Economistas melhoram expectativa para economia em 2019 e 2020 em pesquisa Focus

Especialistas passaram a ver crescimento do PIB de 0,83% em 2019 e de 2,20% em 2020

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São Paulo

A estimativa para o crescimento da economia brasileira registrou ligeira melhora na semana passada, de acordo com a pesquisa Focus do Banco Central divulgada nesta segunda-feira (19). O movimento destoa da piora verificada em vários indicadores no período, como câmbio, bolsa e juros.

A mediana das estimativas (projeção que está no meio da amostra) coletadas para o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) passou de 0,81% na pesquisa anterior para 0,83%.

Esse é melhor resultado nos últimos 40 dias e a primeira alta desde a pesquisa divulgada há quatro semanas, quando a projeção estava em 0,82%.

Para 2020, a projeção passou de 2,10% para 2,20%, retornando ao patamar de 5 de julho.

Os dados detalhados pelo BC mostram que a mediana das estimativas para o PIB deste ano mudou três vezes, para cima e para baixo, de 9 a 16 de agosto, de 0,81% a 0,83%.

Economistas ouvidos pela Folha afirmam não ser possível dizer que há uma tendência de melhora nas expectativas e que o momento é mais de estabilização das projeções em torno desse patamar.

A pesquisa Focus é feita em um sistema cujas projeções são atualizadas pelos próprios participantes. No último dia de apuração, sexta-feira (16), foram coletadas projeções para o PIB de 71 instituições, seis a menos do que na sexta anterior. Um dos motivos para a variação deste número é que o sistema só considera os dados informados nos últimos 30 dias.

Participam do levantamento, principalmente, bancos, gestores de recursos, distribuidoras e corretoras. Há ainda consultorias e outras empresas não-financeiras. Como as projeções individuais são sigilosas, não é possível saber qual a estimativa de cada participante.

Daniel Linger, estrategista da RB Investimentos, afirma que a melhora pode ter sido pontual e não significar uma tendência.

Para ele, os eventos da semana passada, como o recrudescimento da disputa comercial entre EUA e China e as mudanças nos cenários político e econômico na Argentina, contribuíram para reforçar a expectativa de desaceleração da economia mundial, o que deve afetar também o Brasil.

“Mesmo que a agenda de reformas macro e microeconômica esteja avançando, o Brasil não é uma ilha. Não estou vendo sinais ainda de recessão mundial, mas está claro que vai ter uma desaceleração”, afirma Linger.

O economista diz que um crescimento da ordem de 0,80% para 2019 pode ser considerado um cenário otimista para o país. Para ele, a recuperação vai depender da melhora na confiança dos empresários e da retomada dos investimentos, algo que não vai ocorrer apenas por conta da redução dos juros no Brasil e que pode ser afetado pela piora no cenário externo.

“No primeiro trimestre, [o PIB] caiu 0,2%. No segundo, fechar no zero a zero é um cenário otimista. Já estamos no final de agosto e, até agora, não teve nada mostrando recuperação. Só temos quatro meses para salvar o ano”, diz o estrategista da RB Investimentos.

Veja a evolução das projeções para o PIB.

O economista Luis Otavio Leal, do banco ABC Brasil, afirma que a pesquisa Focus tem uma certa defasagem, mas que o fato de as estimativas terem se estabilizado pouco acima de 0,80%, após um período de 20 semanas de piora, já reflete uma mudança de expectativas após a aprovação da Previdência e o anúncio de liberação do FGTS.

“O mercado está muito influenciado pelo que está acontecendo nessas últimas duas semanas. O pessimismo vem principalmente da questão da Argentina. O que vejo nesse momento é que está tendo muita marola, muita espuma, para pouca substância”, afirma Leal.

O economista espera crescimento de 0,80% para 2019, mas está mais otimista do que a mediana para 2020, com projeção de 2,5%. “Se não tivesse tido essas duas semanas de volatilidade lá fora, com certeza o Focus, em setembro, estaria marcando 2,5% de crescimento para o ano que vem.”

Marco Tulli Siqueira, chefe da mesa de operações da corretora Coinvalores, também afirma que o mercado já havia feito ajustes nas projeções para o PIB, depois de uma sequência de quedas, e que a volatilidade dos mercados na semana passada não é motivo para uma alteração imediata para baixo nas estimativas.

“Não afetou de bate pronto esse tipo de projeção. É uma coisa muito pontual. Ainda pode ter um ajuste um pouquinho melhor, mas no final do ano não cresce 1%”, afirma Siqueira.

A pesquisa Focus também mostrou queda na mediana das estimativas de inflação para 2019, de 3,76% para 3,71%, e manutenção para 2020 em 3,9%.

Para a taxa básica de juros, foram mantidas as estimativas de queda da Selic dos atuais 6% para 5% ao ano até dezembro de 2019 e de aumento para 5,5% ao ano até o final de 2020.

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