Volkswagen estuda férias coletivas, mas ainda não decidiu parar fábricas brasileiras

Linha de produção da VW em São Bernardo do Campo: possibilidade de paralisação para evitar contágio de coronavírus

Por PEDRO KUTNEY, AB
  • 17/03/2020 - 19:00
  • | Atualizado há 2 anos, 9 meses
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    Ainda sem saber se será necessário paralisar as linhas de produção brasileiras para evitar o contágio dos funcionários por coronavírus, a Volkswagen confirmou que protocolou junto à Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia, a intenção de conceder férias coletivas de 10 dias, a partir de 31 de março, aos trabalhadores do chão de fábrica. Consultada, a empresa afirma que cumpriu uma formalidade legal, de informar com 15 dias de antecedência o órgão governamental sobre medidas emergenciais, mas ainda sequer informou aos funcionários sobre isso, porque ainda monitora a evolução da epidemia global para definir se de fato será necessário paralisar todas as áreas fabris no País.

    Segundo a Volkswagen, não estão descartadas paradas parciais ou totais, nem possíveis extensões das férias coletivas se o quadro mostrar necessidade. Em princípio, a medida pode afetar todas as suas quatro fábricas no País (São Bernardo do Campo, Taubaté, São José dos Pinhais e a planta de motores em São Carlos). Contudo, até agora consta que somente os sindicatos dos metalúrgicos do ABC e de Taubaté foram informados sobre a possível paralisação.

    Segundo disse ao Diário do Grande ABC o presidente do sindicato dos metalúrgicos da região, Wagner Santana, na planta Anchieta, em São Bernardo, de 7 mil a 9 mil trabalhadores da linha de produção poderão ficar em casa a partir do fim deste mês. O dirigente confirmou ao jornal que a entidade recebeu comunicado oficial da Volkswagen sobre a possível folga de 10 dias, mas afirmou que o período pode aumentar se for constatado aumento de contágios pelo Covid-19.

    O site O Vale noticiou que, segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Taubaté, diante do agravamento da pandemia a Volkswagen poderá colocar em férias coletivas 3,2 mil trabalhadores de sua fábrica no Vale do Paraíba, no período de 31 de março a 9 de abril.

    Cerca de 400 empregados de setores administrativos da Volkswagen Anchieta já estariam trabalhando em regime remoto, de casa (home office), mas a empresa deve aumentar gradualmente esse número para até 700 pessoas, segundo informou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.

    A paralisação em São Bernardo poderá atrasar o principal lançamento da Volkswagen no Brasil este ano, o SUV-cupê Nivus que teve algumas imagens reveladas na conferência anual do Grupo VW na terça-feira, 17. O modelo já passa por testes de produção na Anchieta e o lançamento está previsto para maio.

    NA EUROPA VW PARALISA 14 FÁBRICAS



    Na Europa, a Volkswagen anunciou que irá interromper por duas semanas, a partir da quinta-feira, 19, a produção de 14 fábricas em cinco países. Será paralisada a produção de veículos em cinco plantas na Alemanha (Wolfsburg, Emden, Dresden, Osnabrück e Zwickau), além de Bratislava (Eslováquia), Pamplona (Espanha) e Palmela (Portugal). Também entram em férias coletivas as unidades alemãs de componentes do Grupo VW em Brunswick, Chemnitz, Hanover, Kassel e Salzgitter, bem como a fábrica de assentos Sitech, mantida em sociedado com a KWD em Polkowice, na Polônia.

    Ralf Brandstätter, chefe global de operações (COO) da Volkswagen Passenger Cars, justificou a paralisação pelo conjunto de impactos negativos causados pela pandemia, antecipando o que poderá ocorrer no Brasil. “A propagação do coronavírus na Europa tem crescente impacto adverso na demanda. Ao mesmo tempo, está se tornando cada vez mais difícil o suprimento de componentes de fornecedores às nossa plantas. Por essas razões, decidimos parar a produção de forma coordenada a partir da quinta-feira. Estamos convencidos que a medida vai de encontro aos interesses de nossos funcionários, que estão preocupados com a propagação do corona”, afirmou o executivo.

    O representante dos trabalhadores no conselho de administração da Volkswagen, Bernd Osterloh, disse que a medida é bem-vinda e reconheceu que não havia outra alternativa: “Em tempos em que as pessoas não podem mais se encontrar em parques ou shows, ir à igreja ou visitar restaurantes, que também não estão comprando carros, e há problemas de fornecimento de suprimentos, a produção não pode simplesmente continuar como se nada estivesse acontecendo. Para nossos colegas nas fábricas, não há outra alternativa senão a suspensão controlada da produção”, avalia.

    Medidas adicionais de proteção contra o contágio pelo Covid-19 foram adotadas pela Volkswagen em suas unidades europeias. Lojas, lanchonetes e restaurantes internos vão ficar fechados. Todas as reuniões serão feitas por ferramentas de videoconferência on-line. Eventos foram cancelados. Ações de proteção especial serão aplicadas aos trabalhadores em grupos de risco, como pessoas com doenças pré-existentes de coração ou pulmão e imunosuprimidos. Além disso, funcionários que retornaram à Alemanha de viagens internacionais após 14 de março estão proibidos de entrar nos complexos industriais do Grupo VW pelo período de 14 dias – o tempo de incubação do vírus. Empregados de áreas administrativas estão sendo encorajados a trabalhar remotamente, em home office, até cinco dias por semana.

    São todas medidas que, a depender da evolução e da gravidade dos contágios pelo coronavírus no Brasil, poderão em grande medida ser adotadas em muitas fábricas brasileiras nas próximas semanas.