FCA espera crescer acima da média na América Latina
Filosa, presidente da FCA Latam: bons resultados na região justificam investimentos
Apesar dos ventos contrários na maior parte da região, a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) conseguiu fechar 2019 com alta de participação e lucros na América Latina, com o Brasil compensando a queda de vendas dos demais mercados sul-americanos. Antonio Filosa, presidente da FCA Latam, projeta fazer o mesmo em 2020.
“O mercado dever ter desempenho fraco na América Latina este ano, prevemos [avanço] de 1,5%, algo em torno de 4,2 milhões de veículos [leves], e o Brasil deve ser o motor do crescimento na região, com 6% este ano, para perto de 2,8 milhões de unidades, mas nós deveremos crescer mais, de 7% a 9%”, estima Antonio Filosa. |
O presidente da FCA Latam acrescenta que a empresa projeta nova queda do mercado argentino em 2020, com retração de 10% a 15% sobre 2019, para menos de 400 mil veículos, enquanto nos demais países da região “devem ficar estacionados”.
Para o executivo, juros baixos e ampla disponibilidade de crédito vão continuar a impulsionar o mercado brasileiro, especialmente o segmento de vendas diretas para pequenas e médias empresas, onde a inadimplência é muito baixa (cerca de 1%). Filosa avalia que as vendas de varejo, nas concessionárias, também devem crescer, mas em ritmo mais lento, “porque o aumento do consumo das famílias depende fundamentalmente da redução dos níveis de desemprego, que estão caindo, mas devagar”, avalia.
BONS RESULTADOS NA AMÉRICA LATINA |
Filosa destacou que, no balanço de 2019 divulgado semana passada pela FCA, a América Latina registrou o segundo melhor resultado da companhia no mundo, perdendo apenas para o desempenho da América do Norte (Nafta). Apesar de o faturamento de € 8,4 bilhões na região ter crescido apenas 4% em relação a 2018 – e de significar menos de 8% da receita global de € 108 bilhões –, o lucro antes de impostos e juros (Ebit) de € 501 milhões, com margem de 5,9%, cresceu 40% na comparação com o ano anterior.
“Perdemos dinheiro em anos recentes com a crise, mas com boas estratégias conseguimos voltar à rentabilidade na região nos últimos três anos”, diz o presidente da FCA Latam.
A FCA vendeu 577 mil veículos na América Latina no ano passado, em queda de 8% sobre 2018, mas sua participação nas vendas totais da região subiu para 14%. O crescimento de 14,5% no Brasil (contando o avanço combinado de 12,4% da Fiat e 21% da Jeep), com 496.663 veículos vendidos, compensou as quedas nos demais países sul-americanos.
As duas principais marcas do grupo obtiveram ganho de 1,1 ponto porcentual de market share no mercado brasileiro, sendo 0,6 ponto da Fiat (366,1 mil unidades emplacadas), que subiu a 13,8%, e 0,5 da Jeep (129,4 mil), para quase 5%, somando 18,7%.
INVESTIMENTOS E AUMENTO DA PRODUÇÃO |
Segundo ressalta Filosa, “os bons resultados obtidos até agora justificam os investimentos na região”. A FCA administra atualmente programa que prevê aportes na operação brasileira de R$ 14 bilhões entre 2018 e 2024. Os recursos estão sendo direcionados em partes iguais de R$ 7,5 bilhões para o Polo Automotivo Fiat em Betim (MG) e o Polo Automotivo Jeep em Goiana (PE), onde parte do investimento é feito pelos fornecedores.
Betim investe grande parte dos recursos em novos produtos, vai produzir três carros completamente novos, a nova picape compacta Strada a partir de março e dois SUVs em 2021, o que deve elevar a produção da fábrica para o nível considerado “ótimo” por Filosa, para perto de 450 mil unidades/ano. Em 2019, com operação em dois turnos, este número foi de 390 mil – a planta sofreu com a redução das exportações para a Argentina, onde a Fiat tem participação de 14% – e a estimativa é de 400 mil este ano. Mas existe capacidade para muito mais: 600 mil/ano.
A fábrica de powertrain dentro do complexo industrial de Betim também recebe parte considerável dos investimentos e já opera a todo vapor, em três turnos, inclusive aos sábados. Este ano a unidade deve produzir 1,1 milhão de motores e transmissões, incluindo 280 mil motores aspirados que serão exportados para plantas da FCA na Europa. Até o fim deste ano fica pronta a nova linha de produção dos novos propulsores turbo 1.0 e 1.3, que adicionam capacidade de 200 mil unidades/ano à planta, que foi escolhida pelo grupo como polo exportador global desses modelos.
Em Pernambuco a produção em três turnos dos Jeep Renegade e Compass e da picape Fiat Toro segue em crescimento ano a ano, na casa de mil veículos por dia. Em 2019 a planta de Goiana produziu 220 mil unidades e este ano deve chegar a 250 mil, sua capacidade máxima. Em 2021 um quarto modelo entra na linha pernambucana, um novo SUV Jeep de sete assentos, que segundo Filosa foi projetado no Brasil e “ficou tão bom que será produzido em outros lugares do mundo” pelo grupo.
FUSÃO COM A PSA |
A fusão entre FCA e PSA confirmada no fim de 2019 deverá provocar um rearranjo das operações das duas empresas dm todo o mundo, mas Filosa afirma que o processo de união deve ser executado até o fim deste ano e “até lá nada muda, ficamos como estamos, continuamos tocando nossos planos”.
O executivo reconhece que, com exceção da América do Norte, onde só a FCA tem presença hoje, “existem muitas possibilidades de sinergias entre as duas empresas, principalmente nas regiões da América Latina e Europa, na Ásia-Pacífico as duas poderão unir forças para crescer com planos conjuntos”, avalia.