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‘Estrangeiro tem apetite por empresa brasileira’, diz executivo do Bradesco BBI

Principal executivo do banco de investimentos Bradesco BBI, Alessandro Farkuh vê crescer o interesse de investidores pelo Brasil, mesmo com a economia não reagindo como o esperado. “O pacote de privatizações trará um aumento do fluxo de negócios”, diz. Mais recentemente, porém, em razão da crise ambiental, o Brasil entrou nos holofotes de maneira negativa. Para Farkuh, contudo, é preciso entender o que é barulho e o que pode ser preocupação genuína.

A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

O Bradesco BBI tem sido ativo no mercados de capitais e em fusões e aquisições nos primeiros sete meses do ano. O mercado vai seguirá aquecido?

Há um claro ambiente de vento a favor, com o mercado de capitais aberto, muita liquidez e interesse dos principais investidores globais em entrar em empresas de diversos setores.

A retomada da economia tem sido mais lenta que o esperado. Esse vento a favor reflete a agenda econômica do governo?

Tem uma série de companhias que vão se favorecer por qualquer movimento de expansão da economia depois de um longo período recessivo. Há capacidade produtiva ociosa e empresas que, por terem sobrevivido nesses últimos anos, têm um plano de eficiência operacional, que se beneficiariam rapidamente do crescimento. E se posicionar nessas empresas, neste momento, é muito favorável para os investidores estrangeiros e locais.

Estamos falando de quais setores industriais?

Depois de muito tempo, temos um mercado receptivo a investir, independentemente da indústria. É uma indicação de que estamos entrando numa onda favorável, e não em um ciclo de curto prazo. Há empresas que estão indo a mercado com uma diversidade de temas e teses de negócios, como foi o caso de Centauro e do Banco Inter, e follow on (emissão de ações de empresas listadas), como o IRB. É algo que não tinha há muito tempo.

Há um fluxo de investidores estrangeiros seguindo os locais?

É um alinhamento de planetas. A gente tem um evento local forte que acaba criando um interesse internacional grande. Na nossa visão, os fundamentos vão levar a um cenário de juros e de inflação baixos por muito tempo. Temos um fluxo de recursos imenso no Brasil para investimentos. O excesso de liquidez é tão grande que boa parte do movimento de alocação de recursos das grandes ofertas tem sido feita pelos locais, invertendo uma tendência histórica, onde globais tinham um papel mais relevante. E é benéfico para o mercado, uma vez que os investidores globais estão olhando o movimento dos investidores locais e podem trazer recursos que ainda não entraram no País.

O Brasil está à frente de outros emergentes nesta corrida?

Temos um ambiente pró-reforma, pró-mercado e empresários aumentando o nível de confiança. Hoje, há um descolamento do Brasil de outros emergentes. Há temas complexos, como Argentina, China em disputa comercial, México em um momento difícil. Isso coloca o Brasil em cenário favorável.

Mas há apetite de investidores estrangeiros para o Brasil?

Hoje, claramente, o volume relevante é de recursos dos locais. Há vários estrangeiros olhando várias companhias, mas ainda não se posicionaram. E há muito capital para ser colocado no mercado. Esses caras devem vir com mais força quando a gente tiver mais clareza no cenário macro.

E o que é preciso para ter mais clareza?

Conclusão da reforma da Previdência, os rumos da reforma fiscal e todas as microrreformas em torno da complexidade tributária no Brasil. E há outros temas de altíssima relevância. Marcos regulatórios, como o de saneamento, devem destravar investimentos com foco de infraestrutura no Brasil em um patamar que a gente nunca viu.

A crise ambiental pode afugentar investidores?

A percepção de sustentabilidade é cada vez mais importante em todos os aspectos. Seja em se posicionar no mercado ou como empresário. Boa parte dos investidores tem receio de alocar recursos em negócios que não tenham a percepção de convivência saudável com o meio ambiente e sociedades locais. Mas hoje tem muito barulho. Temos de ver como essa situação vai evoluir e entender o que é barulho e o que é preocupação genuína.

Qual a expectativa de operações no mercado de capital?

O mercado está muito próximo de R$ 60 bilhões. No ano passado, foram R$ 9 bilhões. Se pegarmos o ano histórico, de 2007, ficou em torno de R$ 70 bilhões. Em pouco mais de sete meses, a gente já está chegando nos recordes históricos de renda variável. Nossa estimativa é superar R$ 100 bilhões.

Os locais vão superar os estrangeiros?

Sob o ponto de vista de tendência, os investidores brasileiros têm tido um papel mais relevante na alocação das ofertas do que os estrangeiros. Isso é um fator novo. Dito isso, com o aumento de estrangeiros na alocação para o Brasil, essa tendência deve se equilibrar.

Olhando o atual pacote de privatização, há empresas que são mais atraentes?

O mercado de capitais está aberto. Hoje não há restrição de indústria. Da lista de 17 estatais, a sensação é que o tema de fusões e aquisições vai prevalecer e será mais relevante do que o mercado de capitais. Há ativos muitos interessantes – desde logística, processamento de dados, além de energia, que sem sombra de dúvidas atrairiam investidores globais e locais. É preciso saber como serão esses processos.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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