Por Luiz Guilherme Gerbelli, G1


A crise fiscal está amarrando a economia brasileira. Com orçamento do governo federal e de boa parte de Estados e municípios no vermelho, o país precisa concretizar um duro ajuste das contas públicas para conseguir estancar o aumento do seu endividamento e destravar investimentos públicos e privados.

O controle das contas públicas se tornou um ponto fundamental para garantir a confiança de investidores no Brasil. A trajetória da dívida bruta é analisada de perto pelas principais agências de classificação de risco. Em 2015, já com os primeiros sinais de piora, o Brasil perdeu o chamado grau de investimento, uma espécie de selo de bom pagador e que garante a chegada de novos e bons investimentos.

Ministro da Economia, Paulo Guedes, participa de debate na Câmara dos Deputados — Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

O ministro da Economia, Paulo Guedes, aposta, sobretudo, na aprovação da reforma da Previdência para resolver a maior parte do problema fiscal - a proposta prevê uma economia de R$ 1,2 trilhão em 10 anos. No entanto, segundo analistas ouvidos pelo G1, o governo está demorando demais para conseguir colocar a reforma de pé. Quando a proposta foi apresentada, a equipe econômica esperava que a aprovação ocorresse ainda neste primeiro semestre, mas o debate ainda está na comissão especial da Câmara dos Deputados.

"Eu diria que a tendência é que reformas importantes para a economia ainda avancem, mas em ritmo mais lento", diz o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.

Para este ano, o governo trabalha com uma meta de déficit primário de R$ 139 bilhões. Será o sexto ano seguido de rombo nas contas públicas – desde 2014, o país não registra superávit primário, ou seja, não sobra dinheiro, depois de pagar as despesas, para pagar os juros da dívida do governo.

"O resultado primário vai demorar para ficar positivo", diz o diretor-executivo da IFI, Felipe Salto. "A nossa projeção indica que um superávit só deve ocorrer em 2026", afirma Salto. A dívida bruta também vai subir e deve chegar a quase 80% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano.

Um levantamento do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV) revela como esse quadro de pouca previsibilidade está predominando na economia brasileira. Em abril, o Indicador de Incerteza da Economia apurado pelo instituto chegou ao maior patamar desde setembro do ano passado.

"A incerteza em alta pode ser mais um fator de redução do crescimento", diz o superintendente de estatísticas públicas do Ibre/FGV, Aloisio Campelo.

O quadro de elevada incerteza afeta sobretudo os investimentos. Fragilizados, eles são considerados fundamentais para que a economia retome um crescimento vigoroso. Entre 2014 e 2016, no auge da crise econômica, os investimentos despencaram 30%, mostra um levantamento do banco UBS. De lá até o fim do ano passado, subiram só 6%.

Incerteza em alta — Foto: Roberta Jaworski/Arte G1

"Há uma grande incerteza com a economia brasileira desde 2014 porque o país não adotou as medidas necessárias para estabilizar a trajetória da política fiscal", diz o economista-chefe do banco UBS e ex-diretor do Banco Central, Tony Volpon. "Se não fizer nada, o país quebra e contrataremos uma crise em algum momento futuro."

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