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No Brasil, quem empreendeu pode sofrer mais por causa do coronavírus

Quase 55% dos empregos formais concentram-se em micro ou pequenas empresas, segundo o Sebrae

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São Paulo

Os cinemas chineses perderam mais de US$ 1,49 bilhão por estarem fechados no feriado do Ano-Novo Lunar, informou o jornal britânico Financial Times.

Após o pico do coronavírus no país, as entregas em caminhões a grandes companhias estão em 60% do volume anterior à crise. Para as pequenas, ainda não passam de 26%.

Na Itália, agora em quarentena, 94,6% das empresas têm menos de dez funcionários. Só 0,1% (3.231 companhias) tem mais de 250 contratados.

No mundo desenvolvido, pequenas e médias empresas somam 65% dos trabalhadores e 55% do PIB, segundo a Organização Mundial do Comércio.

Lojas populares de importados, na Galeria Pagé, que incluem produtos irregulares, tem atraso na chegada de novos produtos - Gabriel Cabral/Folhapress

Ao contrário do que o pandemônio com ações de grandes companhias nas Bolsas sugere, o grosso do PIB global é gerado por pequenas e médias companhias. E elas serão as maiores vítimas do aperto de liquidez que a crise do covid-19 provoca.

Com menos consumidores nas ruas e dinheiro no caixa, o capital de giro delas está secando na Europa. Isso provocou, nos últimos dias, declarações de autoridades para tentar tranquilizar os proprietários desses negócios.

Segundo o Banco Mundial, companhias de pequeno porte já têm dificuldades históricas em tomar empréstimos bancários. Só nos países emergentes, a carência de financiamentos para manter ou ampliar negócios atinge US$ 5,2 trilhões todos os anos.

No cenário de queda de faturamento como o atual —e de garantias menores para empréstimos—, o quadro tende a piorar muito, e rapidamente, se novos canais de financiamento não forem criados; e os existentes, desentupidos.

Após a crise global de 2008, por intransigência alemã, o Banco Central Europeu demorou a criar mecanismos de socorro a empresas em dificuldade na zona do euro, sobretudo em países em situação fiscal frágil à época, como Itália, Grécia e Portugal.

Desta vez, a chanceler Angela Merkel diz que a região fará "o que for necessário" para ajudar os afetados. "Não vamos nos perguntar todos os dias o que isso significa para os nossos déficits", disse.

Nos últimos anos, vários países europeus trabalharam para a diminuição de seus déficits fiscais e, agora, parecem dispostos a ampliá-los.

A Itália diz que injetará cerca de € 25 bilhões na economia e deu mais tempo aos que não puderem pagar financiamentos imobiliários. A Alemanha ampliou subsídios em créditos à exportação. 

A França promete uma resposta "contundente" às empresas. Do outro lado do canal da Mancha, o Reino Unido anunciou corte na taxa básica de juro e outras medidas que permitam aumentar em US$ 387 bilhões os créditos bancários às empresas.

No Brasil, quase 55% de todos os empregos formais concentram-se em micro ou pequenas empresas com até R$ 4,8 milhões de receita bruta anual, segundo o Sebrae.

Juntas, as micro e pequenas (até 99 empregados) criaram 731,4 mil vagas formais no ano passado. Já as médias e grandes (cem ou mais pessoas) demitiram 88,1 mil. 

Diante da precariedade do mercado de trabalho nos últimos anos, muitos brasileiros empreenderam e pegaram o gosto por ter um negócio, gerando muitos empregos.

Para eles, nada foi sinalizado como providência para a crise que chega. Nem mesmo o reconhecimento, por Jair Bolsonaro, de sua gravidade.

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