Franklin de Freitas – Apesar de não haver registro de mortes por coronavírus em Curitiba

Desde que o novo coronavírus começou a circular pelo Paraná, no começo de março, as internações relacionadas a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) dispararam. Segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde, no último mês houveram pelo menos 901 internações relacionadas a esse tipo de problema no estado. No ano anterior haviam sido 335, o que aponta para uma diferença de 169%.

No primeiro trimestre deste ano, foram notificados ao todo 1.348 casos no Paraná, enquanto no mesmo período do ano anterior haviam 643 ocorrências. Isso aponta para uma diferença de 113,5% nesses três primeiros meses, o que significa que o número de casos notificados mais do que dobrou.

Embora a maior diferença entre os dois começos de ano esteja justamente no mês de março, desde o início do ano as síndromes respiratórias já vinham acometendo mais a população paranaense. Em janeiro e fevereiro de 2019, por exemplo, foram notificados 158 e 150 casos, respectivamente. Nos mesmos meses deste ano, 210 e 227. No mês passado, contudo, a diferença foi ainda mais expressiva, com o número de internações, que em março do ano anterior havia sido de 335, chegando a 901 — uma diferença de 169%.

A diferença entre os dois anos, no entanto, pode ser ainda maior, reconhece a Sesa. Isso porque os números de pacientes internados por SRAG diz respeito ao que foi efetivamente notificado. “Temos conhecimento que tem muito mais”.

De toda forma, o aumento no número de casos segue uma tendência nacional e coloca, conforme aponta o Infrogripe, da Fiocruz, o estado numa zona de risco, com intensidade das SRAG considerada muito alta. Hoje, inclusive, todas as regiões do país se encontram nessa zona de risco.

Coordenador do Infogripe, Marcelo Gomes aponta que o cenário atual de epidemia de SRAG pode ter relação direta com o novo coronavírus. Uma portaria do Ministério da Saúde, inclusive, já determinou que todos os casos de SRAG devem ser classificados como suspeitos de Covid-19.

“Certamente, nem todos os casos levantados pelo relatório são casos de Covid-19, mas não sabemos ainda qual o percentual foi em decorrência de qual vírus respiratório. A mudança brusca de comportamento sugere que há algo diferente acontecendo, e isso pode ser justamente o novo coronavírus”, afirma o especialista, apontando ainda que os hospitais já estão com uma carga de ocupação elevada em função de SRAG. “Já vinha acima do esperado e com tendência de alta. Porém, nas duas últimas semanas, disparou”.

Funerárias já sentem o aumento da demanda por causa dos casos de SRAG

Durante a tarde de quinta-feira (2), o Bem Paraná entrou em contato com 14 funerárias de Curitiba para levantar informações sobre como anda a demanda em geral, para todos os tipos de óbito que acontecem, e como está a situação de casos relacionados à Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG).

Na maior parte dos estabelecimentos, o relato foi de que o movimento está normal ou até mesmo um pouco abaixo do comum. Essa queda, comentam os empresários do setor, poderia estar relacionada à menor circulação de pessoas nas ruas, ao adiamento de cirurgias e ao fluxo menor de pacientes em hospitais. Por outro lado, o fluxo de atendimento a óbitos com causa relacionada a síndromes respiratórias está aumentando.

“A nossa demanda geral está se mantendo na média. Um pouquinho acima no número de cremações, mas a mesma média de atendimento semanal”, explica a gerente administrativa da Funerária Jardim da Saudade, Fabiana Miranda. “O que temos percebido é que a maioria dos atendimentos estão vindo de doenças de causa do trato respiratório, isso é confirmado. Essa semana já começamos a receber óbitos com alerta do hospital”, comenta ainda ela, revelando que de quarta para quinta a funerária recebeu seus dois primeiros casos com suspeita de Coronavírus que a funerária recebeu. “Outros [casos] que tivemos, foram vários, mas com doenças do sistema respiratório. Com formalização do hospital [sobre a suspeita de Covid-19], foram os primeiros.”

Presidente do Sindicato das Funerárias do Estado do Paraná, Rauli Sysocki afirma que o movimento em geral caiu cerca de 5% nas últimas semanas. O faturamento, no entanto, reduziu em 70%. “Com esse Covid-19 não vi nenhum ainda, mas estão vindo muitos casos suspeitos. O médico, se não tem como definir, na dúvida já diz que é suspeito, e daí todo o trâmite [do corpo] deve ser feito como se fosse um caso confirmado”, diz ele.

Nesses casos (morte suspeita ou confirmada pelo novo coronavírus), a recomendação às famílias te sido para que não se realize velório. Caso os familiares insistam na despedida, a duração deve ser de no máximo uma hora e com urna lacrada. Nos crematórios, os casos de suspeita de Covid e outras doenças do trato respiratório vão direto para a cremação, sem cerimônia de despedida.

Numa outra funerária o gerente, que pediu para não ser identificado, conta que há decadas trabalha no setor e que jamais havia acompanhado uma situação como a atual. “Aumentou bastante em relação aos óbitos por questão respiratória, mesmo porque não estamos numa época de frio e isso costuma acontecer com pessoas de mais idade em épocas de mais frio. Então é um aumento considerável em relação aos óbitos relacionados a problemas respiratórios”, afirma. 

Secretaria Municipal de Saúde diz que não há subnotificação de óbitos 

Na quinta-feira (2), a Prefeitura veio a público para negar que exista subnotificação de óbitos na cidade. Segundo o poder municipal, todos os pacientes internados nos hospitais com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) — influenza A e B, vírus sincicial respiratório, adenovírus, hantavírus, pneumococos, leptospirose, etc. —, nas redes pública e privada de Saúde, fazem exames para detectar quais são os vírus e bactérias que estão causando o agravamento do quadro.

“Com a pandemia da Covid-19, este monitoramento continua a ser realizado, mas agora inclui também a verificação da nova doença. Desta forma, todos os pacientes internados com situações respiratórias graves são testados para Covid-19 em Curitiba. Assim, todos os pacientes internados que, eventualmente, vierem a óbito causado por SRAG também são testados para Covid-19.”

Segundo a Secretareia, desde o início da confirmação de casos em Curitiba no dia 9 de março, Curitiba registrou 32 óbitos por SRAG. Em 25 o resultado para covid-19 foi negativo e 7 aguardam a conclusão dos exames, processo que pode demorar alguns dias.