Corte de emissões deixará 30 mil desempregados, diz chefe da Peugeot-Citroën

Para Carlos Tavares, acordo de livre-comércio entre Brasil e México estimula competitividade

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São Paulo

As metas para redução das emissões de CO2 de automóveis na Europa devem levar à demissão de 30 mil trabalhadores do continente nos próximos anos, afirmou o presidente mundial do grupo PSA Peugeot Citroën, Carlos Tavares.

O Parlamento Europeu definiu que até 2030 deverá haver um corte de 40% nas emissões de veículos novos.

Tavares, que é também o atual presidente da Acea (associação de montadoras europeias), disse que a proposta do setor era para uma redução de 20%, podendo chegar a algo perto de 30% após negociação.

Segundo ele, alcançar a redução de 40% exige um número muito elevado de veículos elétricos no mercado —cerca de 30% das vendas das montadoras.

Carlos Tavares, presidente do grupo PSA Peugeot Citroën, durante anúncio de resultados da companhia, na França
Carlos Tavares, presidente do grupo PSA Peugeot Citroën, durante anúncio de resultados da companhia, na França - Christian Hartmann - 26.fev.19/Reuters

Só que esses modelos são mais caros que os carros a gasolina, por exemplo, e exigem também a implementação de uma rede de recarregamento que ainda patina.

"Ou vamos aumentar os preços para proteger margem, mas aí não chegamos à redução estipulada e temos de pagar uma multa brutal, ou não aumentamos os preços, mas cada automóvel vai gerar prejuízo e vamos ter de reestruturar as empresas e acabar com empregos", afirmou Tavares a jornalistas.

A montadora americana Ford já anunciou que planeja cortar mais de 5.000 empregos na Alemanha e quer reduzir também sua força de trabalho no Reino Unido.

A medida faz parte de um plano de recuperação anunciado pela Ford em janeiro que envolve milhares de cortes de mão de obra, o fechamento de fábricas e a interrupção de linhas de veículos deficitárias.

Já a alemã Volkswagen disse que vai fechar de 5.000 a 7.000 postos de trabalho até 2023 como parte de um plano de ajustes para financiar investimentos em carros elétricos e autônomos.

Essas reestruturações lá fora, somadas a desafios tecnológicos como o de carros autônomos e de sofisticada conexão com a internet, também afetam o Brasil. 

A General Motors confirmou na terça-feira (19) um investimento de R$ 10 bilhões em fábricas no estado de São Paulo que, segundo o governador João Doria (PSDB), estavam ameaçadas de fechamento.

Os investimentos, no entanto, foram condicionados pela GM, que passa por uma reestruturação global, renegociações com fornecedores, concessionárias e sindicatos.

A Ford chegou a anunciar que vai fechar sua fábrica em São Bernardo do Campo (na Grande São Paulo), mas o governo do estado tenta auxiliar na busca por um comprador para a unidade.

Apesar do clima tenso entre seus pares, Tavares diz ver grande potencial para o Brasil, com uma série de decisões orientadas para o aumento da produtividade no país.

Entre elas, ele citou a estabilização da moeda e a confirmação do acordo de livre-comércio de carros e autopeças entre Brasil e México, que passou a vigorar a partir desta terça.

"É um sinal positivo porque demonstra que o país não tem medo de se expor à concorrência. Os mexicanos têm uma competitividade muito forte e vão empurrar os fornecedores brasileiros para isso também", afirmou o executivo.

O desafio, diz ele, são as crises constantes que o Brasil enfrenta.

"Quando fazemos um plano de melhorar qualquer coisa aqui, tem de ser por períodos curtos, entre duas crises", diz.

Desde o ano passado, a PSA implementa um projeto que chamou de "Virada Brasil".

O plano não inclui investimentos, mas a ideia é que haja uma redução de custos fixos, variáveis e de distribuição, bem como um gasto mais eficiente em marketing.

A melhor readequação de gastos ocorre paralelamente ao plano "Push to Pass" da PSA, que propõe, para o Mercosul, o lançamento de 16 novos veículos até 2021.

Hoje, Peugeot e Citroën juntas têm uma participação de 2% no mercado brasileiro. A ideia é que esse percentual chegue a 5%.

A PSA tem um fábrica operando no Brasil desde 2001, em Porto Real (RJ).

Cerca de metade dos automóveis fabricados por lá vai para abastecer o mercado argentino, que levou um baque em 2018 com picos de inflação.

No Brasil, a operação da PSA opera no vermelho desde 2012.

Com a ajuda da Argentina, no entanto, o braço Mercosul vinha fechando com resultado positivo até 2017.

O Brasil deixou de perder tanto dinheiro, mas, com a crise no vizinho, 2018 foi um ano de chamado "break even" (quando receitas e despesas quase se equivalem) para a operação no Mercosul.

"O plano [Virada Brasil] está produzindo efeitos positivos, ainda não atingimos totalmente os objetivos, mas a situação no país está melhorando, apesar do contexto difícil", disse Tavares.

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