dado o nível atual de volatilidade dos mercados globais, existe a possibilidade de os investidores se precaverem e diminuírem a exposição diante do longo tempo de inatividade”, diz Arbetman.

Na prática, isso significa que os investidores tendem a vender suas ações e demais ativos expostos à volatilidade para diminuir possíveis perdas.

Segundo um executivo do setor que preferiu não se identificar, os impactos não seriam apenas nos preços das ações e nas cotas de fundos negociadas na Bolsa brasileira, mas também em produtos de renda fixa com rendimento atrelado ao CDI (Certificado de Deposito Interbancário) –cuja rentabilidade só se dá em dias úteis– e nos mercados atrelados ao exterior, como é o caso das ADRs (recibos de ações) e contratos de futuro de dólar –que servem para proteção ou especulação do preço da moeda em data futura.

A proposta de antecipação de feriados foi anunciada pelo governador João Doria (PSDB) e pelo prefeito de São Paulo Bruno Covas (PSDB), nesta segunda-feira (18), como forma de aumentar os índices de isolamento social.

A medida prevê um megaferiado de seis dias: antecipa o Corpus Christi (celebrado em junho) e Consciência Negra (novembro), para quarta (20) e quinta (21), deixa a sexta (22) como ponto facultativo e pretende adiantar o feriado estadual de 9 de Julho para segunda-feira (25).

A proposta acerca dos feriados municipais já foi aprovada pela Câmara Municipal de São Paulo e agora aguarda sanção do prefeito de São Paulo, Bruno Covas. O presidente da Assembleia Legislativa, Cauê Macris (PSDB), afirmou que o projeto de adiantamento do feriado de 9 de Julho para segunda-feira (25) deve ser votado em regime de urgência nesta quinta.

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