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Tesla é o iPhone dos veículos elétricos ou só mais uma empresa de automóveis?

A Tesla vale hoje mais que a Volkswagen, maior montadora em volume

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Londres e San Francisco | Financial Times

O Modelo 3 da Tesla será o iPhone do mundo dos carros elétricos? Ou a empresa de Elon Musk poderá se tornar um fornecedor de baterias e softwares para a indústria automobilística? Ou será só mais uma montadora?

Um ano atrás, investidores de Wall Street apostavam que Musk enfrentaria a falência. Agora, a se acreditar no mercado de ações, ele tem o mundo a seus pés.

Houve uma impressionante alta no preço das ações da Tesla, culminando num salto de 48% nos dois primeiros pregões da semana passada.

Com cerca de US$ 135 bilhões, a Tesla vale mais que a Volkswagen, a maior montadora de automóveis do mundo em volume.

O CEO da Tesla, Elon Musk, em frente à imagem do Modelo 3, carro da companhia - Aly Song/Reuters

Hoje existe a ideia de que a instabilidade financeira e os desafios operacionais que a Tesla enfrentou com o Modelo 3 estão ultrapassados.

Wall Street decidiu que a mudança para carros elétricos —que ainda são só 2% das vendas globais de carros— está chegando a um momento crucial, diz Adam Jonas, analista do Morgan Stanley.

Pierre Ferragu, da New Street Research, argumenta que a empresa está com preços razoáveis, considerando o que poderá se tornar até o meio da década: uma líder de US$ 300 bilhões no mercado de carros elétricos premium.

Com essas expectativas agora incorporadas ao preço das ações, qualquer coisa a menos poderia trazer um acerto de contas severo no mercado.

A questão que a Tesla enfrenta é se, à medida que os elétricos avançam, conseguirá manter-se líder. As principais marcas lançam carros a bateria para atender às metas de emissões na Europa e na China.

Herbert Diess, CEO da VW, está entre os que creditam à Tesla suas inovações. “O próximo passo importante é o software —e eles são fortes em software”, disse ele no ano passado.

Mas Diess também diz que a Tesla estará em desvantagem quando enfrentar a concorrência de grandes fabricantes, que têm capacidade de volume de produção.

Para os fãs da Tesla, isso subestima as dificuldades envolvidas na criação de uma plataforma de software eficaz. A Tesla também começa com vantagem na eficiência de seus veículos, graças a anos aperfeiçoando baterias.

Não que o desempenho técnico se traduza automaticamente em vendas. Marcas, estilo de veículos, redes de concessionárias, pacotes financeiros: muitos fatores entram na decisão de comprar um carro. 

A melhor esperança de Musk é que ele tenha feito o suficiente para tornar seus veículos o padrão que os compradores procuram ao considerar carros elétricos, assim como o Prius da Toyota se tornou a referência em híbridos.

“As pessoas continuarão a associar carros elétricos premium à Tesla”, disse Bob Lutz, ex-alto executivo de três grandes montadoras americanas.

Por si só, porém, ganhar uma fatia de mercado talvez não sustente a elevada valorização da Tesla. Dadas as baixas margens de lucro e a intensa concorrência, os investidores não estão dispostos a conceder altas avaliações ao setor.

Por enquanto, isso não diminuiu o entusiasmo pela Tesla. Muitos concluíram que ela não está mais restrita por limitações do setor automobilístico e passaram a vê-la como uma ação tecnológica, diz Adam Jonas, do Morgan Stanley.

Analistas fazem paralelos com o iPhone, que transformou o mercado de celulares em uma proposta muito maior e mais lucrativa.

Mas o valor agregado ao aparelho da Apple reflete seu papel como plataforma de software, colocando-o no centro de um sistema de aplicativos e serviços que movem a vida moderna. 

Quais são as chances de que carros passem por transformação semelhante e que a Tesla se torne uma plataforma igualmente poderosa?

Steve Jobs apresenta o Iphone 4, em 2010, durante evento da Apple na Califórnia - Ryan Anson/AFP

Uma esperança está na tecnologia do carro sem motorista. O próprio Musk afirmou que essa é a verdadeira chave do futuro da Tesla, argumentando no ano passado que a empresa só alcançará rentabilidade sustentável quando se tornar a operadora de uma frota de robotáxis. 

Analistas argumentam que a Tesla poderia vender sua tecnologia autônoma a outras montadoras —o que aumentaria a quantidade de dados sobre as condições de tráfego que a Tesla já coleta de carros que usam seu software.

A incorporação desse software em 10% dos carros do mundo poderia justificar cerca de US$ 70 bilhões em valor de mercado, segundo Jonas, mas exigiria que outras montadoras cedessem grande parte do valor de seus veículos.

Outra esperança que elevou as ações da Tesla gira em torno de sua tecnologia de baterias. Também discute-se se a montadora pode superar sua reticência natural em compartilhar sua tecnologia.

Um outro mercado para as baterias da Tesla seria a de armazenamento de energia gerada por fontes renováveis, como a eólica e a solar.

Tudo isso deu muita justificativa aos investidores que buscam elevar as ações da Tesla a novos patamares, mesmo que algumas dessas oportunidades de negócios sejam meramente imaginárias.

Jonas, por exemplo, prevê que a euforia diminuirá quando Wall Street enxergar a Tesla pelo que ela realmente é: uma empresa de automóveis.

Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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