Luiz Costa/SMCS – Seis linhas de ônibus do sistema de transporte de Curitiba tem tarifa reduzida fora dos horários de pico: novas formas de atrair o passageiro

O movimento para consolidar Curitiba como cidade inovadora encontra no transporte público um dos principais canteiros e desafios. Referência mundial em planejamento urbano e transporte público, Curitiba busca com esse movimento retomar sua vocação para soluções de mobilidade, com o status de “cidade inteligente”. A base dos projetos relacionados ao transporte está em promover uma maior integração entre todos os modais e projetos urbanísticos que resolvam um acúmulo de problemas no transporte, como tempo de viagem, valor da passagem, segurança e conforto.

O primeiro passo do processo foi a renovação da frota de transporte público das últimas décadas, passando pela modernização e ampliação da bilhetagem eletrônica. Novidade dos últimos dois anos é o surgimento dos micromodais na cidade, como bicicletas e patinetes, que em Curitiba tem serviços de compartilhamento administrados pelas empresas Yellow e Grin, por exemplo. A prefeitura fomenta outras que devem se instalar na cidade. Outra ação importante na área foi a normatização dos serviços de aplicativo de transporte, como Uber e 99.

Entre o que está por vir, a prefeitura destaca um ambicioso plano de ciclomobilidade, com a meta de dotar a cidade de 408 km de vias cicláveis até 2025. Outro programa é o de compartilhamento de carros elétricos, a ser lançado em 2020 pela Renault em Curitiba. A intenção é viabilizar a criação de uma rede de car sharing (aluguel de carros compartilhados) elétricos na cidade. A Renault é líder na venda de carros elétricos no Brasil e na Europa, onde tem uma estrutura consolidada de car sharing, com mais de 6 mil operações. Em Madri, na Espanha, a Renault atua por meio da joint venture Ferrovial Renault, empresa que tem uma frota de 650 veículos elétricos compartilhados. Dois veículos elétricos Zoe da montadora francesa foram doados para testes na Prefeitura. Os veículos já são usados pela Urbs e Agência Curitiba.
De acordo com a prefeitura, tanto os carros elétricos, quantos os micromodais devem se integrar com os terminais do transporte público.

Redução da tarifa atrai passageiros aos ônibus

Com a aprovação do projeto que flexibiliza as formas de cobrança no transporte coletivo de Curitiba, a Urbs estuda novas formas de atrair passageiros. Além do bilhete temporal e da tarifa mais barata fora dos horários de pico, a empresa pensa em lançar linhas de ônibus por aplicativo, que seguiriam a lógica de empresas de transporte, como a Uber e a 99. O presidente da Urbs, Ogeny Pedro Maia Neto, afirma que há um mapeamento em estudo para implantar os ônibus por demanda. “Temos estudos sendo feitos, mapeamento, algumas regiões já definidas. O importante é modernização da legislação que possibilite fazer isso. Isso foi um enfrentamento feito pelo prefeito, e faz com que tenhamos mais segurança para por os projetos em prática”, afirma.
Nesse modelo o usuário pode solicitar o veículo e dirigir-se a um dos pontos de ônibus virtuais do sistema e é possível a identificação do motorista, acompanhamento do veículo, previsão de chegada e avaliação da viagem.

O presidente da Urbs cita também as iniciativas de revisão do transporte com base na experiência dos usuários. “Temos em andamento o desalinhamento do Eixo Sul até o Pinheiro e vai dar uma sobrevida de 30% no volume transportado. Já falamos sobre os outros meios de pagamento, como cartão de crédito. Estamos fazendo a tarifa diária e tarifa única que é o que o decreto prevê, trabalhando agora para liberar as linhas para o preço menor no entrepico. Além disso, temos o desenvolvimento de mais faixas exclusivas, replanejando a frota, com sistema de planejamento de programação de frota”, explica.
A recuperação do sistema de monitoramento do transporte é outro avanço citado pelo presidente da Urbs. “Praticamente todas as estações-tubo têm câmeras e a Urbs instalou sistema de manutenção contínua. Fizemos uma grande recuperação do parque que estava deteriorado. Contamos com a Guarda e com a PM que têm feito um grande trabalho, tanto que caiu em mais de 70% o número de ocorrências”, comemora.

Outro projeto, bastante cobrado pela população, é a implantação de ônibus elétricos ou híbridos. Ogeny explica, no entanto, que a prefeitura cobra uma reação do mercado automobilístico para que a aquisição seja viável. “Estamos em contato com a indústria que tem nos atendido. O custo ainda é muito alto, mas logo devemos avançar nesse projeto”, diz.

Aplicativos facilitam mobilidade
A presidente da Agência Curitiba de Desenvolvimento, Cris Alessi, destaca que a onda de aplicativos veio para interligar as diversas variações do transporte da cidade. “São várias opções na palma da mão”, afirma. A Urbs tem seis aplicativos próprios. O Itibus, que relaciona linhas, rotas de ônibus, posição de pontos e veículos; o Boletim do Transporte, que traz informações relacionadas ao transporte coletivo de Curitiba; o Táxi Legal, com informações dos táxis de Curitiba; o Monitor Rod, com embarques e desembarques da Rodoviária; o Cartão Transporte, que emite extrato simplificado do cartão transporte; e o Especial, que oferece um sistema de serviços para o usuário com deficiência visual.

As parcerias com gigantes privadas também rendem frutos à cidade. Além de Google Maps e Waze, que tem ampliado suas bases de dados relacionados a Curitiba, a consolidação de startups, como Yellow, de compartilhamento de bicicletas e patinetes, e, em seguida, Grin, de patinetes, foram as sensações deste ano. Ambas, que pertencem à multinacional Grow, integram um mercado que tende a crescer, a exemplo de outras grandes cidades do mundo.
Em sete meses de operação em Curitiba, patinetes elétricos e bicicletas compartilhados da Yellow e Grin percorreram, em média, 160 mil quilômetros mensais na capital (88 mil km pedalados e 72 mil km percorridos de patinete). Isso equivale a quatro voltas na terra. A Grow não informa dados sobre o número de usuários cadastrados em Curitiba ou corridas, mas divulgou que o uso de bikes e patinetes cresceu 20% e 30% ao mês, respectivamente. Com base nos dados disponibilizados, a prefeitura estuda melhores áreas para firmar parcerias e ampliar o serviço integrado ao transporte público, como disponibilizando bases dos modais em terminais de ônibus.

Um aplicativo que está em desenvolvimento e que é esperado na cidade é o que promete Estar Eletrônico, no Estacionamento Regulamentado. Ainda não há um prazo para lançamento, mas o projeto está em andamento. “A URBS está licitando uma plataforma para o Estar Eletrônico e para Bilhetagem que é ampla. A ideia é que ela possa aceitar outros aplicativos de qualquer empresa. Esse trabalho de abrir informação da prefeitura para empresas da cidade tem acontecido bastante. O Open Day, por exemplo, um evento mundial de dados abertos que aconteceu em março, é feito pelo Cold Four Curitiba, e uma das discussões foi transparência de dados de dinheiro público a partir de dados abertos; e melhoria de calçadas na cidade a partir de dados abertos também”, afirma Cris Alessi.