Descrição de chapéu Coronavírus

BC projeta PIB zero em 2020 com crise do coronavírus

Simulações mostram que o PIB brasileiro é mais sensível ao PIB chinês do que ao do restante do mundo

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Brasília

Em razão dos efeitos da crise do coronavírus no país e no mundo, o Banco Central revisou a projeção para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2020 para zero, de acordo com o relatório trimestral de inflação.

O relatório anterior, divulgado em dezembro do ano passado, estimava um aumento de 2,2%.

"A alteração da projeção está associada, principalmente, a impactos econômicos expressivos decorrentes da pandemia de Covid-19. Adicionalmente, resultados abaixo do esperado em indicadores econômicos no final de 2019 e início de 2020 afetaram a expectativa de desempenho da atividade no primeiro trimestre", diz o relatório.

Segundo o documento, "em termos de trajetória, a projeção para o PIB anual considera recuo acentuado do PIB no segundo trimestre, seguido de retorno relevante nos últimos dois trimestres do ano​".

O diretor de Política Econômica do BC, Fabio Kanczuk, admitiu, em entrevista coletiva, que os cenários considerados no relatório ainda não refletem os reais impactos da crise gerada pela pandemia no Brasil.

"Utilizamos a data de corte da reunião do Copom para as projeções do Relatório de Inflação, que foi 17 de março. De lá para cá, aumentaram as restrições e medidas de isolamento social, que tem impacto principalmente no setor de serviços. Esses dados, então, ficaram defasados."

"Conseguíamos ver que seria pior e analisamos cenários alternativos. Se fosse refazer cenário básico hoje seria diferente. Mas isso não implica que a decisão de política monetária mudaria", frisou.

As simulações feitas pelo BC mostram que o PIB brasileiro é mais sensível ao PIB chinês do que ao do restante do mundo.

"No contexto atual, em que as revisões para baixo nas projeções de crescimento em 2020 são maiores para a China que para o restante do mundo, tal resultado sinaliza impacto ao redor de -1p.p. sobre o crescimento da economia brasileira", diz documento.

Na semana passada, o Ministério da Economia havia cortado a projeção oficial para o crescimento do PIB em 2020 de 2,10% para 0,02%.

O documento do BC trouxe um trecho detalhando efeitos da pandemia na economia mundial e, consequentemente, brasileira.

Aponta que, até 17 de março, quando eram 291 casos confirmados e uma morte, os principais indicadores econômicos com frequência mensal ainda não refletiam os efeitos do vírus.

Enquanto em fevereiro a maior preocupação era de potenciais problemas no fornecimento de insumos importados e preocupações com a demanda externa, ao longo da segunda semana de março a atenção se voltou para a retração da demanda doméstica e as consequências das restrições impostas para conter o avanço do coronavírus.

Questionado sobre a postura do presidente Jair Bolsonaro frente à crise sanitária gerada pelo novo coronavírus e um potencial afastamento de investimentos no país, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que a autoridade monetária não comenta ou dá orientações sobre o que deve ser feito nesse enfrentamento.

"No momento há grande saída de fluxo de países emergentes. Cada país tem adotado medidas particulares e alguns adotaram medidas e mudaram depois", ressaltou, e parabenizou o trabalho do Ministério da Saúde.

Também como efeito da pandemia, para a inflação, o BC reduziu as estimativas para 3% em 2020, 3,6% em 2021 e 3,8% em 2022. As expectativas levam em conta taxa básica de juros (4,25%) e câmbio (R$4,75) constantes.

No relatório anterior, a projeção para era de 3,6% (2020), 3,7% (2021) e 3,9% (2022).

O crescimento do crédito também será afetado pela crise em 2020. Em comparação ao Relatório anterior, houve significativa diminuição na projeção do crescimento do estoque total, de 8,1% para 4,8%, com redução nas estimativas para as variações nos saldos tanto de pessoas físicas quanto de pessoas jurídicas.

"Nesse contexto, a projeção de menor crescimento do saldo de crédito reflete cenário substancialmente mais desafiador para a atividade econômica diante da pandemia de coronavírus Covid-19, com elevação de incertezas no ambiente econômico internacional e a expressiva queda nas expectativas de crescimento para o Brasil em 2020", destaca relatório.

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