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Comerciantes das periferias de SP mudam rotina e temem incertezas com quarentena

Uma semana após o fechamento dos comércios, autônomos das periferias de SP sofreram impacto na renda e baixa demanda de trabalho

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Eduardo Silva
São Paulo | Agência Mural

Em Pirituba, bairro da zona norte de São Paulo, a comerciante Bruna Rosa, 32, mantém há 11 meses uma lanchonete com a ajuda dos pais e da irmã mais nova. Desde a semana passada, contudo, o local está fechado como precaução ao contágio do novo coronavírus.

“Meu pai tem 64 anos e diabetes. Ele era quem atendia aos clientes e mexia com o dinheiro. Ele estava com medo”, conta Bruna. A mãe dela, de 65 anos de idade e hipertensa, também faz parte do grupo de risco de pessoas mais suscetíveis à covid-19.

Na vizinhança, outros comércios também fecharam provisoriamente nos últimos dias e apenas os supermercados e uma padaria estão funcionando. A alteração na rotina visa evitar a disseminação do vírus e atende o decreto da Prefeitura de São Paulo que determinou o fechamento de estabelecimentos comerciais que não prestam serviços considerados essenciais à população.

Bares, restaurantes e lanchonetes têm permissão para continuar funcionando até o dia 5 de abril, mas apenas com atendimento delivery. Essa solução, contudo, não funcionou para a família, que não tem recursos para contratar um motoboy para fazer as entregas.

A alternativa nesse período será retirar as mesas e cadeiras do local e vender os salgados, sorvetes e bolos de pote diretamente no balcão da lanchonete, onde o cliente pode retirá-los. Em vários bairros, outra opção tem sido abrir apenas uma porta ou janela, e vender os produtos para quem chama.

“Esse é o nosso ‘ganha-pão’ hoje. Se eu não trabalhar, não terei o dinheiro para comer ou pagar as contas, inclusive do aluguel da casa onde moramos”, diz a comerciante.

O cenário de incerteza tem sido sentido por vários moradores que dependem do comércio. No Itaim Paulista, na zona leste, o vendedor Brendon Vasconcelos, 22, está em casa desde a sexta-feira (20), quando o shopping center onde trabalha foi fechado por recomendação do governo do estado.

“Ainda não fui comunicado sobre o retorno, apenas que as lojas só devem voltar a funcionar no fim do mês de abril. Não sei se vou receber o salário, se vai ser contabilizado como banco de horas ou se eu ainda vou ter o emprego”, comenta.

Por enquanto, ele prevê que terá de usar a reserva financeira que tem, destinada a pagar a pós-graduação, para repor a renda enquanto a situação não se resolve. “Pelo jeito, vai se tornar uma reserva emergencial”, diz Vasconcelos.

O salão da cabeleireira Joelma Magalhães, 32, está fechado desde o último sábado (21), no distrito de Pedreira, na zona sul. Ela trabalha com uma equipe de oito pessoas, que são prestadoras de serviços cadastradas como MEI (Microempreendedor Individual) e tiram dos atendimentos no estabelecimento a única fonte de renda.

“Estávamos trabalhando com máscaras e, entre um atendimento e outro, íamos lavar as mãos e passar álcool em gel. Mas o nosso contato com os clientes é muito próximo, não tínhamos como manter distância”, explica.

Segundo a microempresária, o movimento do mês também caiu muito. “Tivemos várias clientes que desmarcaram os horários no salão. Muitas delas são idosas e falavam que os filhos não queriam que elas saíssem de casa sem ter uma necessidade maior”, conta.

Quem também trabalha em um salão e precisou fechar as portas como medida de segurança foi o autônomo Genival Rocha, 47. Ele e a esposa dividem um salão de cabeleireiro, manicure e pedicure há 18 anos no Jardim dos Ipês, bairro do extremo leste de São Paulo.

“Até a situação normalizar, eu e minha família vamos nos manter com a reserva financeira que temos”, explica Rocha, que está sem trabalhar desde sábado.

Na quinta-feira (2) o presidente Jair Bolsonaro publicou no DOU (Diário Oficial da União) o projeto que garante auxílio emergencial de R$ 600 a trabalhadores informais e de R$ 1.200 para mães responsáveis pelo sustento da família. A proposta inicial era de R$ 200 e passou por conflitos até chegar neste valor.

Para Joelma, o auxílio não deixará a equipe totalmente desamparada, mas não é suficiente. “Eles não vão conseguir sobreviver ou fazer muita coisa com esse valor”, diz a cabeleireira. Para manter uma renda, ela planeja fazer a venda de alguns produtos de beleza que possui no estoque do salão, no qual o lucro obtido será dividido com os funcionários.

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